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A advogada que pensou em ser juiz e é apaixonada por Matemática

A advogada que pensou em ser juiz e é apaixonada por Matemática

Carmen Nunes exerce a profissão há vinte anos e tem escritório em Coruche

A profissional afirma que os advogados de província fazem um pouco de tudo sob pena de serem criticados pelo facto de recusarem trabalho. O que não gosta mesmo é de trabalhar em casos de crimes relacionados com menores. Só o faz se não tiver alternativa.

Carmen Nunes é advogada por acaso. O seu sonho era ser juiz e a sua paixão a matemática. Duas áreas tão distintas que a obrigaram a tomar uma primeira decisão quando se matriculou no 10º ano de escolaridade. Optou pela área de Letras para perseguir o sonho de se tornar juiz. No entanto, quando começou a ter o primeiro contacto com os tribunais, durante o estágio, antes de prosseguir os estudos para juiz, percebeu qual o verdadeiro papel de um juiz e decidiu “de imediato” que não era aquela carreira que queria. “Nunca conseguiria decidir a vida das pessoas. Acho que muitos juízes devem pensar com frequência se estão a tomar a decisão correcta ou não. Percebi que não conseguiria fazer isso”, explica a O MIRANTE.A advogada confessa que se fosse hoje tinha ido para Matemática e ainda coloca a hipótese de tirar esse curso. Mas só quando os filhos (Pedro, 18 anos, e Margarida, 12 anos) forem adultos e independentes. Carmen Nunes nasceu no Couço há 45 anos mas vive em Coruche há 16 anos. Estagiou na vila, sede do concelho onde nasceu, e por lá ficou. É advogada há 20 anos. Durante o estágio aprendeu com aquele que considera o seu mestre, engenheiro José Melro, o que hoje a realiza mais no seu trabalho. Sucessões e divisões complicadas de terrenos são a sua paixão. “Dá-me muito gozo encontrar uma solução para situações consideradas impossíveis. Aprendi muita coisa com o meu mestre e ele incutiu-me a paixão por esta área”, explica, acrescentando que também gosta de trabalhar na área criminal.O que não gosta mesmo de fazer e evita ao máximo são crimes relacionados com menores. Só o faz se não tiver alternativa. Mas o pior mesmo é saber que uma pessoa inocente é condenada em tribunal. “O juiz tem que decidir em função das provas que lhe são apresentadas e em alguns casos as provas podem incriminar uma pessoa que é inocente. Não lido bem com essa situação”, sublinha.Os seus dias nunca são iguais e há muito tempo que Carmen Nunes deixou de fazer planos. Nem mesmo para o dia seguinte. Esta decisão deve-se ao facto da advogada ter tido um filho, Pedro, que nasceu com uma doença neuromuscular tendo falecido aos quatro anos. A partir do momento em que Pedro nasceu a sua vida mudou radicalmente e as prioridades inverteram-se. “Acredito que a missão do Pedro foi ensinar-me que temos que viver um dia de cada vez”, confessa.Carmen Nunes afirma que os advogados de província fazem um pouco de tudo sob pena de serem criticados pelo facto de recusarem trabalho. A advogada também trata de divórcios, embora, garanta que ultimamente tem havido menos procura. O que se deve em parte à crise económica que o país atravessa. Há muita gente a precisar de recorrer à justiça mas que não o faz por falta de dinheiro. Actualmente é procurada por muitos clientes para resolverem problemas relacionados com a falta de dinheiro para continuarem a pagar as dívidas que contraíram, nomeadamente empréstimos de habitação ao banco.Lamenta que muitas pessoas não acreditem na justiça portuguesa e aponta o dedo à comunicação social que, diz, passa a imagem que a justiça não funciona. “A falta de confiança na justiça portuguesa deve-se também ao funcionamento dos próprios tribunais. Não são todos, mas muitos não funcionam bem porque existem cada vez menos funcionários judiciários para fazer o trabalho. Seria necessário o dobro dos funcionários para que as coisas andassem mais rápido. Não existem meios suficientes”, considera.A vantagem de trabalhar num meio rural é a proximidade que existe com os clientes. Muitos aproveitam para desabafar e há quem vá ao escritório de Carmen só mesmo para falar dos problemas. São sobretudo pessoas idosas e que vivem mais isoladas. A advogada não nega uma conversa com ninguém. Os poucos tempos livres são dedicados aos filhos. Gostava de fazer voluntariado junto de crianças doentes mas já tomou uma decisão: todos os seus desejos só vão ser concretizados depois dos filhos saírem de casa. Até lá quer acompanhá-los o máximo que puder.
A advogada que pensou em ser juiz e é apaixonada por Matemática

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