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É com a ponta da agulha que marca na pele histórias de vida

É com a ponta da agulha que marca na pele histórias de vida

A mestria no manuseamento da agulha e da tinta de José Algarvio atrai todo o tipo de pessoas à Póvoa de Santa Iria. O tatuador fez dessa arte a sua vida e não está arrependido.

As tatuagens estão cada vez mais em voga e atraem pessoas de todas as faixas etárias. Algumas querem gravar na pele os rostos ou os nomes de pessoas marcantes nas suas vidas, outras entregam-se à arte do desenho artístico e preferem imagens que aludam a sua forma de vida e ainda há quem pretenda tatuar o corpo como forma de se manter na moda. É isso que nos diz o tatuador José Algarvio, cuja loja na Póvoa de Santa Iria chamada “Tribal Tattoo” atrai cada vez mais gente do concelho e de vários cantos do país. “Os trabalhos que me dão mais prazer são os mais complexos, onde posso desenvolver a minha arte apesar de aceitar fazer até os trabalhos considerados mais comerciais”, afirma o habitante da cidade do concelho de Vila Franca de Xira que é tatuador há mais de 18 anos. Algarvio não esquece os preconceitos que existiam quando começou a tatuar. Quem tinha tatuagens era considerado ex-recluso, drogado ou vândalo mas, segundo o próprio, agora a tendência mudou muito por influência dos jogadores de futebol, músicos e personalidades famosas que ostentam as suas tatuagens. “No meu tempo era considerado um bandido mas sempre tive o apoio da minha mãe, que era o mais importante para mim”, refere. A ideia de que as tatuagens pudessem trazer doenças para a pele também já está ultrapassada. “Uma das nossas prioridades na loja é a limpeza e a esterilização do material”, vinca. Nascido em 1976, José Algarvio cedo desenvolveu uma apetência especial pelas marcas no corpo. Fascinavam-lhe as tatuagens que alguns familiares tinham dos tempos da sua passagem pela guerra do Ultramar e aos quinze anos fez a sua primeira tatuagem com a ajuda de um primo. “Foi tudo muito caseiro. Ele pegou numa agulha e em tinta da China e começou a picar-me”, conta. O resultado não foi bom e passado uns meses José decidiu retocá-la com um profissional. Gostou do método como o trabalho era feito e quando chegou a casa com a ajuda do irmão construiu uma máquina de tatuar artesanal que ainda tem exposta na sua loja. “Os primeiros voluntários foram os amigos. Cheguei a tatuar no quintal da minha mãe, mas hoje quando os encontro digo-lhes para passarem na minha loja para eu poder refazer os trabalhos da altura”, afirma em tom de brincadeira.O tatuador decidiu fazer da arte a sua vida. Abriu uma pequena loja em 2000 também na Póvoa e lembra-se que na primeira semana só fez uma tatuagem. “Foram tempos um pouco difíceis. À noite andava a colar cartazes por todo o sítio para fazer publicidade à loja”. Hoje o número de reservas que tem é interminável. Um dos grandes problemas das tatuagens é a eternidade da tinta sobre a pele. É frequente aparecerem jovens que querem tatuar o nome do namorado da altura. “Sinceramente já me cansei de aconselhar para não o fazerem, mas quando são clientes mais chegados ainda tento dizer que não é a melhor opção”. Procura aumenta com a aproximação do VerãoA grande vaga de clientes aparece sobretudo no Verão com a intenção de mostrarem as tatuagens na praia, o que José diz ser errado. “Quando feita, uma tatuagem tem que estar pelo menos 15 dias sem exposição solar”.As tatuagens são dolorosas consoante as partes do corpo que se escolhem mas o resultado final é compensador. Algarvio tem o corpo bastante preenchido e foi o próprio que tatuou quase todo o braço esquerdo. “Quando gosto do trabalho dos meus amigos peço para me tatuarem mas não é uma obsessão”, elucida. O trabalho do tatuador dura até quando sai da loja. São frequentes os dias em que fica até à uma da manhã a desenvolver desenhos para tatuagens. Uma das ideias que o tatuador está a desenvolver é o cubismo, que tem a sua marca pessoal e que está a ter cada vez mais adeptos na loja. O tatuador já participou em várias convenções em Barcelona e Saragoça e já teve Guestspots (loja convoca um tatuador para trabalhar durante um período de tempo) até na Noruega, onde passou 11 dias. Agora o objectivo é um dia poder ir à convenção de tatuagens em Londres, consideradas das melhores do mundo. “É sempre importante ir ao estrangeiro para se desenvolver novas técnicas e ver outros tatuadores”, conclui José.
É com a ponta da agulha que marca na pele histórias de vida

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