Veraneante Manuel Serra d’Aire
Existe uma intrigante nostalgia pela época medieval que faz com que municípios, escolas e associações se empenhem em recriações históricas desse período negro da História da Humanidade. As feiras medievais sucedem-se um pouco por todo o lado, estando, ao nível da praga, em concorrência directa com as megas aulas de zumba, embora estas últimas sejam mais apelativas à vista. Pelo menos para mim, que prefiro moçoilas a abanar o esqueleto envolvidas em licra a matronas revestidas de tecido da cabeça aos pés a imitarem cortesãs de outras eras.Presumo que seja a paixão por essa época, também conhecida pela idade das trevas, que leva a que muitos centros históricos das nossas cidades e vilas estejam cada vez mais parecidos com bairros medievais, com casas em escombros, ruas esburacadas, ervas e mato a florescer e bosta de cão a rodos pelo que vai restando da calçada. Se alguém quiser recuar à Idade Média não precisa de recriações históricas em doses industriais, com pajens a atender telemóveis de última geração e donzelas com piercings no nariz. Basta dar uma voltinha por algumas ruelas e travessas de Santarém, Tomar, Torres Novas ou Abrantes.A aura de um conferencista vai muito do impacto da mensagem que transmitem, mesmo que essa pouco ou nada tenha a ver com a realidade. Já dizia alguém que nunca se deve deixar a realidade estragar uma boa história. Ora, as investigadoras que foram a Vila Franca de Xira dizer que, actualmente, não há notícia que não seja censurada quiseram deixar a sua marca na plateia de forma peremptória mas, na verdade, pouco consonante com a realidade. Ou então nunca ouviram falar do lápis azul. E a prova de que não existe assim tanta censura como elas apregoam é que eu, humilde escriba, escrevo o que bem me apetece sem que me venham atazanar, com excepção de um político que gostava de usar suspensórios mas não gostava que isso fosse referido em público. Enfim, acho que as ditas investigadoras deviam aumentar a graduação das lupas antes de se meterem em novos estudos.O que merecia igualmente aturada investigação é a propensão que o português em geral e o ribatejano em particular tem para a zaragata. Se há festa cá pela zona, o mais certo é que haja algumas sessões de pancadaria, como se viu, por exemplo, na Feira da Agricultura em Santarém ou nas festas de Abrantes, onde até a polícia levou que contar. Está-nos no sangue este gosto pela briga e as comissões de festas deviam explorar essa vertente. “Venha à nossa festa levar uns chapadões e espetar uns bananos!” podia ser um slogan apelativo.Esta é, provavelmente, mais uma reminiscência da Idade Média, quando não havia festança que não tivesse os habituais torneios onde os cavaleiros se enfrentavam para gáudio da turba. É por isso que a expressão arraial de porrada nunca saiu de moda. Onde há arraial, o mais certo mesmo é que para além das cervejolas, dos frangos assados e dos caracóis haja sempre uma galheta ou uma canelada para ser servida ao mais incauto. É por isso que prefiro festas caseiras. Sempre são mais ternas e não deixam nódoas negras...Cumprimentos estivais do Serafim das Neves
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