Cheias e riscos
Alguma chuva é suficiente para que nestas páginas surjam notícias de inundações e outras ocorrências associadas. Não estamos, obviamente, a considerar as cheias do Tejo. Estas, previsíveis e bem geridas, desde sempre, pelas populações.Falamos de episódios pouco previsíveis, cada vez mais comuns, a que chamamos riscos naturais, às vezes acontecimentos catastróficos. Os riscos naturais são cada vez menos naturais e cada vez mais induzidos pelos erros humanos e pela ausência de uma política de ordenamento do território que considere os factores geológicos e climáticos. Isto é, a componente induzida pelas diferentes intervenções do homem (estradas, urbanizações, barragens, diques, desflorestação, agricultura, etc.) é bastante significativa.Contrariamente ao que se possa imaginar, no futuro o panorama não será mais animador, antes pelo contrário.Todos os anos os números falam por si, prejuízos económicos são incalculáveis e o número de vitimas assustador. A explosão demográfica leva à ocupação de zonas de grande sensibilidade ambiental e de maior perigosidade. Em consequência, os desastres sucedem-se. Na generalidade só há uma coisa a fazer: prevenir. Em Portugal o principal “risco natural” é a ignorância e a falta de aplicação do conhecimento existente.Estudar e intervir atempadamente, planificando e gerindo as diferentes perigosidades naturais provocadas por intervenções aleatórias e fundamentadas em bases meramente económicas, deve ser o papel de quem nos governa a nível nacional e local. É isso que esperamos. Ao nível local, a oportunidade de revisão dos Planos Diretores Municipais (PDM) não deve ser perdida sob pena de não se dar o passo qualitativo que se exige.Os custos da ignorância ou da falta de aplicação do conhecimento geológico são enormes e o impacto social perante a impotência face ao imprevisível é grave.Entretanto, as chamadas cheias urbanas são das ocorrências mais comuns. O que deve fazer quem vive numa zona de cheia? i.conhecer o historial de cheias passadas na área onde reside (ouça os mais idosos); ii. identificar os lugares elevados onde se pode refugiar e que estejam o mais perto possível de casa ou do emprego; iii. ter um plano de evacuação, designadamente, uma pequena lista dos objetos importantes (nunca esqueça o cão, o gato ou as galinhas); iv. fazer um seguro de casa e do seu recheio; v. verificar e acautelar gás e eletricidade; vi. ter sempre em casa uma reserva de água potável para dois ou três dias e alimentos que não se estraguem; vii. manter limpos os algerozes, valas, zonas de drenagem e escoamento da água, principalmente no outono, devido à queda de folhas.Como sempre, cada um apenas tem de fazer o que deve.Carlos A Cupetocupeto@uevora.pt, professor na Universidade de Évora
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