Corria o ano de 2007 quando onze homens, insatisfeitos com a ausência de festas no Cartaxo deram vida a uma associação capaz de organizar eventos e mostrar aos visitantes e às gerações vindouras as raízes da cidade ribatejana onde os toiros e o vinho são dois dos ex-libris. Foi assim que nasceu a Associação Gentes do Cartaxo. Durante dois anos reuniram-se na garagem de um dos fundadores e graças à sua carolice organizaram a primeira edição das festas da cidade em Junho de 2007, apenas quatro meses depois da formalização da colectividade.Sete anos volvidos a associação continua a promover as festas, que este ano decorrem de 19 a 24 de Junho, e ao longo do ano dinamizam na sua tertúlia actividades que continuam a dar vida à tradição. César Vasconcelos é o presidente da associação, cargo que até ao início deste ano havia sido ocupado por Délio Pereira, actual presidente da União de Freguesias do Cartaxo e Vale da Pinta. Hoje é a Gentes do Cartaxo que garante a manutenção da Praça de Touros da cidade, que muitos defendem ser a segunda mais antiga do país, depois de em 2009 o espaço lhes ter sido cedido pela Câmara Municipal do Cartaxo. No ano passado a realização da primeira Corrida de Gala à Antiga Portuguesa no Cartaxo levou a que os amigos e sócios pintassem voluntariamente a Praça de Touros. O esforço acabou por ser reconhecido com casa cheia e por ser considerado um dos três espectáculos a nível tauromáquico mais importantes de 2013. Este ano voltará a ter nova edição, a 20 de Junho, no decorrer das Festas da Cidade.“Todos os empresários que passaram por aqui só visavam o lucro próprio. Nós não. O pouco lucro que temos tido nas corridas de touros tem sido quase todo para investir aqui no imóvel”, disse a O MIRANTE César Vasconcelos.Sem fins lucrativos e com o objectivo primeiro de promover as Festas da Cidade do Cartaxo, a associação sobrevive através das quotas dos sócios e das receitas que vai angariando nas actividades que dinamiza. Actualmente conta com mais de quatro centenas de associados.Com um diversificado programa anual, a Gentes do Cartaxo organiza colóquios, noites de fado e as corridas de toiros que marcam a época tauromáquica na cidade. Este ano serão quatro os espectáculos. Durante o ano dinamizam ainda uma escola de fado, voltaram a criar um grupo de forcados e promovem o contacto dos mais jovens com o cavalo, como é o caso da actividade “A Criança e o Cavalo”, que regularmente têm desenvolvido na Praça de Touros.O presidente da Associação Gentes do Cartaxo é um aficionado que se dedica com paixão ao associativismo. Não esconde a vontade de preservar a tradição e defende que cada vez mais é essencial tornar as associações auto-sustentáveis. “As colectividades cada vez mais têm que ser independentes, não podem estar à espera dos apoios camarários. A tarefa não é fácil, mas temos conseguido”, diz a O MIRANTE César Vasconcelos. Este ano as festas da cidade, como tem sido apanágio, voltam a promover a interacção entre as colectividades do concelho, nomeadamente no tradicional desfile etnográfico. “As festas da cidade provavelmente são das festas que traz mais gente ao Cartaxo, porque estão no centro da cidade”, disse, defendendo também que a Feira de Todos os Santos volte ao centro, “porque os grandes eventos têm que ser feitos nos centros das cidades, vilas ou aldeias”, defende.Espectáculo tauromáquico de oportunidade aos jovens a 1 de MaioOrganizado pela Associação Gentes do Cartaxo, no dia 1 de Maio, a partir das 16h00, a Praça de Touros do Cartaxo acolhe o primeiro espectáculo tauromáquico da temporada. Uma corrida para dar oportunidade aos jovens com um cartel composto pelos cavaleiros Manuel Oliveira, Francisco Parreira, António Núncio e Bernardo Salvador. No toureio a pé lidam Sérgio Nunes, Rúben Correia e Rui Regateiro. As pegas serão consumadas pelo Grupo de Forcados Amadores do Cartaxo. Musicalmente o espectáculo tauromáquico é abrilhantado pela Banda da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta. Os bilhetes custam 5 euros e podem ser adquiridos na Casa da Fortuna, no Cabeleireiro Frazão ou na bilheteira da Praça de Touros no próprio dia do espectáculo.Um ex-forcado que não esquece os tempos nos Amadores do CartaxoCésar Vasconcelos, 43 anos, natural do Cartaxo, recorda com saudade os tempos em que foi forcado no Grupo de Amadores do Cartaxo e defende que os forcados são “uma grande escola de vida, na qual se fazem grandes amizades e se aprende a ter respeito pelas pessoas”. Foram oito anos que considera dos melhores da sua vida. Foi com o avô paterno que adquiriu o gosto pela festa brava. “Íamos à feira de manhã dar uma voltinha e depois à tarde o meu avô trazia os netos para assistir à corrida da Feira dos Santos e ficávamos sempre na primeira fila. Desde aí que o bichinho ficou”, confessa César Vasconcelos. Responsável de departamento de aprovisionamento numa empresa de carroçarias frigoríficas, César Vasconcelos diz que “é fácil” conciliar a vida profissional com o associativismo, apesar de reconhecer que muitas vezes é a família que acusa a sua ausência.A associação pretende dar continuidade ao trabalho que tem desenvolvido e anseia que mais associados se possam juntar a estas gentes de bem onde o ambiente de tertúlia é uma realidade. A tertúlia da Gentes do Cartaxo, na Praça de Touros, está aberta aos sábados e domingos a partir das 14h00, local onde se joga uma cartada e onde não falta o bom vinho do Cartaxo a acompanhar um petisco.