A ASAE e as Finanças decidiram visitar de surpresa o Festival da Lampreia de Mação. Sorte a deles, porque eu, infelizmente, não tenho cabedal para me meter nesses andamentos. A lampreia, como sabes, é um bicho comestível que tem um preço só comparável à sua fealdade. E terá sido essa a razão, penso eu na minha prosaica ingenuidade, que terá levado os inspectores a moerem o juízo aos donos de alguns restaurantes nesse raide cirúrgico. Com a crise que vivemos, vender algo que se coma a preços daqueles é realmente um crime.Além disso, nestes tempos da cozinha moderna em que os chefs se multiplicam como moscas e em que parece contar mais a decoração do prato do que propriamente o sabor da comida, um bicho tão feio devia ser banido das cozinhas. Talvez por isso alguns exemplares tenham sido confiscados e, provavelmente, enviados para cirurgia plástica a fim de ganharem feições mais consentâneas com os padrões estéticos vigentes.Depois desta arenga com pretensões surrealistas, que dizer da iniciativa de divulgar as tradições pascais de Sardoal e Constância no famoso bairro do Intendente, em Lisboa. Se a intenção é levar a população autóctone a visitar o norte do Ribatejo durante a Páscoa, parece-me bem. Sobretudo se for aquela parte da população do bairro lisboeta que se dedica à mais velha profissão do mundo. Seria sem dúvida uma animação extra para contrapor à solenidade das cerimónias pascais e uma boa medida para captar novos públicos, como agora se diz. E quem sabe se as profissionais do Intendente não conseguiriam nesta Páscoa fazer ressuscitar alguma carne morta que por aí anda. Passando agora a assuntos sérios. Já é tempo de alguém explicar ao presidente da Câmara de Santarém que o partido dele (o PSD) é o mesmo que está no Governo, porque o jovem Ricardo Gonçalves, de tão assoberbado que anda a gerir a herança de Moita Flores, parece ainda não ter dado conta que José Sócrates já saiu de São Bento há três anos.O autarca escalabitano já tinha zurzido forte e feio no Governo de Passos Coelho durante um congresso da Associação Nacional de Municípios realizado há meses em Santarém. Pensei eu na altura que tinha sido um fogacho próprio da juventude. Mas eis que agora voltou à carga, durante uma homenagem ao capitão de Abril Salgueiro Maia. “Portugal e os portugueses merecem muito mais do que isto”, disse Ricardo Gonçalves entre outras bordoadas nos seus companheiros de partido. Comunistas e bloquistas aplaudiram com fervor aquele novo camarada que lhes caiu do céu e os socialistas exultaram e já devem estar a pensar em cargos para lhe oferecer quando voltarem ao Governo.Por último, já não há palavras para descrever a novela que vai em redor do estacionamento pago em Santarém. Numas alturas é a empresa municipal que fiscaliza, noutras é uma empresa de segurança privada, noutras é a vez PSP e noutras ocasiões não há qualquer fiscalização. Uma confusão medonha! Será mera coincidência o facto de na génese deste intrincado enredo estar um grande argumentista deste país, Francisco Moita Flores?De fininho me raspo, mandando um abraço com o selo de qualidade do Serafim das Neves