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“É impossível deixar de ser médico”

“É impossível deixar de ser médico”

Luís Marçal tem consultório em Salvaterra de Magos e exerce a profissão há 34 anos

O médico confessa que escolheu a especialidade de clínica geral porque é “muito enriquecedora” no contacto humano. Concorda que, muitas vezes, também faz de psicólogo porque tem que saber ouvir as pessoas.

Luís Marçal é médico há 34 anos mas na adolescência teve várias profissões durante as férias escolares de Verão. Foi servente de pedreiro, servente de estucador e servente de pintor. O dinheiro era para os extras que queria comprar nas férias. Há prédios em Salvaterra de Magos que ajudou a construir, conta. Médico de clínica geral, com consultório na vila onde vive desde que completou um ano de idade, diz que seguir medicina foi algo natural. O pai, médico de profissão, tinha o consultório ao lado de casa e Luís Marçal sempre conviveu com os pacientes do pai. “Ser médico não me foi imposto, foi algo que sempre quis”, diz.Trabalhou vários anos no serviço público. Passou por Lisboa, Évora, Alandroal até que em 1985 assentou arraiais em Salvaterra. Entretanto decidiu deixar o serviço público e há cerca de sete anos abriu a sua clínica no centro de Salvaterra de Magos. Começa a trabalhar todos os dias por volta das dez da manhã. Habitualmente vai à Misericórdia de Benavente ou à Misericórdia de Salvaterra, instituições com as quais tem avenças e dá consultas aos utentes. Tem o mesmo tipo de protocolo com o Centro de Dia de Muge e o Centro de Dia de Marinhais.Durante o dia anda neste género de consultas ao domicílio até às 18h00, altura em que começam as consultas na clínica. “Não vale a pena vir antes porque a maioria dos pacientes só está disponível no horário pós-laboral”, refere. O médico fica no consultório geralmente até às onze da noite, embora nas alturas de pico da gripe já tenha terminado as consultas por volta da uma da manhã.O médico confessa que escolheu a especialidade de clínica geral porque é “muito enriquecedora” no contacto humano. Concorda que, muitas vezes, um médico é também um psicólogo porque tem que saber ouvir as pessoas. “A maioria das consultas nos centros de saúde é de pessoas idosas, que se sentem sozinhas e precisam de conversar. Na minha clínica acontece o mesmo e eu vou a lares de terceira idade. Oiço histórias muito enriquecedoras do ponto de vista pessoal. E saber ouvir também faz parte da terapêutica. Está provado que conversar alivia a solidão e isso faz parte do trabalho”, afirma.As doenças mais comuns são depressões e cancros. Quando começou a trabalhar em Salvaterra de Magos diagnosticava uma ou duas depressões por ano, que se tratavam em seis meses, e um ou dois novos casos de cancro por ano. Hoje surgem entre 20 a 30 novos casos de cancro e também depressões. As depressões são em boa parte resultado do contexto económico que o país vive. Em relação ao aumento de casos de cancro deve-se em parte à genética mas também está muito relacionado com o que comemos. Além disso, na zona do Ribatejo, existem muitos cancros de pele porque grande parte da população trabalhou no campo, exposta ao sol por longos períodos e nas horas em que é mais perigoso. Cancro de mama, intestino e próstata são os mais comuns nos seus pacientes.Nos pacientes adolescentes Luís Marçal detecta alguns problemas do sistema nervoso, quadros depressivos ligeiros. O médico aponta como causa a “forte competição” que existe na escola. O médico tem quatro filhos, com 15 anos, 13 anos e os gémeos Manuel e Sebastião, de 14 meses. Confessa que nunca consegue deixar de ser médico. Nem mesmo quando está no papel de pai. Recentemente o filho Manuel teve um problema de saúde que o levou ao Hospital da Estefânia, em Lisboa. “Tive que ser um pouco agressivo com o colega porque senti que ele estava a despachar o meu filho quando eu tinha noção que o quadro clínico era mais grave. Estou convencido que se tivesse sido a minha mulher a entrar com o meu filho a situação não teria ficado resolvida tão facilmente. Já decidi que tudo o que estiver relacionado com doenças sou eu que os levo ao médico”, sublinha.Adora conversar com os seus pacientes e o facto de trabalhar numa vila pequena dá-lhe uma maior proximidade. Por isso costuma andar de carro pela terra. Porque se for ao café a pé tem que fazer “umas quatro ou cinco consultas” pelo caminho. “Nunca deixamos de ser médicos”, conclui.
“É impossível deixar de ser médico”

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