Antes eram apenas as fotografias dos que, chegada a hora, infelizmente partiam, que eram apresentadas nestas colunas para dar conhecimento à família, aos amigos e de um modo geral a toda a gente, do triste acontecimento. Hoje, não há proprietário, administrador, gerente, etc., para não dizer “que não há cão nem gato” de agência funerária que não tenha a sua real fotografia bem escarrapachada nas colunas desta página de necrologia neste jornal. Para quem não for cá do burgo, e que passe os olhos por aquela página, não chega a saber quem são de facto os que morreram ou os que afinal estão ainda vivos. E pergunto eu na minha santa ignorância, para que expõem estes senhores as suas fotografias em igualdade de circunstâncias com aqueles que já não estão fisicamente entre nós? É certo que ainda vivemos num país dito de liberdade, mas que raio, e não é que isso incomode os mortos, naturalmente, mas qual o interesse desta prática? Não bastaria apenas os nomes e contactos das suas empresas, e vá lá, as fotos dos seus equipamentos de trabalho? Para quê esta prática que me parece a mim uma autêntica aberração? Deixo aos mais iluminados sobre estas matérias algum esclarecimento para ver se eu consigo perceber os motivos.José Manuel Lourenço - Santarém