Numa fase em que tanto se fala das novas tecnologias e em que as crianças preferem um computador a andar a correr pelas ruas, há quem ache que os brinquedos mais antigos vão voltar a estar na moda. “Estive mais de 50 anos sem andar de carrinho de rolamentos e agora voltei. Há muitas crianças, é uma moda que está de regresso. Pena é os carrinhos agora serem de ferro. Gosto mais dos tradicionais, de madeira” disse ao nosso jornal Pedro Serrano.Com 64 anos, trouxe consigo no domingo, 15 de Junho, desde Lisboa até Abrantes, um grupo de amigos do Restelo. Tem 25 carros e afirma que aí é que está o segredo. “Os amigos não têm desculpa para faltar. Tenho um carrinho de rolamentos para emprestar a todos, sejam crianças ou adultos. Construídos na mesa da sala, uns são mais tradicionais, outros modificados, mas todos em madeira. O carrinho mais pequeno que Pedro Serrano construiu foi para a sua neta de um ano e meio. “Claro que um mês depois tive de construir outro porque ela deixou de conseguir entrar dentro do carro”.“Comecei a fazer corridas há 40 anos atrás em Moçambique. Em Abrantes participo há cerca de oito anos. A base continua a ser a mesma, uma tábua de madeira, dois eixos e um cordel. Mas claro que o carrinho agora está mais evoluído. Rolamentos maiores e modificados que permitem ter outra prestação”, conta Paulo Costa, de 48 anos. Impulsionador desta prova, e com uma certa tristeza pela fraca participação das pessoas de Abrantes, o ano passado teve a ideia de trazer gente de fora. “Temos um óptimo percurso e todos estamos cientes que envolvem algum risco. Segundo as contas do GPS, devo ter atingido uns 60 quilómetros por hora”, conta. Foram precisamente estes riscos, e todas as peripécias do percurso, que proporcionam muita adrenalina aos cerca de 70 participantes que se juntaram em Abrantes, pelas 10h00, para iniciar os treinos, e se mantiveram até as 19h00 num ambiente de brincadeira mesmo após o fim das provas. Às altas temperaturas, que se sentiram durante todo o dia, juntavam-se as cervejas geladas que saiam do bar improvisado a meio de percurso. Henrique Dias, com 17 anos, veio de Torres Novas e tem por hábito fazer provas mas esta foi a primeira vez que participou num campeonato. O carro foi emprestado por um amigo, que como emigrou para França não pôde participar. Foi precisamente esse amigo que há dois anos criou o bichinho nesta família e que os incentivou a construírem um carro de raiz. “Depois acabámos por comprar um carro novo e o nosso está parado para actualizações”. A participar na prova com o tio, toda a sua família veio assistir e, em tom de brincadeira, gritavam: “Se caíres, que seja aqui para filmarmos. Cuidado, amanhã tens de ir trabalhar.” No final das provas a opinião era unânime: a descida é fantástica, envolve perícia, agilidade e põe à prova a qualidade de construção dos carrinhos de rolamentos. Durante as provas que se realizaram em duas mangas, os concorrentes foram saindo individualmente de minuto a minuto, de forma a não se atrapalharem uns aos outros e evitar colisões. Mesmo assim as quedas foram inevitáveis e houve mesmo alguns mais rápidos que ultrapassaram quem tinha saído primeiro. Por toda a descida eram visíveis placas e pneus colocados para segurança dos condutores.E, se descer foi divertido, subir também não foi difícil. Com auxílio de carrinhas, os veículos e os condutores foram sendo transportados da meta até ao local da partida. Os carros mais pequenos eram cuidadosamente colocados no interior, os maiores vinham puxados com ajuda de correias. Os Bombeiros de Abrantes estiveram presentes no local para prestar os primeiros socorros. Tudo decorreu normalmente com algumas arranhadelas e esfarrapanços que não detiveram quem, rua acima rua abaixo, passou um dia de convívio.Desde 2005 que as provas de carrinhos de rolamentos estão inseridas no programa das Festas da Cidade de Abrantes. Este ano, organizado pela Empresa Trilhos do Zêzere, foi a primeira vez que o Campeonato Nacional de Carrinhos de Rolamentos decorreu na cidade. A descida do açude, junto à Escola Básica e Secundária Dr. Manuel Fernandes, contou com a parceria da Câmara de Abrantes e do Núcleo Sportinguista de Alferrarede.