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A estranha forma de vida dos cartoonistas que têm a noite como aliada

A estranha forma de vida dos cartoonistas que têm a noite como aliada

Participantes da Cartoon Xira contam como se inspiram e os rituais antes de darem forma às ideias
É quando a generalidade das pessoas está a dormir que os cartoonistas dão largas à imaginação. Durante a inauguração da Cartoon Xira em Vila Franca de Xira os artistas da sátira e do humor contaram a O MIRANTE um pouco do que é o seu trabalho. José Bandeira vai acompanhando as notícias durante o dia e é à noite que se sente mais criativo. “Quando se aproxima o fecho do jornal e quando há mais pressão é que as coisas surgem melhor”, revela o cartoonista do Diário de Notícias e Jornal de Notícias. “Naqueles instantes de pressão faço tudo menos desenhar. Como, bebo, saio de casa, volto a entrar e só mesmo em desespero é que pego no lápis. É assim a minha rotina há 30 anos. É uma estranha forma de vida”, confessa. Um segredo que usa é o de trocar as informações. Se fizer um cartoon sobre desporto, lê apenas notícias de política. António Gonçalves é outro dos cartoonistas que prefere a noite para trabalhar porque os assuntos do dia “já ganharam pé, como o vinho”, explica em jeito de brincadeira.Carlos Brito teve medo de deixar de fumar porque pensava que as ideias vinham do fumo do cigarro. “Comecei a mastigar cenouras antes de desenhar”, recorda com um sorriso. Brito começou a desenhar na caderneta militar do pai quando tinha dois anos. Num período em que desenhava de noite era ajudado pelo gin tónico. “Não se tem os horários das pessoas comuns. Tentei deixar o hábito da vida nocturna porque é muito cansativo”, confessa. Cada um tem a sua técnica para ir buscar a inspiração. António Gonçalves procura ler notícias que o irritem. “Irrita-me estar a comer por notícias principais coisas que não são notícia. É no processo de desenho que as ideias começam a tomar forma, como se a mão tivesse vontade própria e desse as ideias que não surgiram na cabeça”, refere. A meia-noite, diz, é sempre uma boa hora para meter mãos à obra. “Os cartoonistas são como vampiros que trabalham escondidos na noite”, reforça Henrique Monteiro, que se confessa um homem sem vícios e sem grandes mistérios sobre o processo criativo. “Normalmente tenho tudo idealizado na cabeça e depois é só passar ao trabalho”, conta.Espanhol Fernando Rosado diz que liberdade está em riscoO cartoonista convidado da 15ª edição da exposição de cartoons de Vila Franca é o espanhol Fernando Puig Rosado. A O MIRANTE conta que às vezes acorda a meio da noite e diz: “Caramba! É isto!” Nesse instante sai da cama e lança-se ao trabalho. Gosta de beber uma taça de vinho antes de começar a desenhar. Fernando, 82 anos, natural de Don Benito, Badajoz, Espanha, além de cartoonista considera-se um anarquista, desenhador, ilustrador, activista dos direitos humanos e ambientais. Deixou de fumar nos anos 80 quando uma mulher por quem se apaixonou lhe pediu para o fazer. Diz a O MIRANTE que a liberdade dos cartoonistas está em perigo por causa dos grupos económicos que mandam nos jornais. “Tive muitos anos de censura em Espanha e não quero mais isso. Se quiser desenhar algo desenho, se quiserem publicar muito bem, se não pior para eles. Todas as coisas devem ser livres e o cartoon não é mais do que um desenho de ficção, a realidade é outra coisa”, defende. Vive em França e é detentor de vários prémios internacionais. Já conhecia Vila Franca e mostrou-se encantado com a exposição.A 15ª edição do Cartoon Xira, organizada pelo cartoonista António Antunes em parceria com o município, decorre no Celeiro da Patriarcal até 13 de Abril com trabalhos de António, Bandeira, Brito, Carrilho, Cid, Cristina, Gonçalves, Maia e Monteiro.
A estranha forma de vida dos cartoonistas que têm a noite como aliada

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