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“Dizem que isto está a melhorar mas os trabalhadores ainda não viram nada”

“Dizem que isto está a melhorar mas os trabalhadores ainda não viram nada”

Dirigente da UGT Santarém fala dos problemas do mundo laboral em mais um 1º de Maio

António Carvalho Carreira é líder da UGT Santarém, da estrutura distrital dos Trabalhadores Social-Democratas e coordenador regional do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. Em vésperas das comemorações de mais um Dia do Trabalhador, assume que nalguns casos a greve banalizou-se como forma de luta e que as manifestações nem sempre são a arma mais eficaz para fazer vingar os argumentos. Sindicalista e militante do PSD, admite que por vezes não é fácil conciliar as duas facetas. Mas o seu compromisso primeiro é com os trabalhadores. “Sem sindicatos não há democracia”, diz.

O que faz no seu quotidiano um dirigente sindical?Primeiro tento resolver os problemas dos colegas, porque cada vez há mais desemprego, que cria instabilidade nas famílias. O distrito de Santarém não está bem, tal como não está o país. O desemprego parece que abrandou, mas não foi tanto como gostaríamos e as perspectivas de emprego não são muito animadoras. Embora digam que isto está a melhorar, os trabalhadores ainda não viram nada. É fácil negociar e lidar com as entidades patronais?Com algumas sim, mas com a maior parte não. Umas por necessidade e outras porque aproveitam a crise e vão na onda. Os patrões, geralmente, tentam dar o mínimo aos trabalhadores. O salário mínimo, que já devia estar em 545 euros, continua nos 485 euros. Parece que agora vai haver mexidas, mas um empresário que não consegue pagar mais 15 euros por mês aos seus trabalhadores se calhar não está lá a fazer nada.Os baixos salários também não ajudam a motivar os trabalhadores.Não incentiva nada, porque as pessoas têm cada vez mais dificuldades. Com salários baixos não há poder de compra e o próprio comércio ressente-se disso, com muitas lojas e empresas a fechar e, com isso, é emprego que se perde.É militante do PSD e dirigente sindical. Um Governo do seu partido é acusado por alguns sectores de ter sido dos que mais atacou os direitos dos trabalhadores. Corrobora esta leitura?É evidente que isso é verdade. Mas também é verdade que o país estava como todos sabemos. Embora não concorde muito com todas as medidas que este Governo tem tomado, o Governo anterior gastou, gastou, gastou e estávamos à beira da bancarrota. Mas há mais vida para lá da austeridade e o Governo tem que ver onde pode ir buscar outras receitas, pois não pode continuar a ir aos bolsos dos trabalhadores, pois estão vazios.Sente-se confortável quando contesta algumas medidas do Governo liderado pelo seu partido?É um bocado desconfortável, sobretudo numa altura de crise como esta. Mas uma coisa é ser militante do PSD e outra coisa é a actividade sindical, onde estou para defender os trabalhadores. Isso não impede que eu diga o que está bem e o que está mal na minha perspectiva.Os dirigentes do seu partido nunca lhe fizeram nenhum reparo?Por vezes não gostam muito daquilo que digo. Mas como toda a minha vida fui trabalhador, estou cá é para defender os trabalhadores e não para defender o grande capital, embora também precisemos dele quando é honesto. Precisamos que o país cresça e que o desemprego pare de aumentar. Há muita família a passar fome.O desemprego é um dos grandes problemas da actualidade.Sim. Nunca tivemos uma juventude tão bem formada e a maior parte é obrigada a emigrar porque no seu próprio país não consegue arranjar emprego. A precariedade laboral é outro problema, bem como a pressão sobre os trabalhadores sindicalizados. Com o aumento do desemprego e com o trabalho precário têm perdido filiados?Exacto. Quanto menos sócios tiverem os sindicatos pior para o movimento sindical. Porque acaba por perder força. E sem sindicatos não há democracia. Os trabalhadores têm mais força se estiverem filiados. Qual era a melhor prenda que os trabalhadores da região podiam receber neste primeiro de Maio?A melhor prenda era haver emprego pleno para todos. Não pode haver alegria e satisfação nas famílias sem que todos tenham um emprego digno. Foi nesse sentido que se fez o 25 de Abril.Celebrou o 1º de Maio de 1974, uma semana depois da Revolução dos Cravos?Celebrei e costumo celebrar todos os anos. Como dirigente da UGT todos os anos participo, habitualmente em Lisboa no desfile da Avenida da Liberdade.Como bancário, como viu alguns dos escândalos que envolveram a nossa banca?Vejo isso muito mal. Enquanto a justiça não funcionar neste país está tudo mal. Enquanto não prenderem um dos grandes cabecilhas, dos grandes senhores que fizeram com que o país esteja nesta situação o problema da justiça não se resolve em Portugal. “Os trabalhadores portugueses são dos melhores da Europa”Quais são as vossas relações com a União de Sindicatos de Santarém, afecta à CGTP-Intersindical?As nossas relações não são boas nem más, praticamente não existem.São raras as manifestações da UGT na região, ao contrário da CGTP. Porquê?O nosso sindicalismo é diferente. Apostamos no diálogo para resolver a maior parte dos problemas. Não quer dizer que as manifestações não devam existir, mas nós temos conseguido resolver problemas sem as realizar. A paz social que existe neste país deve-se em parte à UGT, que assinou o acordo de concertação social. Tudo aquilo que foi assinado pela UGT foi cumprido, tudo aquilo que foi assinado pelo Governo ainda estamos à espera que cumpra, como por exemplo algumas portarias de extensão que ainda não saíram.Acham que o barulho nas ruas não resolve nada?Não digo que não resolva, mas o nosso sindicalismo é de tentar resolver os problemas pelo diálogo. Nunca fechamos as portas. Mas se o Governo não cumprir a sua parte do acordo, a UGT não assina mais acordo nenhum.Há determinados sectores, como o dos transportes públicos, em que as greves são recorrentes, causando grandes transtornos aos utentes. Não há uma certa banalização dessa forma de luta?Acho que sim. A greve é a última arma dos trabalhadores. Quando a greve é utilizada constantemente deixa de produzir o efeito para o qual foi criada.Como se explica que a maior parte das greves gerais tenham grande impacto na função pública e um impacto reduzido no sector privado?Nas empresas privadas é mais fácil exercer pressão sobre os trabalhadores do que na função pública. Por outro lado, os funcionários públicos têm sido os mais castigados pelo que é natural que haja mais adesão a essa forma de luta.Concordou com a extinção de alguns feriados e com os argumentos aduzidos pelo Governo?Não concordo. Os feriados foram extintos por causa dos empresários e do grande capital. O código de trabalho está cada vez mais flexível e os trabalhadores não dão mais produtividade se não forem motivados. Os trabalhadores portugueses são dos melhores da Europa.A relação entre patronato e trabalhadores tem-se desequilibrado?Tem. O patronato cada vez tem mais força, em detrimento dos sindicatos. E os prejudicados são sempre os trabalhadores.Um sindicalista sem grandes ambições políticasAntónio Carvalho Carreira nasceu em 11 de Dezembro de 1943 na Moçarria, freguesia do concelho de Santarém. Casado e pai de dois filhos, vive em Santarém há quarenta anos. Este bancário aposentado, estudou em Santarém onde fez o sétimo ano do liceu.Militante do PSD desde 1978, assume que nunca teve grandes ambições políticas. Dedicou-se ao sindicalismo e à defesa dos trabalhadores, embora tenha passado também pela Assembleia Municipal de Santarém, entre 2001 e 2005, e pela Junta de Freguesia de Marvila na década de 1980.É coordenador distrital do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas desde 2001, presidente da UGT Santarém desde Maio de 2010 e líder distrital dos TSD (Trabalhadores Social-Democratas). “Se fosse dirigente partidário ou autarca não tinha tempo para o trabalho porque infelizmente há problemas em todo o lado”, diz o dirigente sindical.“Vejo Santarém com pouco desenvolvimento”É uma pessoa de Santarém. Como vê a cidade na actualidade?Vejo a cidade com pouco desenvolvimento. Precisávamos de mais indústria, por exemplo. Santarém tem a vantagem de estar perto de Lisboa mas se calhar essa proximidade também é uma desvantagem. Muitas pessoas preferem fazer as suas compras em Lisboa em vez de fazerem no comércio local. Como foi possível a Câmara de Santarém ter chegado aos 100 milhões de euros de dívida?Foi possível porque as pessoas, por vezes, gastam o que têm e o que não têm. Defendo que deve haver um limite de endividamento para todas as instituições. O primeiro mandato de Moita Flores não foi mau, mas ele disse que vinha para resolver os problemas de Santarém e não só não resolveu como deixou uma dívida desse valor.O concelho não tem uma área para instalação de grandes empresas. É uma pecha grave do poder político que geriu o concelho nas últimas décadas?Acho que sim. Se não há cá mais empresas é porque os empresários encontram melhores condições noutros concelhos para se instalarem. Tudo me leva a crer que as condições que têm sido dadas não são as melhores. E sem empresas não há desenvolvimento nem há emprego. O que espera do executivo camarário para este mandato?Conheço bem o Ricardo Gonçalves e a equipa. Espero um bom trabalho em prol do desenvolvimento da cidade e do concelho. Tenho boas expectativas, mas sei que a dívida da câmara é grande e não se podem fazer omeletas sem ovos.
“Dizem que isto está a melhorar mas os trabalhadores ainda não viram nada”

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