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Mulheres de língua afiada no enterro do Santo Entrudo em Samora Correia

Mulheres de língua afiada no enterro do Santo Entrudo em Samora Correia

No enterro do Santo Entrudo em Samora Correia, na quarta-feira de cinzas, são as mulheres as que têm a língua mais afiada para responderem às provocações de Mário Pereira e Hélder Salema que fazem de padre e sacristão, respectivamente. “São as mulheres que têm menos vergonha, os homens neste tipo de eventos são mais recatados”, tenta explicar o “padre” enquanto o “sacristão” não se lembra de ver homens a replicar.As “viúvas” acomodam-se no atrelado puxado por um tractor e não se cansam de gritar e chorar até o boneco que simboliza o entrudo ser queimado. “Ai Santo Entrudo, cagas merda por um canudo”, “Foi do viagra”. “Está tanta gente no teu funeral”. Estas são as frases mais repetidas no cortejo. Acompanhados por músicos da Sociedade Filarmónica União Samorense, tanto Mário Pereira como Salema vão fazendo poemas dirigindo as atenções para as famílias e lojas de Samora.A samorense Cristina Martinho foi das mais afoitas da noite e não deixou o “padre sem resposta”. À frente da sua casa e acompanhada com a irmã, criticou a empresa Águas do Ribatejo que tem feito obras de remodelação nas ruas da freguesia.“Boa noite meu povoAqui vos recebo nesta bela AvenidaGraças às Águas do RibatejoQue anda toda f…Em nome da família MartinhoEstamos nós em representaçãoCagamos merda todos juntosPara oferecer à organizaçãoComo somos uma família de trabalhoPodíamos mandar isto tudo para o c….Para Cristina o enterro do entrudo é uma tradição familiar e diz que quem é referido tem que se sentir bem por ter sido lembrado. “Já o ano passado respondi. Eu nasci naquela casa e desde que há o enterro o padre sempre nos dedicou alguns versos”, afirma a habitante de 47 anos. Cristina conta que assumiu a vez do pai nas respostas e nem o lar que possuí escapou a alguns versos. “Pois a minha cagadaTambém a quero deixarGuardei-a toda em saquinhosDos velhos lá do larO lar parece uma fábricaSai merda de toda a maneiraMas é mal cheirosa e maciaGuardei-a para o padre Mário Pereira”Mais à frente responde Ana Rêgo, mais conhecida por Ana do “Pote” devido à loja que tem na Avenida do Século aos seguintes versos.“Tinha o entrudo amigos de estimaçãoPara quem cagava com devoçãoE dar era sempre o seu moteTinha uma caixa de bombons de merdumUntados de aroma de punsAli para o Gualter e para a Ana do Pote”Ana também é uma veterana nestas participações. “Participo em tudo, sou eu que faço os versos todos”, explica, não deixando o “padre” sem resposta e ao mesmo tempo atirando versos para a GNR e para o presidente da câmara, Carlos Coutinho.“O Mário Pereira é este que aqui estáÉ um grande actorAcabou-se de peidarPara o Joaquim SalvadorPara a Dora e para o CoutinhoQue são grandes amigõesComem merda rala com farturaMais um quilo de cagalhõesA nossa GNRTrabalhou com ironiaComeram tantos cagalhõesQue ficaram com azia”Quem esteve mais comedida, segundo a população, foi a conhecida “Pachola”, uma catequista de 24 anos que no ano passado deixou tudo em alvoroço. Este ano, e depois de alguns fados cantados à janela por Elisa e Efigénia, Patrícia Pernes interpretou o professor Marcelo Rebelo de Sousa e fez um balanço sobre o Carnaval não deixando de pôr o dedo na ferida. Quando falou da beleza das sambistas da Escola de Ovar, todo o povo aplaudiu.“Dada a conjuntura económicaAté as expectativas superouO Passos Coelhos tirou-nos o diaE o povoFu... rioso ficouMas dou um conselho à próxima organizaçãoEscolham sambistas jeitosasPois o povo fica um ano sem tesão”Agarrando nuns livros que trazia consigo, “Pachola” continuou:“Para a malta de BenaventeIdeias práticas e soluções rápidas é a sugestãoHá que pôr na linha aquela genteAlcoviteira, aldrabona e sem tesãoOs desastres que mudaram o mundoÉ a escolha para as Águas do RibatejoPois Samora é a vergonhaA mais esburacada da Lezíria do Tejo”O presidente da Junta de Samora Correia, Hélio Justino, não ficou sem umas calhandrices assim como o Partido Comunista que tem a maioria na Câmara de Benavente. “Cago aqui, cago aliCom a risca sempre à vistaPara entregar ao pessoalDo Partido ComunistaE eis-nos chegadoA este grande consulado que é Samora CorreiaNão fiques ò Hélio chateadoQuando perderes esse inchadoNuma grande caganeiraMas o entrudo era generosoAfinal era do povo eAcreditava no destinoSabia que ainda comia à desmesuraUns quantos tremedores de merda duraO presidente Hélio Justino”O cortejo fúnebre acabou no Largo do Calvário onde foi queimado o boneco. João Manuel, um dos presentes que acompanhou o cortejo do início ao fim, refere que antes havia mais asneiras e que espicaçava mais a população, lamentado que o antigo padre João Alemão se tenha retirado.
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