“Processos judiciais contra presidente da câmara fragilizam a sua imagem e a do município”
Luís Albuquerque perdeu as últimas eleições autárquicas em Ourém, para Paulo Fonseca, por 120 votos de diferença
Luís Albuquerque foi o candidato da coligação Ourém Sempre (PSD/CDS) às últimas eleições autárquicas à Câmara de Ourém, tendo sido derrotado pelo socialista Paulo Fonseca por apenas 120 votos. Técnico oficial de contas, foi também durante vários anos guarda-redes do Centro Desportivo de Fátima, onde conquistou vários títulos desportivos. Depois de terminar a carreira desportiva, virou-se para o dirigismo tendo sido presidente do clube onde jogou. Há nove anos entrou na política. O convite surgiu pela mão do ex-presidente da Câmara de Ourém, David Catarino. Apesar de ser filho do antigo presidente do município e deputado do PSD, Mário Albuquerque, diz que nunca tinha pensado enveredar pela política. Hoje, garante não estar arrependido da escolha feita. Afirma que não sabe se será novamente candidato em 2017, mas não fecha as portas a nenhuma hipótese.
O presidente da Câmara de Ourém, Paulo Fonseca, está envolvido nalguns processos judiciais ligados à sua actividade empresarial. Como vê essa situação? São assuntos pessoais do presidente e por isso nunca abordámos esses assuntos, nem mesmo durante a campanha eleitoral. Se houvesse algum processo relacionado com a gestão do município seria diferente. Neste caso, são situações pessoais do presidente que vamos acompanhando pela comunicação social.Mas todos estes processos, nomeadamente aquele em que pede a insolvência de Paulo Fonseca, prejudicam a imagem do município? Todos os processos que têm aparecido vão fragilizando a sua imagem e por consequência a imagem da câmara municipal, o que não é bom para o executivo.Acha que um presidente de câmara, como é o caso de Paulo Fonseca, que tem tantos processos judiciais decorrentes da sua actividade empresarial, tem condições para continuar no cargo? Qualquer cidadão deste país que é eleito para desempenhar um qualquer cargo público, nomeadamente o de presidente de uma câmara municipal, deve estar 100 por cento concentrado na sua tarefa dada a responsabilidade que está associada à função. Só o presidente da Câmara de Ourém poderá dizer se se sente em condições de exercer o cargo para o qual foi eleito.O que sentiu, durante a última campanha eleitoral, quando recebeu mensagens escritas de um número de telemóvel clonado do seu pai a dizer mal de si? É a parte má da política. Tenta-se fazer tudo para atingir determinados fins mas não alinho nessas jogadas e não tenho medo de ameaças. Obviamente que isso magoou muito porque tinha acabado de sair de perto do meu pai quando recebi essas mensagens e sei que ele nunca faria algo semelhante.Nunca pensou abandonar a política depois desse episódio? Não. Temos que estar preparados para estas coisas, infelizmente. Continuo a receber algumas mensagens anónimas mas não valorizo. Na altura foi um momento difícil mas nunca abalou a minha relação com o meu pai, que apresentou queixa no Ministério Público.O que mais o preocupa neste momento na vida política que resolveu abraçar? As dificuldades que muitas pessoas estão a passar fruto da situação complicada que o país atravessa e que levou muita gente para o desemprego. É uma situação muito preocupante. O concelho de Ourém, habitualmente, não tinha desemprego, mas neste momento, embora abaixo da média nacional e distrital, ele existe.O que é que deixou de fazer nestes últimos tempos, que lhe dava gozo, por causa da política? Estar mais tempo com a minha família. Quando me envolvo em alguma coisa gosto de cumprir. Nove meses depois das eleições autárquicas continuo a participar na vida do concelho. É raro ter um fim-de-semana em família. É uma coisa que faço com gosto porque dá-me prazer participar na causa pública.É técnico oficial de contas. Como foi parar à política? Foi um pouco por influência do meu pai (Mário Albuquerque), que foi presidente da Câmara de Ourém durante 13 anos, deputado na Assembleia da República e Governador Civil do distrito de Santarém. Em casa falava-se de política e fui seguindo o seu trabalho. Fui-me envolvendo, quase sem querer, na política. O que me leva a estar na causa pública é servir e tentar resolver os problemas das pessoas. É uma tarefa dura, porque os tempos estão difíceis, mas é isso que me fascina.Entrou no mundo da política há menos de uma década. Como surgiu o convite? Em 2005, o então presidente da Câmara de Ourém, David Catarino, telefonou-me a convidar para ser seu adjunto. Estava longe da política, por isso demorei a aceitar o convite. Primeiro porque não estava familiarizado com este mundo e depois porque tinha o meu escritório, o que ia implicar várias mudanças. Acabei por aceitar o desafio e, apesar das dificuldades, consegui sempre conciliar o trabalho com a política. Quando David Catarino deixou a presidência do município, no início de 2009, assumi o cargo de vereador até às eleições seguintes, em Outubro desse ano.O que faria diferente do actual executivo se fosse presidente do município? Tudo o que foi feito no último mandato e que está projectado para este mandato são ideias que já vêm detrás, de executivos PSD. Foram construídos quatro centros escolares que foram projectados pelo PSD quando estava na maioria. A localização do Centro Escolar das Fontainhas, baptizado como Centro Escolar Ourém Nascente, é péssima porque nem 100 alunos tem. Aquele centro escolar era necessário mas numa localização totalmente diferente. A avenida de Fátima, a estrada de Seiça, por exemplo, são obras que estavam projectadas pelo anterior executivo. Este executivo não tem uma estratégia, uma ideia para o concelho. A única obra que tem e que não estava prevista pelo anterior executivo é um centro cultural em Ourém, a construir no edifício da actual rodoviária. Um projecto com o qual não concordamos.Porquê? Vai contribuir para despovoar ainda mais o centro histórico. A cidade de Ourém está a definhar e a rodoviária é das poucas coisas que dá algum movimento à cidade. Se retirarem a rodoviária dali é que o centro fica completamente despovoado. A cidade não tem falta de espaços culturais. O ideal para aquele local seria um edifício multiusos, mas manter a rodoviária apenas como ponto de carga e descargas de passageiros e mercadorias. No centro da cidade é um desperdício haver um espaço tão grande onde ficam estacionados os autocarros noite e dia. Deveria construir-se um local fora da cidade para parquear os autocarros e ali existir o cais de transporte de passageiros para que o centro da cidade continue a ter gente.Continua a fazer sentido falar na criação do concelho de Fátima? A Câmara de Ourém não tem a capacidade económica e financeira para resolver os inúmeros problemas que existem em Fátima. É um local com cada vez mais visitantes e nós temos que dar condições para que as pessoas se sintam bem em Fátima. Estamos numa fase em que temos de agrupar e não dividir, mas o Governo tem que olhar cada vez mais para Fátima. Falta iniciativa e força para que, junto do Governo, possamos dizer que Fátima é um ponto fundamental do país e que precisa de ajuda.Um mês antes das últimas eleições autárquicas iniciaram-se obras no campo municipal da Caridade onde o Clube Atlético Ouriense treina. Duas semanas após as eleições as obras pararam e nunca mais foram retomadas. E nem a câmara nem o clube assumem a autoria das obras... Quando estamos num determinado cargo, em época de eleições, e vemos que o terreno nos está a fugir debaixo dos pés, tentamos fazer tudo. Não sei se o arranque dessas obras contribuiu ou não para os 120 votos que levaram à vitória do PS. O que sei é que o Atlético Ouriense está a pagar muito caro uma irresponsabilidade de alguém que mandou avançar com as obras em vésperas de eleições.Está a pagar muito caro porquê? Se as obras não têm começado quando começaram, talvez agora as obras, que são necessárias e urgentes, já estivessem feitas. O problema é que, a pouco mais de um mês de começarem os treinos para a nova época, o campo de futebol onde o Atlético Ouriense joga é uma vergonha para a cidade de Ourém. Um clube que vai disputar campeonatos nacionais de futebol não pode ter o piso do campo e os balneários naquelas condições. Não sei como o executivo vai resolver esta situação que está ali criada e que necessita de ser resolvida urgentemente.Concorda com as viagens frequentes do presidente ao estrangeiro? São viagens desnecessárias. Obviamente que a internacionalização é precisa e que o futuro das nossas empresas passa por parcerias no estrangeiro, mas o que eu gostava de saber é quais foram os benefícios que o concelho de Ourém retirou dessas viagens. Não vejo retorno. O investimento no turismo devia ser feito de outra forma. O concelho de Ourém tem características muito próprias e está dividido em três grandes zonas: zona norte, cidade de Ourém e Fátima. O município tem que ter uma estratégia e saber o que quer para cada um destes três pólos.“Com um pouco mais de empenho o PSD teria vencido as eleições”O que levou o PSD a perder a Câmara de Ourém em 2009 depois de mais de 30 anos no poder? Aponto três razões fundamentais. O desgaste provocado por três décadas de governação; As cisões no PSD e o facto do candidato Paulo Fonseca ser uma pessoa comunicativa, afável, de quem as pessoas gostavam, o que contribuiu muito para a vitória do Partido Socialista. Aliás, Paulo Fonseca valia mais que o PS no concelho de Ourém.E em 2013 a derrota deveu-se a quê? O PSD só não ganhou as últimas eleições porque algumas pessoas do partido nunca acreditaram que pudéssemos ganhar. Se essas pessoas acreditassem, como eu sempre acreditei, teríamos conseguido vencer. Só quando viram a diferença mínima é que perceberam que se se tivessem empenhado um pouco mais poderiam ter conseguido conquistar os poucos votos que faltavam.O que sentiu ao perder as eleições por apenas 120 votos de diferença? Nessa noite senti mágoa ao ver os rostos desanimados das pessoas que enchiam a nossa sede de campanha e que sentiam que podíamos ter ganho as eleições. Estivemos tão perto da vitória e isso acaba por ser um bocadinho frustrante. Acima de tudo, tive o sentimento de dever cumprido porque o resultado, embora tenha sido uma derrota, superou as expectativas de todos, sobretudo dos analistas que previam uma derrota estrondosa do PSD.A coligação PSD/CDS foi a força política mais votada para a assembleia municipal nas últimas eleições autárquicas. Apesar disso, foi a candidata do PS, ex-militante do PSD, Deolinda Simões, a ser eleita presidente daquele órgão. É por situações dessas que as pessoas cada vez dão menos importância e respeitam a política e os políticos. Ficou demonstrado, inequivocamente, quem é que os ourienses queriam para a presidência da assembleia municipal, que era o candidato da coligação, João Moura. No entanto, fruto dos jogos de bastidores que houve, o PS, conivente com o movimento independente, liderado pelo ex-social democrata, Vítor Frazão, elegeu uma pessoa que, na minha opinião, não tem legitimidade para exercer o cargo. Não foi essa a vontade da população. Faz-me uma enorme confusão como é que pessoas como o Dr. Vítor Frazão, depois de ter perdido as eleições em 2009 - e de ter atribuído a culpa a algumas pessoas do PSD, nomeadamente a Deolinda Simões - agora contribui para que a senhora seja novamente eleita. Fê-lo porque agora interessava não deixar que a vontade do povo fosse respeitada.Pretende recandidatar-se em 2017? Ainda é cedo para essa decisão. Esta comissão política do PSD de Ourém, da qual sou presidente, vai a eleições no próximo ano. Só a próxima comissão política é que poderá pronunciar-se sobre isso.Gostaria de ser novamente candidato nas próximas autárquicas? É uma experiência muito desgastante. Não descarto essa possibilidade mas em política tudo muda de um momento para o outro. O PSD deve escolher a pessoa que estiver melhor colocada para vencer a câmara e assumir esse desafio, porque é necessário uma mudança no concelho.O PSD de Ourém já está unido? O PSD é um grande partido, onde as pessoas têm o direito de se expressar e criticar o que não concordam. Acho que já chegaram duas eleições em que sofremos na pele essas divisões. As pessoas que causaram as divergências saíram do partido por opção própria, por isso já não existem divisões. Parece-me que estão reunidas as condições para que o PSD parta para 2017 unido, o que aumenta as possibilidades de ganharmos a câmara.Um antigo guarda-redes devoto de Nossa Senhora de FátimaLuís Albuquerque viveu sempre em Ourém mas nasceu em Abrantes. Os seus pais tinham ido passar o Natal a Mouriscas, localidade de onde a sua mãe é natural, quando no dia 24 de Dezembro Luís Albuquerque nasceu. Já lá vão 47 anos. Católico, admite que não é tão praticante quanto gostaria. Confessa, no entanto, que todos os anos, a 31 de Dezembro, antes da meia-noite, passa sempre alguns momentos no Santuário de Fátima. E no primeiro dia do ano também gosta de ir à missa ao Santuário. “Gosto muito de ir ao Santuário de Fátima. Não vou lá todos os dias mas existem datas simbólicas em que gosto de passar por lá”, revela. Também já foi várias vezes a pé desde sua casa, em Ourém, ao Santuário de Fátima.Técnico oficial de contas (TOC), tem um escritório no centro da cidade de Ourém há 20 anos com mais dois sócios. Enveredou no mundo da política há nove anos mas antes fez carreira no futebol distrital. Começou a dar toques na bola em criança mas só aos 15 anos integrou a equipa de juvenis do Clube Atlético Ouriense (CAO). Foi sempre guarda-redes. Naquela altura a formação no futebol ainda era incipiente e o jovem Luís fazia o gosto ao pé sobretudo nas ruas perto de casa, que se transformavam em campos de futebol improvisados. Muitas vezes ficava a jogar até a mãe o chamar para jantar. Depois de três anos no CAO mudou-se para o Centro Desportivo de Fátima (CDF), onde fez toda a sua carreira como sénior, à excepção de três anos em que jogou no Alcanenense.A equipa do Fátima era profissional mas Albuquerque sempre conciliou o futebol com a sua profissão. Como atleta do CDF foi campeão nacional da 3ª divisão e subiu três vezes à 2ª divisão nacional. Terminou a carreira aos 34 anos, quando se saturou de jogar à bola. “Pensava que ia ser mais difícil deixar o futebol do que realmente foi. Foram 18 anos e acabei por me fartar, por isso decidi terminar a minha carreira”, conta na entrevista a O MIRANTE.Depois de arrumar as chuteiras enveredou pelo dirigismo desportivo. Foi presidente do CDF durante nove anos. Foi nessa altura que o clube de Fátima alcançou os seus maiores êxitos desportivos. Foi campeão nacional da 2ª divisão tendo subido por duas vezes à 2ª Liga Nacional de Futebol. “Orgulho-me muito do trabalho que ali desenvolvi enquanto dirigente”, afirma. Continua a ser um espectador atento e assíduo do futebol. Ao fim-de-semana é frequente encontrá-lo num campo de futebol do concelho de Ourém. Confessa ser “doente” pelo Benfica e costuma assistir, no Estádio da Luz, aos jogos das competições europeias do clube do seu coração.Às quintas-feiras continua a fazer o gosto ao pé nos encontros de futebol com os amigos que se realizam no pavilhão do Caneiro, em Ourém, para desanuviar do stress de uma semana de trabalho. Agora já não joga à baliza. “Tenho que correr um bocadinho senão a barriga começa a pesar”, afirma bem-disposto. Casado há 19 anos tem um filho com quatro anos. Os poucos tempos livres são passados com a família. Presidente da comissão política do PSD de Ourém, admite que se tornou militante do partido por influência do pai mas garante que cada vez mais se identifica com os valores que a social-democracia defende.
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