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Um atleta de topo que passa despercebido na sua terra

Um atleta de topo que passa despercebido na sua terra

Campeão do mundo, europeu e nacional e medalhado numas olimpíadas, Rui Silva é um desconhecido para muita gente do concelho onde reside, o Cartaxo, sobretudo entre os mais jovens. É o preço a pagar num país onde o futebol concentra as atenções e o resto é paisagem. “O público não tem ligação com o atletismo de pista”, lamenta um dos melhores atletas de sempre do nosso país.

Com um palmarés de luxo, Rui Silva, considerado um dos melhores atletas nacionais de sempre, começou a dar as primeiras passadas no atletismo no Estrela Ouriquense, clube de Vila Chã de Ourique, no concelho do Cartaxo. O atleta medalhado olimpicamente, campeão nacional, europeu e mundial por diversas vezes é uma figura incontornável do panorama desportivo, mas, apesar de ainda estar no activo aos 36 anos, há muita gente que não reconhece na figura franzina o atleta de eleição que é.“Entro na Escola Secundária do Cartaxo e passo despercebido”, referiu Rui Silva na última tertúlia organizada no Cartaxo pelo actor José Raposo, lembrando que outrora o atletismo enchia estádios e os grandes nomes, como Carlos Lopes e Rosa Mota, eram reconhecidos em todo o país. “O público não tem ligação com o atletismo de pista”, lamenta, apesar das entradas nos estádios serem maioritariamente gratuitas e do número dos praticantes de corrida e de caminhadas ter aumentado nos últimos anos. “Em Portugal é muito triste, porque entre fazer um treino em pista ou fazer uma competição há muito pouca diferença”, completou.Para o atleta, a situação não se deve à ausência de referências, mas antes à pouca visibilidade que é dada à modalidade, em detrimento do futebol que continua a ser a modalidade com maior visibilidade no país. “Hoje em dia temos pistas de atletismo em todo o lado e é preciso é dinamizá-las”, reforça.Roubou recorde ao futuro sogroRui Silva prefere correr na estrada, local onde sente o apoio do público, e a chuva não é sua inimiga. O primeiro recorde que alcançou, foi nos 1000 metros, o qual “roubou” em 1997 a Carlos Cabral, que viria posteriormente a tornar-se seu sogro, depois de ter entrado em 1996 para o Sporting.O atleta foi convidado da tertúlia mensal “José Raposo Convida”, que decorreu na noite de domingo, 30 de Março, no Centro Cultural do Cartaxo. Reviu fotografias marcantes da sua carreira e foi num ambiente intimista que partilhou com o público. “Gosto de correr, mas dá-me prazer quando as pessoas estão do outro lado, porque as provas são como um espectáculo”, afirmou. Rui Silva acredita que todos “têm jeito para fazer alguma coisa” e defende que o segredo passa por experimentar várias actividades. Crítico em relação à pouca visibilidade dada ao atletismo em detrimento de outras modalidades, é peremptório e considera que “o desporto amador tem sobrevivido graças às carolices”.Nasceu em Santarém em 1977 e viveu os primeiros oito meses no Cartaxo, posteriormente foi para as Fontainhas e após a morte do seu pai, aos 13 anos, acabou por ir viver para Vila Chã de Ourique, terra da mãe e onde moravam os avós maternos. Foi aí que conheceu o atletismo e acabou por se apaixonar pela modalidade.Começou no futebol, mas a sua baixa estatura, manteve-o sempre na sombra. Do atletismo já tinha ouvido falar na escola e até participou num corta-mato que acabou por vencer, mas nunca tinha imaginado que seria o atleta de topo em que se tornou. Foi por volta dos 14 anos, já em Vila Chã de Ourique, que por acaso acabou por conhecer melhor a modalidade. Foi Pedro Barbosa que descobriu o seu talento, um dia em que estavam a fazer estafetas. Como faltava um atleta foi Rui Silva que de t-shirt e calças de ganga surpreendeu o treinador que lhe terá dito que ele “corria que se fartava”. Desde aí o seu rumo mudou e hoje já pertence à galeria dos melhores de sempre do atletismo nacional.Actualmente a recuperar de uma lesão, Rui Silva continua a competir e dedicado de alma e coração ao atletismo de leão ao peito e representando as cores nacionais.Um rico palmarésDo vasto palmarés de Rui Silva destacam-se o título de campeão do mundo dos 1500 metros em pista coberta (Lisboa, 2001), a medalha de bronze nos 1500 metros nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004), medalha de prata nos 1500 metros nos europeus de atletismo de Budapeste (2002) e medalha de bronze nos 1500 metros nos europeus de atletismo de Munique (2002), Nos campeonatos europeus de atletismo em pista coberta foi medalha de ouro em Valência 1998, Viena 2002 e Turim 2009 (1500 metros) e medalha de prata Gent 2000 (3000 metros). Foi ainda medalha de prata no mundial de pista coberta de Budapeste 2004 na prova de 3000 metros. É recordista nacional dos 800 e 1500 metros.
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