Desalinhado Serafim das Neves
A senhora do CDS/PP da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira que ficou sentada quando o resto do pessoal desatou a cantar a “Grândola Vila Morena”, não fez nada demais. Eu próprio costumo ficar refastelado no sofá de cerveja na mão quando toca o hino nacional antes dos jogos da selecção e não acho que seja fascista ou traidor à Pátria. Além do mais, se os seus colegas tiverem cantado a Grândola tão afinados como os espectadores dos jogos de futebol cantam o hino, é de enaltecer ela não ter tapado os ouvidos com as mãos ou desatado a fugir.O ano passado, quando andavam para aí uns maduros a cantar a Grândola Vila Morena a todos os Ministros que encontravam, deu para perceber que não é só o hino que cantamos mal. É tudo o que tiver mais que duas ou três notas. Safa-se o fado mas mesmo assim já tenho ouvido fadistas que mais parecem lobisomens a uivar e meninas que guincham o Povo que Lavas no Rio como se tivessem visto manadas de ratos ou de aranhões. Quanto àqueles que acham que a senhora é uma fascista e que devia ser atirada ao rio com um bloco de cimento atirado aos pés, lembro-lhes que esse método de ensino dos valores da democracia e do pluralismo não honra a imaginação revolucionária do PREC, aquele período de tempo que mediou entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, durante o qual a tolerância e o diálogo atingiram máximos históricos.Os mistérios de Ourém, que mencionas no teu último e-mail, não se resumem às obras feitas por uma anónima alma caridosa no campo de futebol da Caridade. Olha que esta semana a câmara municipal decidiu mandar demolir um muro que ela permitiu que fosse construído num terreno onde não é permitido fazer tal coisa. Para concretizar tal decisão os responsáveis autárquicos pediram uma carrada de pareceres a uma carrada de entidades e autoridades, embora, que se saiba, nenhum parecer tenha sido pedido quando a construção do muro foi autorizada. E além disso a câmara arrisca-se a ter que pagar uma indemnização de vários milhares de euros ao dono do muro, uma vez que este só o fez porque foi devidamente autorizado. É verdade que quem lhe passou a licença de construção foi um presidente PSD e quem lhe vai deitar o muro abaixo é um presidente PS, embora a massaroca que vier a ser paga saia dos bolsos dos contribuintes, entre os quais nos encontramos mas seja como for não deixa de ser uma história exemplar que vale a pena contar quando quisermos dar exemplos de boa gestão autárquica. Numa altura de tanto desemprego, começar por dar trabalho ao pessoal que fez o muro e agora manter aqueles postos de trabalho com a decisão de o demolir, é de mestre.No dia 25 de Abril não fui a festarolas nem a manifestações e fugi de todos os locais onde havia provas desportivas e aulas de zumba. Isto para não falar dos catitas com cravos vermelhos na lapela. Quarenta anos é tempo mais que suficiente para perceber que as unanimidades não dão bons resultados. Nem sequer as unanimidades de Abril. Há anos que pratico o pluralismo e fujo de ajuntamentos. As multidões são muito indigestas e o pensamento único faz-me umas dores de cabeça do caraças!Saudações desafinadas Manuel Serra d’Aire
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