José Oliveira terminou o Dakar Desert Challenge numa Renault 4L e foi recebido como herói
O pendura António Lameiras, presidente da AREPA do Porto Alto, desistiu ao terceiro dia por problemas físicos
José Oliveira, de Porto Alto, Samora Correia, concelho de Benavente, conseguiu terminar a aventura do Dakar Desert Challenge, chegando sozinho à Guiné Bissau com a velhinha Renault 4L. Fez a maior parte do caminho sozinho depois de o seu companheiro de viagem ter desistido no terceiro dia dos 15 da aventura. António Lameiras, também presidente da Associação Recreativa do Porto Alto, não estava a sentir-se bem fisicamente. Oliveira chegou a fazer 800 quilómetros por dia com várias peripécias. Como a de ter de deixar para trás o atrelado com comida por causa das estradas degradadas. Quando chegou à meta foi recebido como herói com os seus companheiros de aventura, que desconfiavam da resistência da 4L, a carregarem-no em ombros.“Voltava a fazer tudo de novo, foi uma aventura sem igual”, diz o condutor, que muitas vezes teve de andar em primeira velocidade. “As estradas na Mauritânia têm autênticas crateras mas com paciência consegui ultrapassar os obstáculos”. A viagem de 15 dias até 9 de Janeiro foi dura mas compensada com a alegria com que o recebiam em terras africanas quando viam a bandeira portuguesa. “Era uma autêntica loucura, toda a gente me incentivava e gritava pelo nosso país”. O que mais impressionou o condutor de 66 anos foram as condições de vida no deserto do Sahara Ocidental. “Eram autênticos nómadas e iam circulando pelo deserto à procura do melhor sítio para passarem a noite”, sublinha. As paisagens foi outra coisa que adorou e que o fazia esquecer o cansaço. “As dunas são magníficas”. Oliveira pernoitava em hotéis e em acampamentos que se formavam nos lugares mais inóspitos. Logo no início, em Tanger, teve de se libertar do atrelado da comida mas percebeu rapidamente que não precisava de metade do que levava. Noutra parte do percurso avariou-se o termóstato do veículo e ficou completamento sozinho. “O carro de apoio tinha ido auxiliar um jipe e eu fiquei para trás. Só via abutres por cima de mim e por momentos tive medo”, recorda. A segunda edição do Dakar Desert Challenge partiu de Coruche no dia 26 de Dezembro. Participaram 48 viaturas, só três como a Renault 4L não tinham tracção às quatro rodas, e 13 motos. Além de portugueses, havia participantes de Espanha, Itália, Alemanha, Argentina e Brasil. A aventura teve também um objectivo solidário. Seis viaturas da organização transportaram material escolar, medicamentos e pequenos equipamentos de apoio hospitalar que foram entregues a Organizações Não Governamentais guineenses. Recusou vender a 4L na Guiné por 22 mil eurosPara José Oliveira a viagem era muito mais do que uma aventura. Era uma oportunidade única de voltar à Guiné-Bissau onde esteve na guerra. “Parece que tinha saído de lá ontem”, diz o aventureiro que assim que pisou o país foi invadido por recordações e lágrimas. O habitante do Porto Alto conta que continua a existir uma grande atracção por Portugal na Guiné. “O meu carro era mais acompanhado do que uma comitiva do ministro”. Quando chegou foi recebido com músicas tradicionais. Oliveira fez questão de agradecer o gesto oferecendo vários sapatos que tinha levado. Esteve dois dias na Guiné e afirma que se sentiu em casa ao comer uma costeleta de novilho regada com um vinho de Borba. Só teve pena de não ficar mais tempo e das condições de vida da população. “Não estava à espera que houvesse tanta miséria”, alerta. Em Bissau quiseram comprar-lhe a 4L por 22 mil euros mas recusou.Passagem de ano inesquecível A passagem de ano foi também um dos momentos mais marcantes da jornada. Oliveira encontrava-se no Sul de Marrocos por baixo de um enorme céu estrelado que diz ir recordar até ao fim dos seus dias. “Fizemos um acampamento em círculo com as tropas marroquinas a rodearem o perímetro”, refere. Apesar da falta de conforto, houve direito a fogo de artifício e champanhe. “Fiz questão de distribuir os quatro sacos de passas de uva que levava por toda a gente”, lembra.
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