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Relvados

O tema dos relvados, que cobrem vastas áreas entre betão, é excelente para exemplificar o país que somos e que não podemos continuar a ser.Desde os tempos em que agimos como novos-ricos, designadamente quando acreditámos que o dinheiro era grátis, que o país gasta muito, mas muito, dinheiro mal gasto nos genericamente chamados espaços verdes.A relva serviu e serve para tudo, generalizou-se de tal maneira que hoje poucos lhe ligam. Exceção feita aos cães de donos mal-educados que a “fertilizam” abundantemente com dejetos. Como sempre entre nós, as contas fizeram-se, quando se fizeram, apenas aos custos de construção.Entretanto, sem se saber porquê, criou-se a cultura dos relvados por todo o lado – quantos mais metros quadrados melhor. Haverá aqui uma relação direta com o número de votos?Chegou-se à conclusão, indiscutível, que qualificar o meio urbano, e não só – fazem-se relvados artificiais no campo, nas margens dos rios, etc. - é estender tapetes de relva.O clima do nosso país é totalmente contrário a esta opção nacional. Só é possível manter relvados à custa de muito dinheiro.Continuamos sem fazer contas; quanto custa a energia, a água tratada, o sistema de rega, o corte frequente e demais manutenção de um relvado? Alguém faz estas contas? Façam-se as contas – exige-se que os autarcas as façam – e rapidamente se chegará à conclusão da insustentabilidade desta opção nacional.O passo seguinte vai ser “descobrir” que há outras opções brutalmente mais económicas e ajustadas ao país que somos. Soluções estética, cultural e ecologicamente muito mais adequadas às nossas terras.A solução não será aplicar as novas soluções aos novos espaços a construir mas optar, quanto antes, pela reconversão dos existentes. Não dá para esperar que o tempo faça a reconversão. Cada dia que passa são muitos euros que vão por água abaixo. A água, ainda não demos por isso (?), é um bem escasso para ser mal usada, por exemplo, a regar relvados patéticos. Portugal tem das melhores escolas de arquitetura paisagista do mundo e, por isso, não há razão nenhuma para que também nesta matéria não comecemos a ser, rapidamente, um país mais normal, ou seja, mais sustentável.Estamos em crer que também nesta matéria, como em outras, se não tomarmos as decisões certas, alguém nos vai ensinar, nem que seja a falta de água.Só sem estragar dinheiro é que este nos vai chegar para o essencial – saúde, educação e cultura. Ou alguém dúvida?Carlos A Cupetocupeto@uevora.pt (Professor na Universidade de Évora)

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