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O carteiro que agora recebe “encomendas” bravas com mais de 400 quilos de peso

Manuel João Faustino controla as guias de transporte e faz a pesagem dos toiros
Andou durante trinta e três anos a entregar cartas por conta dos CTT. Foi de tal forma que ganhou a alcunha de Carteiro. Agora, nos dias de tourada, Manuel João Faustino está do outro lado da porta dos curros da praça da Chamusca preparado para receber encomendas. Normalmente são sete e cada uma pesa mais de quatrocentos quilos. Sete toiros, seis efectivos e um “sobrero”, que serão lidados na arena pelos toureiros e pegados à força de braços pelos forcados.O chefe da equipa dos curros da praça da Chamusca é o irmão mais novo, José Faustino, a quem chamam José Ruço por, em criança, ter o cabelo de um loiro quase branco. “Foi o meu irmão que me levou para o ajudar. Faço a pesagem dos touros e trato das guias de transporte. Qualquer animal que entre ou saia da praça tem que ter uma guia. Isto agora está mais leve. Quando houve o problema da Língua Azul (doença que afecta os animais ruminantes) os toiros tinham que ir numa camioneta selada. Tínhamos que passar guias da desinfecção de tudo”. Durante a corrida ajuda no que é preciso. A puxar através de cordas, as portas dos cubículos onde os toiros esperam a sua vez de entrar ou a separar os animais já lidados, dos cabrestos (machos castrados que conduzem os toiros para fora das arenas), por exemplo. “Fomos criados entre animais. Fazemos aquilo por carolice. Antes saltávamos para onde era preciso. Agora vamos com mais calma. Já não dá para saltar...só se for de escadote”, brinca. Conta que enquanto jovem, ao serviço da Casa Norberto, chegou a trazer toiros para as touradas da Herdade dos Salgados no Porto Alto, para as praças da Chamusca, Santarém Barquinha, Tomar. Viagens a cavalo que duravam três ou quatro dias.Manuel João Faustino já se reformou dos CTT há sete anos. Agora é taxista por conta própria. Quando nasceu o pai era maioral numa casa agrícola e foi numa quinta da freguesia de Ulme que viu a luz do dia pela primeira vez, aconteceu a 17 de Março de 1948. “Nasci eram quatro e vinte da tarde, diz a minha mãe”. Festeja os anos duas vezes porque o padrinho estava na Alemanha e só o registou quando regressou, um mês mais tarde. E registou-o no Chouto. Outros tempos e outras burocracias. Agora o que vale é a data que está nos documentos oficiais. Agora e quando foi para a escola, ou quando foi para a tropa. A maior parte do tempo de tropa foi passado em Angola. “Assentei praça na Figueira do Foz, vim para Santarém para a Escola Prática de Cavalaria e depois fui formar Batalhão em Estremoz. Tinha 21 anos quando fui para Angola. Até essa altura tinha trabalhado sempre no campo”, explica. “Estive 16 meses em Luanda e 8 na cidade do Luso. Primeiro era motorista do Comandante do Batalhão e depois fui motorista da família dele. Ainda me lembro da matrícula do carro, MG-91-14. Era um Volkswagen 1300. Na altura era um carro moderno”. A trabalhar no campo desde os 14 anos, não quis voltar ao campo quando acabou o serviço militar. Concorreu para os CTT e para a Guarda Fiscal. Foi aceite nos dois lados mas nos CTT começava a 10 de Março de 1974 e na Guarda Fiscal apenas entraria dois meses depois. Decidiu não esperar e foi carteiro num tempo em que os carteiros palmilhavam muitos quilómetros a pé e o único meio de transporte disponibilizado era a bicicleta. Num tempo em que a maioria das portas não tinha número de polícia e os chefes não aceitavam que o carteiro regressasse com uma carta por entregar.

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