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Geobiodiversidade regional-local

Parece óbvio que a geobiodiversidade de um lugar seja um recurso fabuloso para todos: pessoas, natureza, patrimónios, atividades económicas etc., mas em Portugal não.Os constrangimentos são demasiados para que esta simples evidência dê o resultado que deve. Tudo se complica e às vezes, vezes de mais, o resultado é o inverso. Alguém que vive numa área protegida diz mal à vida e roga pragas a essa situação.Talvez por isto, localmente, as autarquias não têm tido grandes iniciativas de fundamentar propostas para a criação de áreas de paisagem protegida de âmbito regional- local (APPR/L), como a lei o prevê.Por alguma razão os dedos das duas mãos chegam para contar o número de APPR/L em todo o país. Se nos centramos no vale do Tejo não se regista nenhuma APPR/L. Apenas em Coruche o Açude da Agolada é a exceção.Sabendo todos nós a importância do governo local e da sua responsabilidade pela boa gestão e conservação (no melhor dos sentidos) dos recursos locais, é estranho este vazio e esta realidade.Provavelmente não haverá uma razão única e a falta de conhecimento estará entre elas. Todavia, nunca é tarde para olhar o território localmente e identificar realidades que merecem este tipo de estatuto distintivo. Naturalmente que é necessário algum investimento, designadamente no conhecimento e caraterização dos recursos desse dito território. De qualquer maneira, bem conhecer os recursos avi-fauna, flora-vegetação, o ecossistema, bem mais que um investimento, é uma obrigação, um dever.Ou seja, tudo o que se faça para elevar o estatuto ambiental-ecológico de um território é uma oportunidade excelente para qualificar e criar valor, pois todos ficam a ganhar. A área de paisagem protegida de âmbito regional/local é a melhor opção para que um município não só assuma as suas responsabilidades, mas também tenha as opções estratégicas e a gestão plena desse território vertidas nos instrumentos de ordenamento do território, designadamente no PDM.Assim, o apelo é para que os executivos locais possam olhar o seu território nesta perspetiva, verem os bons exemplos que felizmente existem (Corno do Bico em Paredes de Coura ou Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos em Ponte de Lima, entre outros) e tomarem inequívocas opções neste sentido.Como já foi várias vezes aqui escrito, a valorização ecológica e ambiental não pode significar restrição ao uso. Antes pelo contrário, são as utilizações do território com valor que criam as melhores condições para a conservação da natureza.A tal equação win-win, que só burros insistem em não compreender, bloqueando a modernização do país e a constituição de riqueza, é incontornável. Os maus exemplos do passado não podem constituir a justificação para não se evoluir. Aliás, os serviços corporizados por quem diz “não” são os principais responsáveis pelos passivos existentes. Prejudicados somos todos. Carlos A. Cupetocupeto@uevora.pt Professor na Universidade de Évora

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