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“Não sou de andar a fazer piruetas e cambalhotas políticas”

“Não sou de andar a fazer piruetas e cambalhotas políticas”

Presidente da Câmara da Golegã esperava solidariedade do seu antecessor e diz que há uma estratégia política para o derrubar

O novo presidente da Câmara da Golegã, o socialista Rui Medinas, sucedeu a Veiga Maltez num processo que culminou com uma zanga entre ambos. O antecessor acabou por integrar uma lista independente e ser eleito presidente da assembleia municipal. O relacionamento entre ambos é meramente institucional. Rui Medinas abre o jogo sobre o que pensa de Maltez, com quem conviveu como vereador e vice-presidente, para dizer que a proposta do PSD para homenagear o ex-presidente da câmara não foi inocente. Medinas fala em estratégia para as próximas eleições autárquicas. As declarações são uma espécie de ajuste de contas político de quem se diz mais preocupado com o concelho e com o desenvolvimento da Golegã como capital do cavalo.

António Palmeiro/João CalhazO que aconteceu para se chatear com o ex-presidente da câmara, Veiga Maltez, de quem foi vice-presidente? No PS sempre entendemos e respeitámos que o candidato à câmara deveria escolher a sua equipa. Isso sempre aconteceu nos mandatos do dr. Veiga Maltez. Prevaleceu sempre a vontade pessoal do candidato. Entendi, quando chegou o momento de ser candidato, ter o mesmo tipo de prerrogativa. Fiz as escolhas e dei a informação a quem tinha que dar, incluindo Veiga Maltez. O único motivo que encontro foi a não concordância dele com as minhas escolhas. Esperava a solidariedade dele? As atitudes são pessoais. O que esperaria era que houvesse um entendimento de que estando na condição de candidato seria eu a escolher as pessoas. Até porque o nosso posicionamento foi sempre esse em relação ao dr. Veiga Maltez. Nunca deixei de assumir as minhas posições, de ser solidário com o PS e com as pessoas que integraram as listas. O que esperava era o mesmo tipo de atitude que foi tida para com ele.Foi uma traição? Isso era se andasse enganado com uma pessoa que em determinado momento tem uma reacção surpresa. Se há pessoa que conhece bem Veiga Maltez sou eu. Poucas pessoas tiveram oportunidade de conviver com ele como eu convivi.Então foi a vertigem do poder… O que sei é que as pessoas não devem ter atitudes diferentes para situações iguais, apenas e só porque a sua condição pessoal muda. É uma atitude que reprovo.Veiga Maltez foi eleito presidente da assembleia municipal. Como é o vosso relacionamento agora? O relacionamento é institucional, correcto e cordial como tem de ser entre um presidente de câmara e um presidente de assembleia municipal. Da minha parte não haverá qualquer tipo de atitude que possa beliscar o relacionamento institucional.Nunca chegaram a falar sobre o que aconteceu? Não! E saberei sempre separar o que são relacionamentos pessoais de institucionais.Discorda da homenagem que foi feita a Veiga Maltez com a atribuição do seu nome a um largo de Azinhaga? De forma peremptória e pragmática percebo o que neste momento se está a preparar para as próximas eleições autárquicas. Quem é que consegue entender e aceitar que alguém seja homenageado por proposta de quem andou 16 anos permanentemente a criticá-lo. Há uma estratégia política em marcha. Estas coisas não são inocentes.Está a falar do PSD? Se tivesse votado no movimento independente Força GAP, de Veiga Maltez, preocupar-me-ia em tentar perceber o que se está a passar agora com esta aproximação ao PSD. Se eu fosse um eleitor que tivesse votado no Força GAP sentir-me-ia em dúvida. Na vida, ou na política ou numa profissão, temos de ter princípios, verticalidade e temos de ser coerentes com as nossas decisões e atitudes.E como vê a ligação agora também ao presidente da Junta de Azinhaga, Vítor Guia, com quem Veiga Maltez esteve em conflito aberto. O que aconteceu entre ambos não pode evaporar-se e não se pode fazer de conta que não aconteceu. Há um dado curioso que é o facto de Vítor Guia não poder candidatar-se ao cargo nas próximas eleições. E poderá estar disponível para integrar outro projecto político enquanto candidato a vereador.Estas movimentações podem beliscar o PS. Não estou preocupado e começo a assistir às movimentações de camarote. Esta matéria até me diverte. Porque algumas pessoas acabam por interpretar papéis um pouco ridículos. Sou coerente e respeito as pessoas. Não sou de andar a fazer piruetas e cambalhotas políticas. Quem deve estar preocupado é as pessoas que integraram as listas como adversários do PS e algumas outras que podem vir a desiludir-se com esta estratégia, se vier a concretizar-se. Estou preocupado em dar o máximo de mim pelo concelho.Preto no brancoCão ou gato? Cão. Nunca gostei de gatos. Gostava de ter um cão, mas a minha filha mais nova tem alguma aversão. Mas pode ser que consiga fazer uma negociação e vir a ter um cão em casa.Praia ou campo? Sempre gostei muito de praia. A parte do dia que gostava mais era ao final da tarde, da tranquilidade dessas horas. A Nazaré é a minha praia favorita e, se tivesse possibilidades, gostava de lá ter uma residência próxima. Faz-me lembrar muito a Golegã, pela sua tipicidade, pela sua identidade e diferenciação. Passei bons tempos na Nazaré e tenho lá bons amigos. Benfica ou Sporting? Claramente Benfica!Bife ou sardinha assada? Gosto tanto de peixe como de carne. Não tenho preferência. Mas opto pelas sardinhas assadas e já as provei este ano.Louras ou morenas? Morenas.Calça de ganga e t-shirt ou fato e gravata? Depende das ocasiões. Mas prefiro calça de ganga e t-shirt.Touros de morte ou corrida à portuguesa. Touros de morte, claramente. Sou um adepto. Já vi e sempre que tenho hipótese continuo a ir ver. Gosto mais da corrida de touros em Espanha, pois acaba por ser um espectáculo mais sério, se assim se pode dizer. Acho que a vivência da festa em Espanha é mais genuína.Teatro ou cinema? Opto pelo cinema.Guitarra portuguesa ou viola eléctrica? Guitarra portuguesa, sem dúvida. Gosto muito de ouvir Carlos Paredes.José Saramago ou António Lobo Antunes? José Saramago. Independentemente da questão ideológica que possa estar associada, alguém que é Prémio Nobel da Literatura tem dimensão global. O conteúdo de algumas obras é polémico, mas cada um de nós tem o feitio, as crenças e ideais que tem.“É preciso que as pessoas que visitam a Golegã sintam que estão na capital do cavalo”Num concelho pequeno, e atendendo às dificuldades financeiras, a câmara tem condições para manter a grande marca do concelho, a Feira do Cavalo, nos mesmos patamares dos anos anteriores? A marca é a Golegã que tem como ex-libris o cavalo. A feira em 2013 correu muito bem. Temos todas as condições, mesmo sendo um certame com um investimento avultado. Estamos a fazer um trabalho no sentido de associar a esta marca um conjunto de empresas de referência e que possam ajudar a fazer um certame cada vez melhor.Quer dizer que pretende diversificar a feira para além do cavalo? O nosso objectivo é ir renovando-a e melhorando-a todos os anos. Sem esquecer que é importante dedicar atenção aos criadores, que são determinantes, temos que dedicar também aos nossos parceiros a atenção que merecem. Para que percebam que ao estarem ligados à Golegã, à feira, ao cavalo, têm retorno. O trabalho que vamos desenvolver será o de consolidar e desenvolver ainda mais esta marca.E há dinheiro para isso? Ainda há dinheiro para isso. Mas também há uma aposta que introduzi em relação aos certames. Pela primeira vez na Feira do Cavalo publicitou-se a Expoégua do ano seguinte. E vamos fazer a mesma coisa na Expoégua em relação à Feira do Cavalo. Em termos nacionais, mas sobretudo internacionais, é preciso que antecipadamente se conheçam as datas dos certames. Porque os criadores e os estrangeiros que nos visitam têm a possibilidade de planear as suas vidas. Parece não ser relevante mas isto permite até com os nossos parceiros fazer um planeamento muito antecipado.É possível aproveitar ainda mais esta ligação ao cavalo? Vamos a qualquer cidade ligada ao cavalo e há espectáculos e exibições regulares com cavalos. E a capital portuguesa do cavalo tem que passar a ter também essa oferta. Para que as pessoas que venham à Golegã sintam que estão na capital do cavalo porque vêem cavalos. Dizermos só que temos todas as condições é fácil. O mais difícil é vender a marca.O Centro de Alto Rendimento para Desportos Equestres pode ter um papel mais importante? Temos a ambição de ter na Golegã estágios de selecções de países europeus. Que podem aproveitar as boas condições do tempo, o número de horas de luz que permite aumentar o período de treino e o preço como factor competitivo. Isto tem um impacto importante no desenvolvimento do centro e na economia da Golegã. Desejamos ter capacidade em 2015 para organizar provas europeias. Para que a Golegã seja vista como um concelho onde têm lugar grandes eventos equestres nacionais e internacionais.Maior envolvimento com a Fundação SaramagoQue mais-valia tem o município em ter no concelho o pólo da Fundação Saramago? Não houve ainda um relacionamento efectivo da câmara municipal com o pólo. Há vontade de nos envolvermos mais na dinâmica deste pólo, que pode ser muito mais importante.Foi um erro a câmara não se ter envolvido na instalação deste pólo? Não tenho dúvidas que sim. Estamos a tentar fazer com que a Golegã tenha eventos todo o ano. Temos de pensar numa lógica comercial de vender um conjunto de produtos que temos, com iniciativas em média de três dias, para que as pessoas possam ficar alojadas no concelho, possam comer na Golegã… O pólo da Fundação Saramago deve inserir-se nesta lógica.A Reserva do Paul do Boquilobo também está mal aproveitada? Se a entendermos como uma área que pode gerar oferta turística, que tenha de forma estruturada dois ou três produtos para oferecer, o que foi feito até agora foi muito pouco ou nada. Está-se a desenvolver uma nova abordagem sobretudo em relação ao estatuto de conservação da reserva da biosfera, classificada pela Unesco. Está-se a constituir um órgão de gestão do qual a câmara fará parte. Será possível conjugar a conservação e a visitação com planeamento de investimento para criar condições no local. A partir do momento que tivermos essas condições a Golegã tem mais um local com potencial para gerar produtos que possam ser comercializados.A luta pelo tribunal e a hipótese de adesão à Águas do RibatejoO tribunal da vila, que estava para encerrar, foi transformado numa secção de proximidade. Não ficou satisfeito? Não! Entendemos que o tribunal devia permanecer como secção especializada. A secção de proximidade é tão só um balcão de atendimento, um serviço a prazo. Não podemos ter uma política do poder central contrária ao esforço da câmara para captar investimento e fixar pessoas. Atendendo a que não é um tribunal com grande volume processual e a que as pessoas têm, na generalidade, um problema com a justiça uma vez na vida, as lutas pela manutenção dos tribunais também são para retirarem dividendos políticos? É legítima a pergunta, mas não concordo. Não é uma questão política porque fica bem ao presidente da câmara. Um cidadão da Golegã ou da Chamusca para poder ir, num determinado processo, a Santarém, a Tomar ou ao Entroncamento vai ter custos superiores de deslocação. Pode ser uma vez na vida mas há muitas pessoas a terem problemas uma vez na vida. E sabemos que o volume processual deste tribunal é o triplo daquele que foi indicado no estudo para o novo mapa judiciário. Como são as relações com o concelho vizinho de Torres Novas quando a Golegã sofre com problemas de poluição do Rio Almonda? A adesão de Torres Novas à empresa Águas do Ribatejo é uma oportunidade para de uma forma progressiva termos melhores condições no rio. E ter equipamentos em melhores condições técnicas que evitem os episódios de poluição. As relações com Torres Novas são as melhores, até porque o actual presidente da câmara é uma pessoa muito sensível às questões ambientais. Há um conjunto de investimentos previstos e estou optimista e esperançado que as coisas melhorem.O município da Golegã fez bem em sair da empresa Águas do Ribatejo? Há muitos anos que temos uma taxa de cobertura de saneamento e de abastecimento de água que é praticamente de 100 por cento. Estes investimentos do ponto de vista estratégico foram bem preparados. A Águas do Ribatejo também surgiu para se ter acesso a fundos comunitários para realizar obras que as autarquias teriam dificuldade de fazer sozinhas. Não temos uma necessidade comparável à dos municípios que aderiram à empresa. Mas teremos que voltar a reflectir sobre isto daqui a algum tempo.E não teve a ver também com o preço da água? Alguns municípios tinham os chamados tarifários políticos. Com a determinação de cobrar a água ao preço que ela custa, iríamos ter aumentos brutais nas tarifas e esta dimensão tinha de ser acautelada. Tem de haver um tempo de aproximação entre quem cobra, a Câmara da Golegã, e o que as pessoas têm de pagar.Admite vir a integrar o sistema da Águas do Ribatejo? Este não é um processo estático. Se num determinado momento não comprometemos o processo da Águas do Ribatejo porque não queríamos deixar de ser solidários com o projecto, agora digo que não temos a porta fechada. Não quero que se feche a porta. No futuro pode ser benéfico para a Golegã integrar a empresa.Como vê os sucessivos adiamentos da construção de uma nova ponte que ligue a Golegã à Chamusca? Se tivermos um problema sério no âmbito da protecção civil a actual ponte é um caso sério de risco. Há necessidade urgente de haver uma solução que permita facilitar o tráfego na ponte da Chamusca.“O meu número de telemóvel é público e as pessoas sabem onde moro”Rui Medinas diz que gosta de exercer uma política de proximidade aos cidadãosRui Medinas nasceu no dia 18 de Setembro de 1969. É casado, pai de duas meninas, uma de 7 e outra de 14 anos, e vive na Golegã, terra de onde é natural e sempre viveu, com excepção do tempo em que estudou em Santarém, onde se licenciou em Engenharia Agronómica na Escola Superior Agrária da cidade. Antes de exercer funções executivas como vereador na Câmara da Golegã trabalhou em empresas privadas do sector agrícola. Iniciou-se na política após um convite recebido em meados de 1997. Até aí só tinha participado no movimento associativo local. Nessa altura abordaram-no no sentido de integrar um projecto político do Partido Socialista e entendeu que devia dar o seu contributo. Já tinha algumas afinidades com o PS e mais tarde acabou por se filiar no partido.Na vida autárquica percorreu os diversos patamares. Estreou-se fazendo um mandato como eleito da assembleia municipal. No mandato seguinte integrou o executivo da Junta de Freguesia da Golegã e cumpriu posteriormente oito anos como vereador e vice-presidente da câmara, até chegar a presidente nas eleições autárquicas de 2013. Diz que a experiência enquanto vereador “foi muito enriquecedora”, pois acaba por se ter uma participação mais efectiva em determinadas áreas. Quando era criança queria ser médico pois sempre gostou de ter um contacto de proximidade com as pessoas, “perceber quais são os seus problemas”. Acabou por enveredar por outra área e nunca se arrependeu. Foi um aluno regular, uma mescla entre o aluno aplicado e aquele que só estuda na véspera dos testes. Dependia da disciplina e da matéria. Acima de tudo, diz que sempre foi um estudante responsável, que não precisava das recomendações dos pais para se agarrar aos livros. Só chumbou um ano, quando entrou no ensino superior. “Foi aquele libertar da zona de conforto dos pais, mas a partir daí fiz tudo de seguida”. Confessa que tinha algum sucesso entre as colegas, “de uma forma discreta, porque essas coisas não são para se dar muito nas vistas”, diz com humor.Para lá da actividade política e autárquica, diz que gosta cada vez mais de passar algum tempo disponível com a família. “A vida de autarca é muito exigente e muito absorvente. O tempo passa muito depressa e temos de aproveitar os tempos disponíveis, que não são muitos, com a família e também com os amigos, que são essenciais”. Ser presidente de câmara num concelho pequeno é sinónimo de proximidade aos cidadãos e aos problemas. Rui Medinas garante que é um autarca sempre disponível. “O meu número de telemóvel é público, as pessoas sabem onde moro e facilmente contactam comigo a qualquer hora do dia”. Diz que sente “um retorno muito positivo” quando consegue ir ao encontro das aspirações das pessoas e reconhece que “há uma pressão maior” quando algo não corre bem ou quando as coisas não são feitas nos prazos que as pessoas estão à espera. “Mas não é nada que eu desconhecesse ou algo que não goste de fazer. São, para mim, situações perfeitamente normais”, diz.
“Não sou de andar a fazer piruetas e cambalhotas políticas”

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