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Jovem de Almeirim responsável pela produção de vinhos nos Estados Unidos da América

Vítor Guimarães é engenheiro agrónomo com um mestrado em viticultura e enologia e foi forçado a emigrar

Filho de um produtor de vinhos começou, ainda em criança, a ajudar o pai na vinha e na adega e foi com a intenção de dar continuidade ao negócio de família que escolheu o curso superior que tirou. A crise acabou por lhe trocar as voltas e agora vive em Bristow, cidade do estado da Virgínia onde além de ajudar a produzir vinhos, organiza casamentos e outras festas.

Aos onze anos, Vítor Guimarães já ajudava o pai nas vindimas e a cuidar da adega da família, em Almeirim. Na altura de escolher um curso superior foi com naturalidade que optou por ser engenheiro agrónomo. A seguir fez um mestrado em viticultura e enologia. O objectivo era trabalhar no negócio da família mas a crise trocou-lhe as voltas. O pai teve que fechar a empresa e ele teve que procurar trabalho noutro lado. Enviou currículos para todo o país mas nunca obteve resposta. As poucas entrevistas de emprego a que foi eram para áreas diferentes da sua. Um dia viu um anúncio online onde um emigrante nos Estados Unidos da América (EUA) pedia um enólogo português para trabalhar na sua adega e candidatou-se. Quando já tinha esquecido do currículo enviado para os EUA e estava quase a aceitar um emprego fora da área dos vinhos o emigrante português contactou-o para lhe perguntar se ainda estava interessado no emprego. Aceitou e partiu no Verão de 2011. Confessa que foi o melhor que fez. Actualmente vive em Bristow, uma cidade do estado da Virgínia, no sul dos EUA, a 30 minutos da capital do país, Washington DC. Aos 29 anos é o responsável por uma vinha com quatro hectares que produz cerca de 20 mil litros de vinho por ano e que são engarrafados na adega da Quinta que tem um salão para casamentos e outras festas e uma sala de provas de vinhos, que abre aos fins-de-semana para receber clientes. “É um conceito que existe muito na América e que agora se começa a estender a outros países”, explica a O MIRANTE.Para Vítor Guimarães emigrar nunca foi um objectivo. A namorada, também natural de Almeirim, foi ter com ele dois meses depois da sua partida, apesar de ter emprego estável em Portugal. Na sua companhia, a ‘aventura’ por terras americanas tem sido “muito” mais fácil. Ela agora trabalha ao seu lado na adega. “A minha namorada já tinha trabalhado em vinhas mas nunca em adegas. Aprendeu rápido e tem dado uma grande ajuda. Sem ela seria tudo mais complicado”, confessa.Não vem a Portugal há mais de um ano porque o volume de trabalho não lhe permite ausentar-se com frequência e por isso tem sido a família a visitá-lo de vez em quando. Este ano tem planeada uma visita a Almeirim pelo Natal. Explica que não ficou completamente surpreendido com o que encontrou nos Estados Unidos da América porque sempre viu muitos filmes e séries norte-americanas mas descobriu coisas novas, a começar pela simpatia e educação das pessoas, no local onde vive. “Quando vou ao supermercado, por exemplo, as pessoas cumprimentam-nos mesmo sem nos conhecerem. E são muito prestáveis”, conta.Diz que a cidade de Bristow, no Condado de Prince William, que tem uma população de cerca de 15 mil habitantes, é parecida com Almeirim. “Não é muito grande e é segura. É uma cidade pacata onde nos podemos deslocar a pé ou de bicicleta. Fica na transição entre o campo e a zona mais urbana e é considerada um ‘dormitório’ de Washington”, explica. A principal diferença é mesmo o dinheiro. O enólogo explica que neste momento ganha pelo menos o dobro do que um profissional da sua área em Portugal que tenha já alguns anos de experiência. As únicas coisas mais caras nos EUA são a compra de casa e o seguro de saúde. “A comida não é cara e conseguimos comprar roupa de marca por preços muito acessíveis”, diz. Em relação ao clima, a única diferença é que o Inverno é mais rigoroso e o Verão mais húmido do que em Portugal. Vítor Guimarães afirma que os EUA continuam a ser a ‘terra das oportunidades’ com muita gente a chegar ao país sem nada e a conseguir ganhar dinheiro. Dá o exemplo do seu patrão, transmontano, que emigrou há 40 anos e conseguiu construir um pequeno ‘império’ com várias empresas. Além das saudades da família e dos amigos - que vai colmatando através da internet - Vítor sente falta de uma boa sopa de pedra, das “caralhotas” [pão caseiro] de Almeirim e de peixe fresco grelhado. Na sua cidade existe uma comunidade portuguesa e alguns restaurantes de comida portuguesa. No entanto, confessa, também a comida já foi “americanizada”.Na sua opinião, em Portugal as pessoas trabalham mais e são mais organizadas do que nos EUA onde, segundo ele, “muita gente ganha muito dinheiro para o volume de trabalho que produz”. Apesar de estar longe acompanha com muita atenção o que se passa em Portugal. Na área em que trabalha vai conhecendo alguns americanos que sabem onde fica Portugal mas, diz, a maioria dos americanos nunca ouviu falar do nosso país. “A maioria dos americanos não tem grande conhecimento do mundo. Muitas pessoas nunca saíram, nem pretendem sair, do Estado em que vivem por isso é difícil interessarem-se pelo que se passa fora do seu país”, conta.Regressar a Portugal está nos planos de Vítor Guimarães mas não para já. Não gosta de fazer planos a longo prazo. Vai vivendo um dia de cada. Se surgirem oportunidades noutros países não fecha as portas. Por enquanto vai ganhando experiência mas confessa que quando se chatear também faz as malas e volta porque ainda não desistiu de abrir o seu próprio negócio de produção e venda de vinhos.

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