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O motorista do presidente da câmara que chegou a encarregado geral

Fernando Brás é funcionário na Câmara Municipal da Chamusca desde os 16 anos

O primeiro trabalho que teve foi numa fábrica de tomate. Depois andou nas vindimas, trabalhou nas obras e no serviço militar chegou a ser condutor de Salgueiro Maia. Podia ter optado por se inscrever na polícia mas preferiu ficar a trabalhar para o seu município, onde é encarregado geral. Até hoje não está arrependido das escolhas feitas.

Fernando Brás tem 51 anos e trabalha desde os 16 anos na Câmara Municipal da Chamusca, onde é encarregado geral, desde 2008, altura em que deixou de ser motorista do ex-presidente do município, Sérgio Carrinho, que deixou o cargo em 2013 depois de mais de 30 anos no activo. Antes de ingressar nos quadros da autarquia, Fernando Brás teve o seu primeiro emprego aos 16 anos na Spalil, antiga fábrica de tomate do concelho. Fernando não gostava de estudar e chumbou no oitavo ano. Um dia pediu 20 escudos ao pai, “naquela altura era algum dinheiro”, conta. Como o pai não lho deu resolveu ir trabalhar durante as férias de Verão. Depois da campanha de tomate fez uma vindima numa quinta em Vale de Cavalos. Quando esse trabalho sazonal acabou já a escola tinha começado e Fernando Brás não se tinha matriculado. Como não podia estar sem fazer nada foi à procura de emprego e encontrou-o na câmara municipal.Começou a trabalhar como aprendiz de pedreiro. Com o dinheiro do primeiro ordenado (4.500 escudos) comprou um carro. “Nunca mais quis saber da escola. Preferia trabalhar e poder ganhar o meu próprio dinheiro para ter as minhas coisas”, confessa. Aos 18 anos tirou a carta de condução e começou a trabalhar com máquinas. Em cima de um “dumper” ajudava nas obras e limpeza de ruas. Entretanto foi obrigado a suspender o trabalho para cumprir o serviço militar. Esteve 16 meses na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Durante esse tempo chegou a servir de motorista a Salgueiro Maia, um dos símbolos da revolução de 25 de Abril de 1974. “Uma vez levei o capitão Salgueiro Maia a Alcácer do Sal (Alentejo) quando se lançaram misseis pela primeira vez em Portugal”, recorda.Nessa altura teve “várias” propostas para entrar na Polícia de Segurança Pública mas, para desgosto da mãe, nunca aceitou. Preferiu ficar na Câmara da Chamusca. “Até hoje nunca me arrependi de nada. Se voltasse atrás podia fazer algumas coisas de maneira diferente mas não me arrependo das escolhas que assumi”, afirma com convicção. Quando regressou ao trabalho, por uma série de circunstâncias, surgiu a oportunidade de ser motorista do antigo presidente, Sérgio Carrinho (CDU), que exerceu o cargo entre 1979 e 2013. Fernando Brás foi seu motorista entre 1989 e 2008.Vinte anos onde se desenvolveu uma “grande” cumplicidade entre presidente e motorista. O encarregado geral diz que o “seu” presidente foi único. “O presidente fazia questão que eu entrasse com ele e apresentava-me a toda a gente. Sentava-me ao seu lado e comia ao lado dele. Chegaram a ter reuniões de estratégia política e eu estive sempre por perto. Confiou sempre em mim e isso é o mais importante”, afirma. Fernando Brás confessa que lhe custou quando Sérgio Carrinho deixou a câmara. Nas horas vagas, e sempre que o ex-presidente Carrinho lhe pede, ainda faz de seu motorista. “Com todo o gosto. Temos uma óptima relação e 20 anos não são 20 dias”, diz.Desde 2008 que Fernando Brás é encarregado geral no parque de máquinas da autarquia. Actualmente é responsável por cinco oficinas: electricidade, mecânica, carpintaria, serralharia e pintura. É também responsável por todos os transportes existentes na câmara. Nos dias que antecedem a Semana da Ascensão fica responsável por coordenar o pessoal para montar e organizar tudo o que é necessário para a festa. “O meu trabalho é colmatar as falhas para que nada corra mal. Mas este é um trabalho conjunto, eu sou apenas mais uma peça em toda a engrenagem de funcionários da autarquia”, conclui.

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