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Não houve inteligência do PSD ao romper o acordo com o PS na Câmara de Vila Franca

Não houve inteligência do PSD ao romper o acordo com o PS na Câmara de Vila Franca

Renato Rosinha, 40 anos, é militante do PSD desde jovem. Quando a mãe, Maria da Luz Rosinha, assumiu a presidência da Câmara de Vila Franca de Xira pelo PS, deixou de ter uma participação activa na política, que só retomou quando soube que ela já não se podia recandidatar ao cargo. Técnico oficial de contas, trabalha em duas empresas. Uma fundada pelo pai em Vila Franca e outra que criou em Lisboa e que também se dedica à consultoria, a Renato Rosinha e Associados. Renato, que gosta de touradas e costuma fazer a viagem entre Lisboa e Vila Franca de comboio, aproveita o tempo disponível para se dedicar à família. Pratica vela de cruzeiro quando pode. Nesta entrevista fala do concelho e de política considerando que o PSD teve uma oportunidade nas últimas eleições de ganhar a câmara mas não soube ter uma estratégia. E conclui que a ruptura no mandato passado entre os vereadores do PSD que tinham pelouros e o PS, que geria a câmara, foi uma má opção.

Fez parte de uma lista que tinha o objectivo de renovar o PSD de Vila Franca. O que aconteceu para perder as eleições?Os militantes aderiram em número significativo. Houve dos apoiantes da nossa lista uma grande generosidade, porque por sua iniciativa reactivaram a filiação pagando as quotas. Mas verificou-se a nível do distrito um fenómeno de mobilização extraordinária por parte das estruturas. Está a dizer que andaram a pagar quotas para os militantes irem votar na lista da continuidade?Não posso afirmar cabalmente isso. Mas verifica-se que houve uma participação massiva de pessoas que em nenhum outro momento participam na vida do partido. Essas pessoas que têm todo o direito de participar na vida do partido optam por fazê-lo nas eleições internas. Bom era que se mobilizassem noutras alturas. Por que é que o PSD local precisa de renovação?O PSD de Vila Franca e a nível nacional precisa de mais participação. E se esta existir a renovação é um processo natural. Mas isto estende-se a todo o espectro partidário. Assistimos na comunicação social à repetição dos protagonistas, o que nos faz pensar que há um défice de participação que devia ser combatido. Também parece ter falhado a comunicação, o marketing político na vossa lista. Não tivemos tempo para preparar uma campanha. O que se fez resultou da generosidade das pessoas e do sobressalto de consciências que houve face aos maus resultados que o PSD teve nas eleições autárquicas. Em menos de um mês as pessoas juntaram-se e ultrapassaram até divergências entre si a bem de um objectivo que era a renovação do partido. Colocámos a hipótese de haver um debate entre líderes e não foi possível. Estamos conformados mas confiantes que com a participação de todos se poderá chegar a bom porto. Em 2012 retiraram-lhe a confiança política na sequência de um conflito entre o PS e o PSD, que tinham um acordo na câmara, que levou os vereadores do PSD a ficarem sem pelouros. Como encarou a acusação que lhe foi feita de ter passado informações privilegiadas à presidente da câmara e sua mãe?Com estupefacção e profunda tristeza por verificar que o partido em que milito desde a adolescência tomou essa a posição, embora com um número reduzido de pessoas.Pensou desfiliar-se do PSD?Sempre vivi num ambiente muito politizado em que as questões e as políticas são debatidas. Para mim é muito natural o debate político e a diferença de opinião, sem que isso signifique que haja divergências irreconciliáveis. Foi uma tentativa de linchamento político?Foi uma tentativa de silenciar uma opinião que não era igual à das duas ou três pessoas que tomaram essa iniciativa. Claramente tentou-se silenciar um debate interno. Preferia que os vereadores do seu partido continuassem com pelouros numa câmara gerida pelo PS?Quando alguém integra uma lista e se candidata a uma posição de vereador e é chamado à função executiva deve fazê-lo em consciência e de acordo com aquilo que o motivou originalmente. Mas também deve tentar ser consequente e tentar chegar ao fim do mandato com trabalho realizado. A única possibilidade que o PSD terá de se afirmar no concelho será através do trabalho. O seu partido na altura não devia ter partido para a ruptura?Distingo o que é o debate político puro e o que são as questões de gestão do município. Os nossos vereadores tinham pelouros e não me parece que fossem impossibilitados de mostrar trabalho por impedimentos ou estratégias políticas. Se o eram também nunca transmitiram essas dificuldades. Não me parece que tenha havido na altura inteligência por parte do PSD na ruptura do acordo. Ficámos prejudicados. João de Carvalho não devia ter alinhado com os colegas e mantido o pelouro?Ele agiu de acordo com o que acreditou ser melhor. Mas não devia ter deitado a perder o esforço de todos os que tinham votado no PSD. Ao romperem o acordo ficou uma imagem de conflito e irracionalidade que só prejudicou o partido. O protagonismo que o vereador Rui Rei quis ter no mandato passado contribuiu para a guerra política com o PS?Rui Rei tem uma maneira muito própria de fazer política e afirmar o seu discurso. Nem sempre concordo com a forma, embora por vezes reconheça algum mérito na pertinência. Mas em política quando queremos ser consequentes temos que saber negociar, relacionarmo-nos e sobretudo não podermos acreditar que é através de um conflito permanente que vamos chegar a qualquer solução, melhor ou pior. Já perdoou ao Gonçalo Xufre, que na altura era o líder da concelhia?Não tinha que o fazer. Não voltámos a falar desde essa altura sobre o assunto. Também não guardo ressentimentos. Não acho importante pedir-lhe justificações. Ele próprio poderá ter-se arrependido até porque pouco depois afastou-se ou foi afastado da concelhia num processo que não ficou claro para a generalidade dos militantes. Não me parece que se possa orgulhar da estratégia que teve no seu mandato. As últimas eleições, já sem Maria da Luz Rosinha, teriam sido a grande oportunidade de o PSD ganhar a câmara?O João de Carvalho (na altura candidato) ficou fragilizado quando deixou de ser vereador da Cultura, porque deixou de ter exposição e capacidade de demonstrar competência que fosse reconhecida pelo eleitorado. A situação nacional também não contribuiu. Faltou estratégia e discernimento na condução do processo. Haverá mais oportunidades como esta?Oportunidades haverá. Certamente estamos mais longe. A saída da presidente deixava um espaço emocional aberto no eleitorado e que foi preenchido pela subida da CDU. “Pensava que seria um mamarracho mas o Museu do Neo-Realismo foi uma agradável surpresa”Quando vem para Vila Franca o que é que não gosta de ver?Não há nada que me irrite particularmente. Continuo a vir com alegria para Vila Franca porque reconheço que a cidade tem ainda muitas das características de vila, em que as pessoas se conhecem, em que há convívio. Coisas que não se encontram facilmente em Lisboa. Não o entristece o aspecto degradado do centro da cidade?Essa é uma discussão que pode haver no campo político. E que tem a ver com a capacidade de intervenção das entidades públicas no domínio privado. Não me parece razoável que uma comunidade possa viver geração após geração a olhar para o que alguns ou entenderam abandonar ou não têm condições para reabilitar. A verdade é que isso condiciona a vida de todos. Defende uma actuação mais autoritária das entidades?Defendo que existam mecanismos que salvaguardem os interesses públicos e privados. Significa certamente um esforço financeiro mas acredito que o retorno será maior porque todos gostamos de visitar localidades onde as casas estão reabilitadas, onde as paredes estão caiadas.Quem é o culpado do desordenamento urbanístico em algumas partes do concelho, como em Alverca?Há algum caos urbanístico que tem origem na nossa cultura individualista e de gestão ao momento. Não há tradição de se fazerem planos, que sejam debatidos. Sou defensor da propriedade privada mas a pulverização da propriedade privada leva a que, sem haver um plano estratégico, exista desordenamento. Tem o escritório ao lado do Vila Franca Centro. O seu encerramento foi uma perda para a cidade?É uma perda na medida em que alguns vilafranquenses tinham a sua actividade comercial nesse espaço. Mas a tendência em cidades como a de Vila Franca de Xira, actualmente, não é a de promoção de centros comerciais. O que gostava de ver naquele espaço?A centralização dos serviços municipais no centro comercial resolve dois problemas: o da dispersão dos serviços, que num único local e com melhores condições servem melhor o munícipe; e o problema de o edifício continuar fechado por muito tempo sem qualquer utilização. Não há outra solução?No contexto actual dificilmente haverá condições para que se instale no local uma actividade económica ou uma actividade imobiliária com sucesso comercial. O Museu do Neo-Realismo foi uma aposta ganha?Era um dos velhos do Restelo e quando vi as paredes de betão a serem feitas pensei que iriam fazer um mamarracho no meio da cidade. Acabada a obra foi uma surpresa muito agradável ver que se conseguiu erguer um marco de arquitectura e também da actividade cultural que veio potenciar.E que opinião tem sobre a construção da nova biblioteca?Quando se consegue aproveitar apoios comunitários para proporcionar mais condições à população, que sejam referências culturais e arquitectónicas, estamos a contribuir para um futuro melhor. Este investimento representa um marco significativo em termos arquitectónicos e resolve um problema que era o cadáver industrial da fábrica do arroz. Quando for inaugurado desvanecerão muitas das dúvidas que se têm hoje.Ter um cargo na câmara era uma incompatibilidade moralJá pensou candidatar-se a um cargo autárquico?O trabalho autárquico como o entendo e pelos exemplos que me foram sendo dados é muito nobre, muito exigente e que carece de condições pessoais, familiares e políticas muito particulares. Não é algo que tenha programado.Tendo a sua mãe sido presidente de câmara tinha facilidade em ter um cargo de nomeação. Para mim, e seguramente para a minha mãe, isso era sempre uma impossibilidade, uma incompatibilidade moral. Não quereríamos uma situação dessas. Nunca o faria nessas condições. Talvez seja difícil para algumas pessoas perceberem isso. Como é que um filho de uma militante e autarca do PS foi para PSD?A mãe tentou que o filho a acompanhasse quando era pequeno. Mas é importante dizer que o meu pai foi um dos fundadores do PPD/PSD. Foi uma questão espontânea. Os meus pais nunca me tentaram atrair para clubes, credos ou partidos. Sempre me deixaram livre para fazer opções.Havia discussões políticas em casa?Ainda hoje fazemos o debate político das grandes e das pequenas questões, mas sempre com um sorriso. É um disparate que as pessoas não consigam relacionar-se e entender-se por pensarem de forma diferente. A sua mãe não deve ter gostado de ter optado pelo PSD.Acho que deve ter ficado tranquila por ter feito a melhor opção (risos).Alguma vez a confrontou com alguma decisão que ela tenha tomado para o concelho?Nem sempre pais e filhos concordam com tudo, mas devemos respeitar e compreender as condições em que se tomam as decisões, seja no campo político, profissional ou pessoal. Tal como em sociedade, sem um profundo respeito pelo próximo é tudo muito mais complicado. Mas dava-lhe opiniões?Como qualquer munícipe, mas de uma forma que sentisse que não a estava a condicionar nas suas opções. Alguma vez a chamou a atenção para algum problema que precisasse de ser resolvido?Naturalmente e não pelo privilégio. Se tinha alguma situação cuja solução pudesse passar pela câmara, como um buraco na rua, falava no assunto. Mas não mais do que isso. A minha mãe sempre pautou a sua presidência por um contacto muito directo com a população e quando às vezes lhe transmitia alguma situação o recado já lhe tinha chegado.Sendo do PSD teria uma visão diferente da dela para o concelho.Há fundamentos na social-democracia e no socialismo que são comuns. Na gestão autárquica a maioria dos desafios e das causas são também comuns. Não entendo que a política partidária deva contaminar o trabalho de uma equipa numa câmara. Temos bons exemplos no país de autarcas do PS, do PSD ou do PCP. O que é que gostaria de ter visto concretizado? O ciclo da minha mãe à frente da câmara foi concluído com muitas realizações e faço uma avaliação positiva. A requalificação da zona ribeirinha e o novo hospital foram marcos significativos de um esforço diário de 16 anos de mandatos.
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