Todos os anos, em Janeiro, mais de duas dezenas de habitantes da aldeia do Pereiro, no concelho de Mação, juntam-se uma noite para cumprir uma tradição que já vem do tempo dos seus avós. Divididos em dois grupos, cada um com mais de dez pessoas, percorrem a aldeia cantando as Janeiras à porta das casas que ainda se encontram habitadas. Uma particularidade desta tradição é que cada grupo se encontra à porta de casas diferentes, na mesma rua, e cada um vai cantando uma quadra dos cânticos que são dedicados às almas dos falecidos da aldeia. Manda a tradição que os cânticos não sejam acompanhados por qualquer tipo de instrumento, só a voz de cada um dos participantes importa. Trata-se de uma iniciativa com uma carga religiosa muito grande uma vez que as “esmolas” oferecidas no decurso do cantar das Janeiras são depois entregues ao padre da terra para que, ao longo do ano, sejam rezadas missas pelas almas das pessoas da aldeia já falecidas. Uma tradição com mais de 100 anos, que, nos seus primórdios, era realizada apenas pelos rapazes solteiros “que andavam com os alforges porque naquele tempo as pessoas ofereciam produtos agrícolas (milho, feijão, batatas, azeite e carne de porco)”, recorda Amaro Marques Gaspar. Depois veio o tempo da guerra e não havia homens na aldeia para cantar as Janeiras. Foram as raparigas que continuaram a tradição. Hoje são homens, mulheres, crianças e adolescentes que tentam manter viva a tradição. Na noite de 18 de Janeiro o frio e a chuva não demoveram os cerca de 30 participantes para mais um cantar das Janeiras que, durante mais de duas horas, percorreu a aldeia do Pereiro. O dinheiro angariado servirá também para colocar um ar condicionado na casa mortuária. Margarida Serôdio