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Há muitos empresários tauromáquicos sem escrúpulos

Há muitos empresários tauromáquicos sem escrúpulos

José Manuel Rainho, director da Escola de Toureio José Falcão de Vila Franca de Xira, considera que deve haver mais fiscalização

O director da escola de toureio José Falcão de Vila Franca de Xira, José Manuel Rainho, considera que há lóbis políticos e empresariais empenhados em acabarem com a tauromaquia. Mas avisa que os perigos não vêm só de fora. No meio taurino, revela, há muitos empresários sem escrúpulos e outros que prometem muito mas acabam por fazer grandes vigarices. Rainho confessa-se triste por não haver trabalho para a maioria dos matadores de Vila Franca.

O director da escola de toureio José Falcão de Vila Franca de Xira e vice-presidente da Associação Espanhola de Escolas de Tauromaquia não tem dúvidas que há lóbis políticos e empresariais a fazerem pressão para acabarem com a tauromaquia. José Manuel Rainho diz mesmo que até com os “próprios empresários do meio taurino é preciso ter cuidado, são muitas vezes os mais perigosos”. E reconhece que muitas vezes aparecem no meio taurino empresários “pára-quedistas” que prometem grandes eventos e acabam a fazer grandes vigarices. “Dão cabo da imagem da festa brava e as associações que existem em Portugal têm a responsabilidade de fiscalizar mais essas situações”, defende. Para José Rainho, os políticos “gostam pouco de dar a cara” pelas actividades taurinas mas elogia a postura do município de Vila Franca de Xira que não tem tido receio de defender a festa brava. Garante que os anti-taurinos não o chateiam mas defende que a tauromaquia tem de zelar por si própria. “Às vezes os anti-taurinos são incorrectos e são sempre indesejáveis, mas como vivemos em democracia cada um tem o direito a manifestar a sua opinião desde que respeite o próximo”, nota.José Rainho, 51 anos, diz que há poucas corridas mistas que juntem cavaleiros e matadores de toiros porque os empresários tauromáquicos são adversos ao risco e queixam-se de perder dinheiro com o toureio a pé. Situação que gostava de ver invertida. Na opinião do dirigente, mais do que a crise económica que afasta o público das praças, o que falta é melhores figuras do toureio para atrair espectadores. “Os cartéis estão muito repetidos. Admira-me como ainda há pessoas que vão tantas vezes aos toiros. Repete-se a mesma coisa em praças diferentes porque as figuras do toureio a cavalo em Portugal já têm 30 anos de alternativa e os novos cavaleiros não conseguem imprimir nada de novo. Não trazem emoção. Hoje em dia toureia-se muito bem mas é quase tudo igual. Não há a verdade de antigamente”, considera José Manuel Rainho. Que sublinha que os espanhóis estão mais organizados na defesa da festa brava que os portugueses.“Hoje em dia temos nas províncias portuguesas corridas feitas em praças amovíveis onde há muitos empresários sem escrúpulos. Era importante que a associação dos empresários tauromáquicos regulasse esse mercado”, opina. Adepto dos toiros de morte, José Rainho admite que dificilmente o Estado voltará a permitir que o toiro morra na arena como fez numa situação especial para Barrancos. Um aficionado apaixonado pelo flamencoNascido a 23 de Março de 1962, José Manuel Rainho é natural de Estremoz mas vive em Vila Franca de Xira desde os cinco anos. É comercial numa empresa da qual é sócio, vendendo equipamentos para matadouros, salas de desmancha de carne e salsicharias. Está no ramo há 20 anos. É um rosto conhecido no meio tauromáquico de Vila Franca e um espectador assíduo das corridas.Tenta sempre fazer uma vida “normal”: No Verão vai à praia, gosta de ir ao cinema quando tem tempo mas como passa as semanas na estrada gosta de ficar em casa ao fim-de-semana, quando não há corridas de toiros. Gosta de fado e de flamenco, sobretudo de Vicente Amigo, Camarón de La Isla e Paco de Lucia. Faz umas churrascadas em casa mas é no Clube Taurino de Vila Franca que se junta com os amigos para falar de touros e futebol.Gostava de ir ao México ou à Colômbia assistir a corridas de toiros. Está ligado à escola de toureio José Falcão desde 1988 mas a partir do ano 2000 assumiu praticamente sozinho a direcção da escola. É um homem que faz tudo o que for preciso na escola para que esta mantenha a sua actividade. Inscreveu a escola na Federação Internacional de Escolas Taurinas e quando este organismo foi extinto dando lugar à Associação Espanhola de Escolas de Tauromaquia foi eleito como vice-presidente da associação. Diz que o antigo matador que dá nome à escola, José Falcão, teria ficado orgulhoso do papel que a escola desenvolve ao levar mais longe o nome de Vila Franca.“O MIRANTE faz um bom trabalho na divulgação da tauromaquia”Na opinião do director da escola de toureio José Falcão, O MIRANTE faz um bom trabalho na divulgação da tauromaquia na região. “Sobretudo quando comparado com os restantes jornais que divulgam zero”, nota. Para o responsável a região do Ribatejo é das mais ricas no país no que toca a ganadarias e toureiros e por isso “é importante haver um jornal que acompanha e fala da festa”.Novo matador da Escola José Falcão este ano A escola de toureio José Falcão tem recebido nos últimos meses uma maior procura de jovens que querem aprender a tourear. Numa altura em que a escola celebra 30 anos. São hoje 17 jovens, com idades entre os 7 e os 17 anos, que estão a treinar para se formar como matadores. José Rainho acredita que este ano Vila Franca terá um novo matador - Manuel Dias Lopes - que deverá tirar a alternativa em breve. “Um matador de toiros não sai debaixo de uma pedra. Demora anos a formar-se. Como em Portugal não se matam os toiros temos de emigrar para o fazer. Esta é uma profissão muito difícil, alguns ficam pelo caminho, não têm talento. Outros ficam como bandarilheiros”, explica. O director da escola admite que nem sempre é fácil ficar “órfão dos alunos” quando estes arranjam um apoderado e a carreira se torna mais séria. Mas confessa-se triste por ver matadores com pouco trabalho. “Matadores como o António João Ferreira, que faz duas corridas por ano e quase por favor, mereciam muito mais. Se a maioria pudesse ir para fora do país isso era o melhor. Deviam ser mais apoiados”, vinca.Hoje em dia a escola é também um porto de abrigo para vários jovens com problemas familiares, alguns oriundos dos bairros mais problemáticos de Vila Franca, que encontram na festa brava uma forma de escapar às agruras da vida. “Nem todos podem ser matadores de toiros, mas todos podem ser aficionados e boas pessoas. O mais importante no mundo é as pessoas terem bons valores. E é sobretudo isso que ensinamos”, conclui. A escola tem um orçamento anual de 60 mil euros.Museu da tauromaquia de Vila Franca já devia estar feitoPara José Rainho, Vila Franca de Xira “já deveria ter um museu taurino de categoria”. Vila Franca teve muitos matadores e toureiros, por isso se chamava a Sevilha portuguesa. “Chegou a ter matadores espanhóis e mexicanos na sua praça. Quanto mais actividades tauromáquicas existirem melhor, desde que sejam bem feitas. Ter muita coisa sem nível não interessa”, nota. Na opinião de José Rainho não faz sentido realizar corridas de touros em praças desmontáveis na Póvoa de Santa Iria e em Alhandra quando existe a praça de Vila Franca de Xira. “Mais valia dar nessas cidades sem praça um espectáculo de promoção, com jovens e alunos das escolas, porque essa gente tem de tourear e ser promovida para serem os futuros toureiros do país”, vinca.
Há muitos empresários tauromáquicos sem escrúpulos

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