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Daniel Gamado abandonou a cidade para pedalar no deserto

Daniel Gamado abandonou a cidade para pedalar no deserto

Praticante de BTT completou uma das provas mais duras em todas as modalidades
É rara a pessoa que aceitaria pedalar 708 quilómetros entre montanhas e desertos mesmo a troco da alguma recompensa monetária. Daniel Gamado fê-lo apenas por vontade pessoal e chegou ao fim de umas das provas mais duras de todas as modalidades. O habitante da Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, foi de Fez até Maadid, em Marrocos, enfrentado trilhos de pedras, dunas, barro e passando por zonas com neve e outras com temperaturas de 50 graus centígrados. De 435 participantes de todo o mundo, 150 desistiram. Daniel finalizou no 247º posto.O desejo de participar no Titan Desert 2014, uma ultra-maratona de BTT que se desenrolou de 27 de Abril a 3 de Maio, começou no ano transacto mas a inscrição acabou por ficar condicionada por uma lesão. “Este ano mentalizei-me, falei com amigos que já tinham participado e treinei durante seis meses para conseguir chegar ao fim da prova”, explica o povoense de 40 anos que admite que quando era mais novo não se interessava por bicicletas. “Esta paixão começou aos 28 anos”, acrescenta, salientando que ia conciliando a participação em provas de BTT com o tempo para cuidar dos seus três filhos.A comparência na competição teve o custo de 5 mil euros, no entanto Daniel conseguiu arranjar diversos patrocinadores e não dispensou dinheiro da sua conta pessoal. Para o ciclista esta foi a aventura da sua vida. “Foi uma experiência enriquecedora e muito dura”, refere o atleta que chegou a chorar em cima da bicicleta devido ao sofrimento físico que a prova impõe.Daniel pedalou durante seis dias contínuos. Começou perto das montanhas do Atlas e acabou já no interior do deserto do Sahara. Conta que havia dias em que tinha que se agasalhar bastante durante a manhã por causa do frio e que chegava ao final da tarde praticamente sem roupa devido às altas temperaturas a que era sujeito. As etapas chegaram a durar mais de 9 horas e bebia cerca de dez litros de líquido por dia. “Ao pequeno-almoço comíamos até ficarmos sem fome porque sabíamos que não íamos parar tão cedo”, afirma. Cada etapa era diferente, ora se subia montanhas de grande altitude, ora se tinha que andar com a bicicleta na mão porque era impossível pedalar na areia.Acordava todos os dias às seis da manhã e à noite dormia dentro de tendas em acampamentos com escolta policial. Com o povoense estavam mais quatro portugueses mas dois acabaram por desistir. Daniel sabia que iria passar por regiões recônditas e algo conflituosas mas nunca se sentiu ameaçado. “A organização foi competente. Tínhamos quase sempre jipes a acompanhar-nos durante o percurso e um helicóptero”, diz. O que mais o surpreendeu em Marrocos foram as condições deploráveis em que algumas pessoas viviam. “Não consegui entender como é que havia gente a viver em terras áridas e onde não havia nada durante quilómetros”, finca o ciclista. Quando se aproximavam das povoações, os participantes eram recebidos de forma eufórica. Daniel também nunca se vai esquecer da forma como um jovem recebeu uma barra energética que trazia consigo. “A princípio teve medo de mim mas depois aceitou com satisfação porque nunca tinha visto aquilo”.Antes da prova, Daniel foi avisado que no momento em que pensasse que ia desistir estava arrumado. “Nunca pensei nisso, aliás a mentalidade com que encarei a prova foi a minha grande arma”, garante. A estratégia era sempre a mesma, partir forte no início da corrida e depois manter-se estável até ao final. Para encarar o desafio, o povoense treinou durante seis meses onde fazia cerca de duas horas de bicicleta por dia e perdeu quatro quilos para estar na forma ideal. “Estava preparado para o pior”, conclui.Andar perdido durante 25 quilómetrosSem nada que traçasse o caminho, as indicações no Titan Desert são colocadas em pontos estratégicos de forma ocasional. Os participantes ou sabiam trabalhar com bússolas ou tinham que se orientar por eles próprios, como foi o caso de Daniel Gamado. Numa das últimas etapas, o povoense acabou por se perder e recorda-se de andar sozinho no meio do deserto por mais de 25 quilómetros. “Encontrei uma casa mas os habitantes só sabiam falar árabe e não me conseguiam ajudar”, conta Daniel que estava preocupado em acabar a prova no tempo limite. Por fim, resolveu voltar para trás e encontrou o trilho de um jipe que seguiu até terminar a corrida confessando que foi uma sorte ter conseguido terminar a prova.
Daniel Gamado abandonou a cidade para pedalar no deserto

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