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“Ainda estranho quando alguém me trata por presidente”

“Ainda estranho quando alguém me trata por presidente”

Luís Emílio Duarte, 51 anos, presidente da Junta de Freguesia de Pernes

Em pequeno intrigava-se e ficava curioso quando ouvia falar de política. Cedo despertou para as causas cívicas e na juventude começou a estar ligado ao associativismo. Luís Emílio Duarte queria ser contabilista e o sonho concretizou-se. Paralelamente à actividade profissional é presidente da junta de freguesia de Pernes, vila onde nasceu e reside até aos dias de hoje. Ser feliz é o lema de vida pelo qual batalha diariamente, sempre com o apoio da família.

Quando eu era criança e adolescente o meu pai tinha uma casa de pasto. Nessa altura contactava com muita gente. Brincava, andava de carrinho de rolamentos. Entrei para a escola primária em Pernes numa altura em que as turmas eram separadas. Meninas para um lado e meninos para o outro. Tive duas professoras. A professora Mariana e a professora Vitória. Era um aluno calmo mas, mais tarde, na altura da telescola já era rebelde.A poluição do Alviela impressiona-me desde criança porque já nessa altura se viam peixes mortos a boiar. Eu e os meus amigos salvámos muitos peixes naquele período. Íamos com baldes e levávamo-los para tanques e poços. Naquela altura o Mouchão Parque era o único parque infantil que existia na freguesia e toda a criançada afluía ao local para andar de baloiço e escorrega.Antes do 25 de Abril, em minha casa, falava-se de política em eventos familiares como festas de aniversário ou Natal. Eram conversas para não saírem dali, porque havia a polícia política. Eu era uma criança muito curiosa e queria saber tudo. Interrogava muitas vezes o meu pai. Tinha 11 anos quando ocorreu a revolução. A minha primeira profissão foi torneiro de madeiras por volta dos 18 anos. Em Pernes havia muita necessidade de mão de obra e em crianças nas férias escolares ocupávamos parte das férias a trabalhar nas oficinas de torneados. Quando houve uma paragem nos estudos, após o 1º ano na Escola Industrial e Comercial de Santarém fui trabalhar para uma dessas oficinas. Depois fui para a tropa onde só permaneci seis meses. Passei à reserva por ter bronquite asmática. A vida militar não me dizia nada, mas foi uma experiência. Depois retomei os estudos na Escola Superior de Gestão de Santarém. Gestão de empresas mas não concluí.Queria ser contabilista e isso acabou por acontecer. Poder entrar naquele mundo das pastas de arquivo e das contas fascinava-me. Actualmente concilio a actividade autárquica com a actividade profissional. Tento desempenhar na íntegra os dois papéis. A nossa freguesia é uma freguesia pequena, com muitos problemas, mas não nos podemos dar ao luxo de meios tempos ou tempos inteiros. Estamos com a camisola vestida da junta a partir da altura em que despirmos a camisola da nossa profissão.Mantenho ligação com o movimento associativo. Em jovem participei na criação da Associação Cultural e Desportiva de Pernes. Éramos um grupo na casa dos 17/20 anos e criamos a ACDP, que teve vida efémera, mas que nesse espaço fez trabalho diferente. Daí foi um passo para entrar na Música Velha, passar pelos Bombeiros e pela Santa Casa da Misericórdia. Actualmente contínuo na Música Velha, sou secretário da Caixa Agrícola de Pernes da mesa da Assembleia Geral, sou presidente da Assembleia Geral da Associação de Pais e Encarregados de Educação e colaboro também com o Atlético Clube de Pernes, onde sou director desportivo da equipa de juvenis. Pratiquei futebol até aos seniores. Sou benfiquista mas o futebol hoje em dia já me diz menos do que há anos atrás. Tive uma experiência no teatro pelos 19 ou 20 anos, mas foi uma coisa efémera. Gosto de fazer caminhadas com a minha esposa, mas há seis meses que não consigo tempo para o fazer. Espero que seja uma coisa transitória.Sou um político de trazer por casa. O meu percurso começou na União dos Estudantes Comunistas (UEC) após o 25 de Abril. Comigo esteve também, entre outros, o actual presidente da Assembleia Municipal da Chamusca, Francisco Velez. Estive na constituição da JCP. No início da década de 1980 comecei a afastar-me do Partido Comunista por causa da repressão do Sindicato Solidariedade na Polónia. Há cerca de 12 anos fui convidado para integrar as listas do Partido Socialista e envolvi-me na causa. O Mário Soares é uma referência para mim por tudo o que fez pelo país e pela democracia. Com a vantagem da sua mãe ser de Pernes.Quando me chamam presidente normalmente rio-me por dentro. No fim de contas o que eu sinto é que sou a mesma pessoa, simplesmente pelo dever de cidadania cumpro aquele papel. As pessoas em Pernes têm um bom relacionamento comigo e sabem que eu sou e serei sempre o Luís Emílio. Mas ser presidente de junta é sinónimo de trabalho e responsabilidade. Gosto de Pernes e sou pernense com orgulho. Vou todos os dias à junta de freguesia. É uma rotina. Saio da Caixa Agrícola e passo pela junta. Às vezes vou mais que uma vez. Às vezes no intervalo do café das 10 da manhã também passo por lá para ver se há novidades. Em Pernes faz muita falta a habitação e o emprego.Tudo o que fiz tem por base a família. Sou casado há 20 anos e tenho três filhos, com 18, 16 e 11 anos. Conheci a minha esposa ainda ela estava no berço. Antes de eu entrar para a escola primária o meu pai, para me preparar para a escola, um ano antes, pôs-me na explicação numa tia da minha esposa para aprender a ler e a escrever e nessa altura ela ainda era uma bebezinha. Os meus filhos e a minha esposa apoiam-me sempre. O mais novo é aquele que talvez expresse mais esse sentimento de contentamento. O meu lema passa por ser feliz. Sou um pai e um marido orgulhoso da minha família.Andreia Montez
“Ainda estranho quando alguém me trata por presidente”

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