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Exames

Estamos na época de exames. Por minha vontade, as notas já teriam sido dadas na primeira aula. Arrumada a causa de todas as coisas - ter uma nota, que significa mais uma disciplina feita no caminho do almejado canudo -, haveria então tempo, e cabeça, para o essencial e importante: aprender.Todavia, mesmo que não queiramos aceitar, o foco não está na aprendizagem mas antes na avaliação. Tudo somado, entre trabalhos, testes e exames, além de tudo o resto da vida académica que é proibido questionar, como a praxe, quase que não resta tempo para aprender.Mas, o mais preocupante é o que a minha sobrinha Laura de 7 anos me mostrou. Basicamente, no 2º ano do 1º ciclo é igual. Com o aproximar da semana das avaliações, a criança deixou ainda mais de ser criança e o stresse instalou-se. A família foi contagiada e não consigo imaginar o aperto que foi para aquela cabecinha pequenina. Tudo se joga nos dois dias em que a importância do português e matemática é confirmada. Mas as semelhanças não se ficam por aqui. Durante o ano, a quantidade de atividades é tão grande que pouco tempo há para brincar e, já agora, aprender. Mesmo as atividades lúdicas exigem demais e de toda a família.A competitividade pela boa nota, mesmo não sabendo o que isso significa e em que se traduz, domina, desde cedo, a vida destas crianças e tudo à volta.Este é dos temas que mais tinta faz correr e há estudos e considerações acerca do sistema de aprendizagem e avaliação para todos os gostos. O próprio conceito de “sucesso académico” tem muito que se lhe diga e muitas são as vezes em que este não corresponde ao “sucesso para a vida” e muito menos para a felicidade. Segundo os pais portugueses, a grande dificuldade está na transição da escola para o mercado de trabalho. Isto é, alguns autores já identificaram um paradoxo difícil de resolver: apesar de estarmos perante “a geração mais educada” de sempre, a verdade é que as empresas se queixam que não têm resposta à altura das suas necessidades. A inadequação de competências, para não lhe chamar incompetência, não é só um mal português a ponto de os EUA estarem fortemente preocupados com o tema. Num recente livro, a jornalista americana Amanda Ripley desmistifica alguns dos conceitos que temos sobre o sucesso académico. Já desconfiava, mas confirma-se, a vida fácil, isto é, “a riqueza fez do rigor algo opcional e não obrigatório”.Uma das conclusões mais claras é a que os “níveis de sucesso escolar são absolutamente dinâmicos e que a esmagadora maioria dos países pode, se trabalhar para isso, melhorar a sua performance e formar alunos que sabem pensar e que são capazes de se adequar às exigências do mundo atual.”Muito mais importante que as novas tecnologias, é o cérebro que conta: “quadros de ardósia, rigor e muito trabalho” associado a “professores bem preparados, respeitados e valorizados” dão bons resultados.Estamos nesse caminho? Duvido.Carlos A. Cupetocupeto@uevora.pt Professor na Universidade de Évora

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