Sou Coronel de Infantaria na reforma. Sempre quis ser militar de carreira. O meu pai e tios eram militares e fui influenciado pelo gosto e pela aventura que esta actividade me iria proporcionar. Assim que concluí o liceu, com 17 anos, entrei na Academia Militar. Seguiram-se quatro anos de internato e um de estágio (tirocínio). Fiz o percurso militar durante 35 anos e estive quase sempre em Santa Margarida, tendo chegado ao topo da carreira. Há cinco anos saí para me dedicar ao ensino uma vez que passei a dar aulas na Universidade de Medicina Chinesa.Ingressei em algumas missões no estrangeiro. Lidei com pessoas com culturas e pensamentos diferentes, o que é sempre muito complexo, difícil, mas muito interessante. Participei numa missão de observador militar da ONU na Macedónia (ex-Jugoslávia) entre 1996 e 1997. Estive em Moçambique de 2005 a 2007, onde participei no levantamento da Academia Militar de Nampula. Foi um trabalho muito interessante, pois trabalhei em toda a parte burocrática e depois assisti à concretização física do projecto.Gosto de diversificar os meus conhecimentos. As minhas filhas já estavam encaminhadas quando fiz um curso relacionado com Medicina Chinesa. Tanto eu como a minha esposa já estávamos ligados às medicinas alternativas e sempre me atraiu a filosofia oriental. Senti que me faltava qualquer coisa para complementar a formação militar e tirei o curso entre 1998 e 2002. Ia às aulas aos fins-de-semana e estudava e praticava com a minha esposa (que também tirou o curso na mesma altura) em casa, conseguindo assim conciliar com o cargo de professor na Academia Militar.O bom da Medicina Chinesa é que trata a origem do problema. A medicina convencional trata os sintomas. Tenta-se tratar de vez a raiz da patologia e não o sintoma em si. É isso que mais admiro na Medicina Chinesa. Antes de fazer o curso de Medicina Chinesa já era paciente e actualmente trabalho nas clínicas do Dr. Pedro Choy em Tomar, Santarém e Odivelas, tendo deixado o ensino por me ocupar o tempo restante e obrigar a viagens constantes para Lisboa.A gelataria “Gulosyversátil” está ligada a produtos naturais. A base do nosso gelado é o iogurte, mais saudável e rico em vitaminas do que um gelado de nata. Os nossos produtos são à base de frutos e os molhos com baixo teor de açúcar. Abrimos a gelataria em Julho de 2013. A ideia surgiu numa visita que fizemos a uma gelataria deste género em Leiria. Surgiu a vontade de montarmos uma casa idêntica no Entroncamento, embora mais virada para produtos naturais e mais saudáveis, uma vez que não havia nada do género na nossa cidade. Montei o negócio em conjunto com as minhas filhas que estavam licenciadas mas desempregadas. Nunca me imaginei no papel de empresário. Por isso, fiz um levantamento exaustivo de tudo o que era necessário em questões materiais e avancei. Encontrámos um espaço amplo e luminoso e, em seis meses, abrimos. Toda a loja foi montada e decorada por mim e pelas minhas filhas. O nome encaixa-se no conceito da loja. É guloso mas também é versátil pois podemos combinar os vários ingredientes conforme o gosto do cliente. Pensamos poder vir a criar um franchising e expandir o negócio a cidades vizinhas ou até ao resto do país.Sou adepto do ditado “não guardes para amanhã o que podes fazer hoje”. Adapto-me com facilidade às situações mas tenho uma rotina forte. As segundas e quintas-feiras são os meus dias livres. Às terças, quartas, sextas e sábados estou nas clínicas. Sou bastante calmo até me chegar a mostarda ao nariz (risos). Sou organizado, meticuloso e gosto de sentir que tenho o controlo sobre a minha vida. O contacto com outras pessoas fora da vida militar obrigou-me a modificar a minha maneira de ser. O rigor militar teve que ficar um pouco de lado, apesar de gostar de planear e de cumprir os horários e compromissos. De um modo geral consigo dar a volta ao imprevisto. Tento ser uma pessoa optimista e ver as coisas pelo lado positivo. Tudo o que é negativo deito para trás das costas. Gosto de fazer as coisas o melhor que sei e posso, tendo como base a família que é o que me move.Não tenho necessidade de tempo só para mim. Gosto de, às vezes, estar sossegado no meu canto a ler ou a ver televisão. Gosto de ir para a praia mas não posso apanhar muito sol. Não tenho muito tempo livre mas também não desligo o telemóvel nem sinto necessidade de o fazer. Gosto de fazer bricolage, fazer pequenos arranjos e decorações. Já fiz alguns cruzeiros, já saltei de pára-quedas e já andei num balão de ar quente, entre outras actividades radicais. Apesar de ainda não me considerar velho, já vivi quase tudo o que tinha a viver, entre experiências boas e más. Mesmo as más são positivas porque acabam por formar o nosso carácter. O meu sonho era ver as minhas filhas bem, a trabalhar na área para a qual andaram tanto tempo a estudar, coisa que neste momento em Portugal se torna quase impossível.Elsa Ribeiro Gonçalves