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Nem o presidente da câmara faltou ao jogo do quartão na Chamusca

Nem o presidente da câmara faltou ao jogo do quartão na Chamusca

Tradição junta gerações e anima os participantes numa tarde regada de vinho. O cântaro de barro que dá nome ao jogo é atirado de mãos em mãos e quem o deixa cair paga sete euros ou uma rodada de copos de vinho.

Este ano houve um participante especial no jogo do quartão na Chamusca, uma tradição que se repete anualmente na Quarta-Feira de Cinzas. O novo presidente da câmara, Paulo Queimado, não quis faltar à festa, apesar de este ano ter outras responsabilidades. E apesar de já ser um repetente não se livrou de pagar os sete euros da praxe depois de ter deixado cair o cântaro (quartão) pela segunda vez ao chão. “Algumas pessoas estão surpreendidas por o presidente estar aqui. Povo é povo”, afirma Ivo Rosa de copo na mão. E o clero também deu a sua bênção, pois o padre José Luís Borga não faltou ao arranque da jornada de convívio.Na tarde de Quarta-Feira de Cinzas, cerca de cinquenta homens deambulam pela Estrada Nacional 118. Lançam o cântaro de barro de mãos em mãos e quando este cai levantam os braços e gritam: “Tem razão!”. No meio da via mandam parar as viaturas que vão buzinando e sem pedir licença abrem as portas. “Uma pequena contribuição para manter a tradição”, pede Carlo,s que anda sempre com um quartão debaixo do braço. Os condutores, surpreendidos pela atitude, ou vão procurar a carteira para dar uma moeda ou ameaçam que lhes passam por cima devido à fila de carros que entretanto se forma. Quem deixa o cântaro de barro desfazer-se em cacos paga sete euros ou uma rodada de copos de vinho. O objectivo principal do jogo é embebedarem-se e embriagar quem está à sua volta, avisa Rui Lucas ao jornalista. “Se beber da mesma maneira que nós sai daqui a 200”. Não ficou explícito a que sistema de medição se referia. O jogo junta pequenos e graúdos que se vão amanhando em movimentos para apanhar o quartão no ar. Quase um centena de pessoas, na maior parte mulheres, seguem o grupo. Este ano houve cem jarros, comprados com o dinheiro que se arrecadou na edição passada. Antes não era assim. Havia mais tascas e os cântaros eram roubados às mulheres que tinham o hábito de ir buscar água à fonte. Os que estavam velhos ficavam arrumados em casa e eram descobertos pela rapaziada na Quarta-Feira de Cinzas. “Antes o jogo era mais violento, havia sempre um ou dois que iam parar ao hospital com a cabeça partida”, afirma António Vidinha, atribuindo culpas ao tinto. Em tempos de crise tenta-se evitar que a despesa não suba à mesma velocidade que o vinho trepa à cabeça. “O pior de todos foi um guarda-redes que partiu sete quartões seguidos”, conta Vítor Malaquias, que anda com uma peruca loira e uns óculos de palhaço. Como em todos os anos, há paragens obrigatórias no Poizo do Bezouro, onde se comem pataniscas de bacalhau, ou na casa de José Amaro que serve vinho, chouriço e queijo. “O que importa é manter a tradição”, diz. Os participantes começaram juntos com um almoço mas ao longo da tarde e depois de algumas horas de tinto, alguns retiraram-se e já não conseguiram assistir ao tradicional enterro do galo com que se fecha a quadra carnavalesca. Para o ano, há mais.Minuto de silêncio em nome de Guilherme Mira Quando se aproximaram da casa de José Mira, avô do jovem de 14 anos que morreu subitamente no dia 3 de Fevereiro numa escola da Chamusca, todos os jogadores se calaram e partiram um quartão em homenagem a Guilherme Mira. O avô era um dos principais impulsionadores da tradição e todos os anos tinha uma mesa cheia de comida e bebida. Os jogadores não esqueceram e deixaram um cântaro de barro à porta da sua casa.
Nem o presidente da câmara faltou ao jogo do quartão na Chamusca

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