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Arnaldo Cardoso

Arnaldo Cardoso

Empresário, 77 anos, Sardoal

“A falta de médicos no concelho de Sardoal é uma constante e uma realidade que me preocupa. É uma necessidade muito grande para as populações a boa assistência ao nível dos cuidados de saúde”* * *“O meu compadre finlandês, quando veio a Portugal, disse-me que não compreendia como o nosso país, pequeno mas com potencialidades para se bastar a si próprio na parte alimentar, tinha de importar cereais e peixe de outros países”

Atravessamos uma crise de valores?Penso que sim. A família, que é o elo principal da sociedade e a pedra angular onde tudo se encontra, está de certo modo a perder a sua força. Se não vivesse onde vive, onde gostaria de viver?Não me ausentei da minha terra onde nasci, que é o Sardoal. Fui assediado para ir para Ponte de Sor, Vila Nova da Barquinha e para Vale de Cambra. Prendi-me à minha terra, de que gosto muito, prendi-me à minha família que sempre amei e respeitei e é aqui que gosto de estar.Qual a figura feminina que mais admira?Neste momento, tenho uma projecção para a minha esposa com quem vivo e partilho a vida, dificuldades, alegrias e tristezas já há mais de 50 anos.Qual a estação do ano que prefere?Tenho uma predilecção especial pela Primavera e pelo Outono. Porque na Primavera toda a natureza renasce, transforma-se. No Outono, temos a nostalgia das pétalas que caem e faz-nos meditar, faz-nos pensar, faz-nos recordar o passado e projectar o futuro.Qual o alimento que não comia nem que lhe pagassem?Não sou esquisito e portanto não tenho problemas nenhuns. Em 1958, com dificuldades de alimentação, no interior do nosso Alentejo, eu mais um grupo de marotos fizemos a maldade - porque a fome assim o exigia -, de apanharmos rãs num charco. Assámos as perninhas de rã e souberam uma maravilha. Mas não havia pão. Eu sabia, pelos mapas de orientação militar, que havia uma padaria perto e às tantas da noite fizemos um pequeno desvio de um jipe e fomos ter com o senhor para nos vender pão.Já lidou alguma vez com um exemplo gigante de burocracia?Encontrei a burocracia quando pretendi fazer o registo da firma da qual ainda faço parte. Na altura não o pude fazer por muitos problemas de registo, porque já existia uma empresa com o mesmo nome em território nacional. Foi há 34 anos. A área da Saúde em Portugal funciona bem?Gostaria de vê-la funcionar melhor. E muito concretamente nas zonas do interior que são as que estão mais envelhecidas. A falta de médicos no concelho de Sardoal é uma constante e uma realidade que me preocupa. É uma necessidade muito grande para as populações a boa assistência ao nível dos cuidados de saúde.Tem alguma superstição?Não. Era menino e moço, com 12 anos, ia para casa depois dos meus serões de trabalho e nesse tempo a luz apagava-se por volta da meia-noite. No caminho entre o meu posto de trabalho e a casa dos meus pais, vejo num cruzamento de ruas uma senhora vestida de preto. Qualquer pessoa se assustava naquele momento. Não corri, mas continuei a passo acelerado. No dia seguinte, fui à entrada do mercado diário e perguntei a uma certa pessoa se na noite anterior estava na rua. Ao que me respondeu que sim, que estava à espera do filho que tinha ido ao barbeiro…Se lhe concedessem três desejos, qual escolheria?Sentir que não havia fome no planeta, sentir que o meu próximo vivia melhor e sentir que a família se mantinha unida. Felizmente a minha família tem-se mantido sempre unida.O que é que o faz ficar horas em frente ao televisor?Gosto de ouvir as notícias e há programas que faz sentido existirem. Faz falta haver mais programas que dêem a conhecer aquilo que de bom o nosso país tem. Tenho um exemplo muito concreto, do meu saudoso compadre finlandês, que era director das florestas da Finlândia. Quando veio a Portugal disse-me que não compreendia como o nosso país, pequeno mas com potencialidades para se bastar a si próprio na parte alimentar, tinha de importar cereais e peixe de outros países quando tem condições para ter isso tudoQuando foi a última vez que viu nevar?Era menino e lembro-me de ter brincado a fazer um boneco de neve aqui no Sardoal.O que é preciso para se ter uma boa vida?Saúde, respeitar e ser respeitado.O que é que o preocupa mais?Preocupa-me o futuro. Não para mim mas para os meus três netos e para os nossos jovens.
Arnaldo Cardoso

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