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O cante alentejano também se ouve no Cartaxo

O cante alentejano também se ouve no Cartaxo

Saíram do Alentejo na sua juventude para ganharem a vida na zona do Cartaxo, já lá vão muitos anos. Depois de uma vida de trabalho, os membros do Grupo Coral Alentejanos no Cartaxo matam saudades da região que os viu nascer cantando, convivendo e desfiando recordações.

Trouxeram o Alentejo consigo para o Ribatejo e cantam-no com alma. No Alentejo o cante alentejano ouvia-se no campo, na taberna, nos grupos recreativos. No Ribatejo chega pela voz do Grupo Coral Alentejanos no Cartaxo. Sem instrumentos musicais, são as vozes ainda marcadas pela pronúncia alentejana que encantam e mantêm a tradição das suas origens.O grupo coral, que traja a rigor, é composto por 13 elementos. Começaram por brincadeira, em Março do ano passado, na garagem de José Pimpão, 68 anos, natural de Évora, sempre motivados pelos petiscos, pelo bom vinho e pelas recordações da juventude num Alentejo que lhes deixa saudade. Actualmente, juntam-se todas as semanas para ensaiar na Sociedade Filarmónica Cartaxense.Foram António Borralho, a viver há 37 anos no Cartaxo e o mais jovem do grupo, com 63 anos, José Reboucho e Luís Penedo que “começaram nos petiscos e cantando umas cantiguinhas”, confidencia a O MIRANTE António Quintiliano, que apesar de estar há quatro décadas no Cartaxo conserva com orgulho a pronúncia alentejana.Todos têm mais de seis décadas de vida e mais de metade passada no Ribatejo, para onde vieram para trabalhar nas mais variadas profissões, como topógrafo, soldador, bancário, motorista, entre outras. Francisco Elias Santos é o elemento mais velho do grupo e, aos 78 anos, este natural de Évora mantém a jovialidade na voz. Nos tempos de juventude António Borralho já era exímio a fazer quadras. “No Alentejo juntávamo-nos aos domingos, tínhamos pouco divertimento, não tínhamos televisão, então era nas tabernas que cantávamos”, relembra as memórias das suas raízes. “Julgas por eu ser de fora que não te tenho amizade/às vezes os amores da terra amam com mais falsidade”, soletra de cor uma rima que em tempos fez a uma rapariga enquanto trabalhava no campo como tractorista.As rimas soam quando o “ponto”, na voz de António Borralho, dá a deixa e cede o lugar ao “alto”, José Reboucho. Os peitos enchem-se de ar e as vozes graves sobrepõem-se em sintonia e dão som à identidade alentejana que lhes corre nas veias e que com orgulho preservam.No fim de cada ensaio faz-se um brinde com vinho, ou não fosse o Cartaxo terra de afamadas pingas. Não são esquisitos na escolha, “alentejano ou ribatejano, de preferência cheio”, dizem em tom de brincadeira. Açorda, migas e caldo de cação são iguarias que não dispensam nos seus petiscos, porque os sabores do Alentejo, dizem, “são inigualáveis”.Só dois dos elementos do grupo não vivem no Cartaxo: Francisco Evaristo e Francisco Pelicano, que vivem no Vale de Santarém e em Vila Chã de Ourique, respectivamente. Os restantes, Laurindo Monteiro, Francisco Roldão, Fernando Caeiro, Rogério Piedade, António Custódio e Francisco Santos, vivem na cidade.Cantam por gosto e encantam quem os ouve. Divertem-se e convivem a cantar as “modas” alentejanas com o regozijo de preservarem um bem cultural que poderá vir a ser nomeado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.Sociedade Filarmónica Cartaxense é a mais antiga colectividade do concelhoCriada em 1850, a Sociedade Filarmónica Cartaxense (SFC) é a colectividade mais antiga do Cartaxo. A SFC acolhe desde Junho de 2013 o Grupo Coral Alentejanos no Cartaxo, o projecto mais recente a integrar a colectividade. “Foi um orgulho muito grande conhecer estes jovens com uma força de vontade de recordar os tempos que viveram no Alentejo”, afirmou a O MIRANTE Faustino da Mata, presidente da direcção da Sociedade Filarmónica Cartaxense, reforçando a importância de se manterem as tradições de cada região.A colectividade, que assinalou no passado mês de Dezembro o seu 163º aniversário, conta com cerca de um milhar de sócios e tem como objectivo contribuir para o enriquecimento cultural e desportivo do concelho.Alentejanos cantam em Vila Chã de OuriqueO Centro Social Ouriquense acolhe no dia 1 de Fevereiro, a partir das 21h30, uma Noite de Fados. A iniciativa, organizada pelo Grupo de Dadores de Sangue de Vila Chã de Ourique, conta com a participação dos fadistas Carolina Oliveira, Ilda Gabriel, Hugo Faustino, Elias Santos, José Luís, Vasco Casimiro, entre outros, acompanhados por Luís Grácio, na guitarra portuguesa, e Hélder Lopes, na viola de fado. A noite conta ainda com a actuação do grupo coral Os Alentejanos no Cartaxo.
O cante alentejano também se ouve no Cartaxo

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