Concelho de Alcanena ambiciona mais projecção na viragem do centenário
Reconstituir os últimos cem anos de história “é uma obrigação e um dever institucional da autarquia”, para que se alcance um maior protagonismo no território regional e nacional.
Palavras fortes e olhares emocionados marcaram a sessão solene de comemoração do centenário do concelho de Alcanena, que teve lugar na quinta-feira, 8 de Maio. A ideia de que ainda muito pouco se sabe sobre a história dos últimos cem anos foi vincada pela própria presidente do município, Fernanda Asseiceira (PS) que falou para convidados, autarcas de concelhos vizinhos e populares, que se dirigiram para a Praça 8 de Maio, num dia em que o tempo convidava a celebração ao ar livre. A autarca considera que Alcanena merece ser um território com mais protagonismo no contexto regional e nacional, mas, para que tal aconteça, é preciso descobrir onde residem os seus valores e os feitos gloriosos que ajudaram na construção dos seus primeiros cem anos de história. “Em Janeiro de 1989, ano em que o concelho assinalou os 75 anos, o saudoso Dr. Guilherme Ramos fez referência à ausência de estudo e de investigação sobre a origem do concelho e a sua história. Em ano de centenário, tendo plena consciência que essa é uma lacuna que importa ultrapassar, a câmara promoveu a recolha de documentos para (re)construirmos esta história dos 100 anos do município”, referiu Fernanda Asseiceira que considera essa uma obrigação e um dever institucional. A autarca lembrou a importância, sobretudo industrial e económica, que Alcanena teve durante décadas do séc. XX, sendo um dos principais pólos industriais e empregadores do país e convidou a população a juntar-se a esta ambição, para que o concelho volte a ganhar protagonismo no contexto regional e nacional.“Honramos a nossa memória quando assumimos rigor na gestão autárquica, quando defendemos os serviços públicos de proximidade”, afirmou a presidente da câmara, que recordou a questão da saída do Tribunal de Alcanena, a perda de extensões de saúde e a extinção de freguesias. Os problemas ambientais e a “má imagem” que o concelho projectou a nível nacional, não foram esquecidos nos discursos. Uma hora antes, o início da sessão solene foi assinalado com o descerrar de uma placa no salão nobre, seguindo-se os discursos dos representantes dos partidos com representatividade nos órgãos autárquicos (ver caixa). Foi ainda apresentada publicamente a medalha comemorativa dos 100 anos e homenageadas várias pessoas, entre antigos autarcas, alguns a título póstumo, e a conhecida investigadora Elvira Fortunato. “Para o país a República, para Alcanena o concelho”, foi a frase mais repetida da tarde, evocando a lei nº Lei 156 de 8 de Maio de 1914, assinada pelo Presidente da República Manuel de Arriaga e pelo ministro do Interior Bernardino Machado.A “sentença” do pároco Diogo Gomes de FriasNo seu discurso, Fernanda Asseiceira evocou um documento do Pároco Diogo Gomes de Frias que no século XVIII, mais precisamente em 1758, respondendo ao patriarcado, a pedido do Marquês de Pombal, dava de Alcanena uma imagem pouco positiva. “Não tinha castelo, não tinha hospital, não tinha Misericórdia, não tinha couto nem conselho, não tinha convento, não tinha privilégios nem outras coisas dignas de memória e não constava que por aqui tivesse nascido varão insigne nem por letras nem por armas. E fábricas tinha uma, de cera”, citou a autarca. Uma visão que, para a autarca, não pode ser considerada como a única, “considerando o muito que falta estudar e investigar, por exemplo, sobre a origem de Alcanena e das suas gentes, sobre o recenseamento da população, sobre os reflexos da Idade Média, sobre o desenvolvimento industrial ou sobre os últimos tempos da Monarquia e os princípios da República. “O que é certo é que após 156 anos, continuando a não ter castelo nem convento mas já com hospital em curso, com mais fábricas e, sobretudo, com muita gente laboriosa, inteligente e determinada, foi criado o concelho de Alcanena”, disse.Farpas da CDU romperam tónica dominante dos discursosA representante da CDU, Carla Pereira, foi a voz mais crítica nesse dia de festa para o concelho de Alcanena, em relação ao rumo que o mesmo leva, chegando mesmo a questionar “se dentro de 15 anos haverá concelho”, dada a perda de serviços, de população e de fulgor económico que se tem verificado nos últimos tempos. “A esperança foi-nos pintada de promessas. Projectos que assumiam toda a importância para a expansão do concelho foram passando de promessas em promessas, de mandatos em mandatos. O “amanhã” seria o dia. Como é o caso flagrante da zona industrial, que mais tarde viria a ganhar forma de parque empresarial e hoje nos chega como um ilusório projecto de plataforma logística, que, por experiência, prevemos resumir-se a um preenchimento de gavetas”, exemplificou. Carla Pereira, que foi a primeira a discursar num salão nobre a abarrotar de gente (a presidente viria a discursar mais tarde na Praça 8 de Maio), rompeu a tónica dominante dos discursos que se seguiram e que incidiram na importância da união de esforços em prol do desenvolvimento do concelho. Num tom bastante eloquente, Artur Rodrigues, do movimento ICA, referiu ser necessário regressar aos tempos “sinceros” do republicanismo inicial de Alcanena e salientou a importância de existir união na defesa das causas públicas. Mais ponderada, Ana Cláudia Coelho, do PSD-CDS, optou por um discurso pela positiva e falou do “dever de cooperar, de ouvir todos e de com todos trabalhar”. Hugo Santarém, vereador do PS, sublinhou “o inegável contributo do PS no desenvolvimento do concelho” no período pós 25 de Abril.
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