O director do agrupamento de escolas do Bom Sucesso, Vila Franca de Xira, considera que há uma desarticulação entre a oferta formativa das escolas e as necessidades das empresas. Carlos Pimenta dos Reis, que é responsável por uma comunidade escolar com 950 alunos e 100 professores, diz que a Câmara de Vila Franca chegou a promover reuniões entre escolas e empresários para se definirem necessidades mas depois não houve aplicação das ideias na prática. Para o dirigente as escolas e as empresas, que precisam de trabalhadores com determinadas qualificações, não devem estar divorciadas. “Contamos com a criação de uma plataforma que vai tardando, que permitisse articular as escolas e as empresas. É importante que as escolas não se afastem das necessidades de emprego do meio onde estão inseridas”, defende. Actualmente o que existe no concelho de Vila Franca é uma constante interacção entre os diferentes agrupamentos que tentam diversificar ofertas formativas. “Não devemos oferecer o mesmo tipo de ensino a todos mas devemos oferecer as mesmas oportunidades educativas a toda a gente”, sublinha Carlos Pimenta dos Reis, 51 anos. Mas nem tudo é mau no panorama da educação e o director do agrupamento, que reúne três escolas, elogia o trabalho feito pelo município na requalificação do parque escolar, considerando-o “fantástico”, até porque ele foi também vítima das más condições. O jardim-de-infância do Bom Sucesso já foi reconstruído mas durante 20 anos funcionou num contentor em condições “incríveis e absolutamente impensáveis”, refere o responsável. Carlos Pimenta dos Reis lembra que boa parte dos estabelecimentos de ensino estava em mau estado e destaca o facto de algumas vezes a autarquia se substituir ao Ministério da Educação avançando com o dinheiro para as obras, ficando depois à espera de ser ressarcida. Para o director a requalificação do estabelecimento de ensino do Bom Sucesso significou também uma requalificação da própria comunidade. “Bom Sucesso e Arcena precisam de equipamentos que a requalifiquem, que a estimulem e dêem valor, para que a comunidade considere que a educação é um factor de progressão e promoção social”, defende. Nesse sentido lembra que a escola do primeiro ciclo de Arcena, com 150 alunos, está muito degradada e a precisar de intervenção urgente. Vai ser uma das primeiras escolas do concelho onde a câmara vai retirar os telhados de fibrocimento contendo amianto. “Além das infiltrações é uma escola de 1977 onde existe um talude instável que constitui um perigo para todos”, salienta.Apesar de não pertencer ao seu agrupamento, Carlos Pimenta dos Reis é crítico em relação ao estado em que se encontra a Escola Secundária Gago Coutinho, no centro da cidade de Alverca. As obras de requalificação do estabelecimento foram suspensas pela Parque Escolar em 2011, deixando os estaleiros de obras no recinto escolar e que estão a bloquear as saídas de emergência. “É uma situação inaceitável e que deve ser a prioridade das prioridades”, sustenta.Um bom professor continua a fazer a diferençaComo se motiva um aluno hoje em dia? Um bom professor é aquele que ouve os alunos, percebe o contexto em que vivem e é rigoroso na transmissão dos conhecimentos, relacionando-os com o contexto cultural em que estes vivem. Vivemos o período mais desafiante para ser professor, apesar de não ser o mais estimulante, devido a todas as adversidades que têm acontecido na educação.Olhando para os jovens como encara o futuro do país?Vejo que a educação pode cumprir um dos objectivos do 25 de Abril, que é o acesso de todas as pessoas, independentemente da sua condição social, à educação e à possibilidade de progredirem em termos económicos e sociais. Mas a educação tem ainda um longo papel pela frente no cumprimento dos objectivos de Abril. Quem diz que as coisas no tempo de Salazar é que eram boas precisa de melhorar os seus conhecimentos em história de Portugal. A democracia é o melhor sistema político e de vida em comunidade.A educação já é vista como algo essencial na vida?Ainda temos um desígnio que é fazer com que a maioria da população considere que a educação escolar é o principal factor na formação das novas gerações. E isso ainda não é um dado adquirido. O 25 de Abril foi apenas há 40 anos, é pouco tempo para as gerações perceberem essa importância.Aumenta o apoio a crianças com fome Há cada vez mais crianças a chegar aos bancos da escola com fome. Carlos Reis diz que o agrupamento se preparou para esta situação. “Há cada vez mais alunos a necessitar de suplementos alimentares. Para isso recorremos à ajuda da câmara e ao nosso orçamento próprio. Esse valor tem aumentado exponencialmente nos últimos dois anos. As famílias estão a passar muitas dificuldades e contam com a escola para as ultrapassar”, salienta. Uma das medidas passou por abrir o refeitório mais cedo para que os alunos que não tenham tomado o pequeno-almoço em casa o possam fazer antes de entrarem nas aulas.Um apaixonado por história e ensinoCarlos Jorge Pimenta dos Reis é natural de Lisboa e trabalha na Escola do Bom Sucesso desde 1997. É desde 2004 presidente do agrupamento de escolas. É casado e tem dois filhos, com 18 e 15 anos. Licenciou-se em história e é professor dessa disciplina. O período que mais o fascina é a idade média e a história contemporânea, sobretudo os séculos XIX e XX. Nos tempos livres gosta de praticar exercício físico e chega a participar em algumas corridas. Considera que o desporto é essencial para aliviar as tensões do dia-a-dia e diz que a maioria da população devia praticar mais desporto. Gosta de rock e pop rock, sobretudo Pink Floyd, Supertramp e Dire Straits.Entre os seus filmes favoritos estão “Citizen Kane” de Orson Welles, “O Nome da Rosa” e a “Lista de Shindler” de Steven Spielberg, que considera ser um dos filmes da sua vida. É benfiquista e sonha um dia conhecer a Nova Zelândia. Na mesa-de-cabeceira tem dois livros, um sobre as grandes batalhas da história de Portugal e outro sobre a história da Segunda Guerra Mundial, de Martin Gilbert. Um dos livros que mais o marcou foi a biografia de Winston Churchill, que diz ter sido o grande contribuidor para a vitória das democracias na Europa.Confessa que era um aluno mediano que não se metia em alhadas. Detesta a desonestidade, deslealdade e a falta de palavra. Diz que os pais são sempre o pilar fundamental no esforço que os alunos têm de fazer para alcançarem bons resultados.