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Ernesto Augusto, o devorador de livros

Ernesto Augusto, o devorador de livros

Leitor levanta semanalmente sete livros na Biblioteca de Sardoal
Com 90 anos, feitos em Janeiro, Ernesto Augusto é o utilizador mais assíduo da Biblioteca Municipal do Sardoal. Uma vez por semana desloca-se religiosamente àquele espaço onde requisita sempre uma média de sete livros. Simpático, conversador e de espírito alegre, Ernesto falou com O MIRANTE numa das salas da biblioteca. É frequentador assíduo do espaço há cerca de dois anos, altura em que foi viver para Andreus, para casa de uma sobrinha, onde, muitas vezes sentado na varanda com as pernas ao sol, lê uma média de um livro por dia. Gosta, sobretudo, de ler aquilo que chama de “leitura amorosa”. Mas também devora livros juvenis, como os das aventuras escritas por Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães.Primeiro-sargento da Marinha Portuguesa, Ernesto Augusto está reformado há 37 anos. O gosto pela leitura surgiu aos 12 anos, quando terminou a 4ª classe, em 1936. “Comecei a ler livrinhos pequenos, pouco volumosos”, recorda. Aos 14 anos leu um livro que o marcou e que ainda hoje recorda: “Touros de Morte”, de Vicente Blasco Ibañez.Nasceu em Almada, mas quando tinha seis meses foi com a mãe para Anseriz, localidade do concelho de Arganil, distrito de Coimbra, onde esteve até aos três anos, voltando de novo para a freguesia da Cova da Piedade (Almada). Recorda que aos 8 anos foi novamente para Anseriz onde teve de repetir a 1ª classe que já tinha frequentado na Cova da Piedade, mas por falta de comprovativo não lhe reconheceram a escolaridade.Aos 12 anos fez o exame da 4ª classe em Arganil. Teve de andar 20 km a pé, juntamente com a sua avó paterna que o acompanhou, para ir fazer o exame escrito e oral. “Dormimos lá uma noite e ainda existe o edifício onde fiz o exame”, recorda Ernesto que teve de pagar dois escudos e 50 centavos pela autenticação do documento que comprovava que possuía a 4ª classe.E foi esse documento que, aos 20 anos, em 1945, lhe deu entrada na Marinha Portuguesa. “Naquele ano foi instituído que só entravam para a Marinha indivíduos com a 4ª classe. A escola de 45 era chamada a fina-flor da Marinha”, diz. Foi na Marinha que trabalhou durante 36 anos da sua vida: em serviço, foi 11 vezes a Inglaterra e fez duas comissões em Moçambique, uma embarcado e outra em terra, na antiga capital Lourenço Marques, actual Maputo.Depois de Moçambique, esteve seis anos na Capitania do Porto de Leixões, sempre na área das comunicações e cifras, onde era responsável por encaminhar e decifrar mensagens. Passou ainda pelo Departamento da Marinha na Junqueira, em Lisboa, e entretanto passou à reserva. Tinha 53 anos e corria o ano de 1977.Casado há quase 62 anos, ainda hoje é ele que prepara o pequeno-almoço para a sua esposa e carinhosamente o leva à cama. Apesar de ter vivido numa época de tempos difíceis, diz que nunca passou fome e recorda que aos 12 anos a filha de um dos seus patrões - trabalhava, na altura, numa mercearia na zona da Graça, em Lisboa -, lhe ofereceu uma pasta, uma escova e um copo para lavar os dentes. “Até aí nunca tinha lavado a boca”, refere Ernesto Augusto.
Ernesto Augusto, o devorador de livros

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