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“Há muitos cabeleireiros mas há poucos profissionais”

“Há muitos cabeleireiros mas há poucos profissionais”

Fábio Alexandre Silva, 33 anos, cabeleireiro, Póvoa de Santa Iria
Nasci em Vila Franca de Xira no dia de Nossa Senhora de Fátima, 13 de Maio. Sou de famílias humildes de pescadores. Os meus pais emigraram para o Brasil quando eu tinha um ano. Passei quase toda a minha infância no Recife. Fala-se muito de crise mas essa palavra já é usada em Portugal há muitos anos. Nas férias da escola tentava sempre vir a Portugal e houve uma altura em que decidi ficar por cá. Tinha 17 anos.Os pescadores são muito unidos e isso ajudou-me imenso, senti-me em casa. Comecei a interessar-me pelas artes da pesca. Convivia muito com os meus tios e os meus primos, que são de Alhandra, são pessoas muito humildes e gostei muito. Foi logo uma paixão, senti-me bem junto deles, eram pessoas de poucas posses mas com um grande espírito de união e amizade, apesar das dificuldades e dos poucos apoios que recebiam. A pesca era muito dura e comecei a procurar alternativas. Ingressei no serviço militar, foi aí que aprendi a cortar cabelo. Estive seis anos na barbearia do exército. Estive em Beja, tirei o curso especial de atirador, em Mafra tirei o curso de cabo e depois estive em Vila Real.Passei oito meses em Timor Leste ao serviço das Nações Unidas. Foi fantástico e enriquecedor conviver com o povo timorense. O nosso trabalho era sobretudo humanitário mas também fazíamos segurança. Chegámos a apreender armas caseiras mas foi tudo muito pacífico. Cheguei a contactar com o Xanana Gusmão e tomei café com o Ramos Horta, ele era chefe da aldeia onde estávamos. Foi ele que pagou o café (risos). Meti os papéis para ir para a Bósnia mas acabei por ficar como cabeleireiro. Ao fim de quatro anos decidi sair, fazia-se sempre o mesmo. Precisava de algo mais. Comecei a investir em mim, ia a congressos no estrangeiro, formações, tentar aprender novas técnicas e a frequentar essas formações. Em todo o lado temos de estar sempre a evoluir. Quem não evolui fica para trás. Em todas as áreas a evolução é fundamental para o sucesso. Sou uma pessoa muito grata pelo que tenho. Por ser de famílias humildes sei dar o valor ao que a vida nos dá. Felizmente as coisas têm corrido bem e tenho tido sorte nos sítios por onde vou passando. Um amigo da carreira militar abriu um salão em Alcochete e foi aí que comecei a trabalhar. Mais tarde abriu um “Hair Fashion” no Montijo e outro aqui na Póvoa de Santa Iria. Como este salão ficava perto da minha casa decidi ficar com a totalidade desta loja. Abrimos em Agosto de 2008. Não tem sido fácil mas tenho tido sorte, as pessoas têm gostado do trabalho e têm vindo cá com frequência. É um espaço para o neto, o filho e o avô.Há muitos cabeleireiros “low-cost” mas profissionais há muito poucos. Há uma falta de valorização da profissão. É uma falta de respeito fazer um corte a 4 ou 5 euros. Quem pratica um preço desses não ganha sequer para as lâminas de corte, a menos que não use uma lâmina para cada cliente. Aqui mudamos sempre a lâmina. Estive vários anos a investir em mim para fazer um bom trabalho. Para fazer um corte a 4 euros prefiro fazer uma troca: o corte por dois litros de azeite, por exemplo.É agradável ver o cliente sair satisfeito com o nosso trabalho. Há uma ligação muito grande com os clientes, somos um espaço familiar e agradável. Com a crise nota-se que muita gente tem ido embora da região e do país, sobretudo jovens, mas no meu caso felizmente estou grato por ter muito trabalho. Gostava de abrir mais salões, o ser humano quer sempre mais. Mas neste momento estou focado em manter o Hair Fashion aberto e a funcionar bem, porque mais vale uma casa a trabalhar bem do que duas casas a trabalhar mal. Não vou dar um passo maior que a perna. Quero agradar aos clientes que tenho mas também arranjar condições para depois evoluir.Filipe Matias
“Há muitos cabeleireiros mas há poucos profissionais”

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