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António Costa foi durante vinte anos o treinador da equipa de iniciados da Académica de Santarém

Fez a sua formação como jogador e treinador na União Desportiva de Santarém, mas foi na Académica de Santarém que se destacou como treinador. António Costa tem um currículo invejável. As suas equipas de iniciados foram diversas vezes campeãs distritais disputaram com brilho campeonatos nacionais. Agora, ao fim de 20 anos, deixou as funções de técnico, mas mantêm a sua ligação ao clube noutras funções.

Jogou futebol a nível oficial por isso a sua carreira de treinador é a continuidade no desporto rei? Sim, em parte. Joguei em vários clubes do distrito: União de Santarém, na segunda e terceira divisão nacional, Cartaxo, Alcanena, União de Almeirim e Amiense. A minha formação como treinador vem toda do futebol. A minha formação como atleta foi toda feita na União Desportiva de Santarém. É por isso que digo que tenho dois corações: um da União de Santarém e outro da Académica de Santarém.Quando é que começa a sua carreira como treinador? Comecei a minha carreira de treinador no Atlético Clube da Avenida, numa equipa de jovens criada por antigos jogadores da União de Santarém. Foi um clube que durou pouco tempo, mas foi onde eu gostei de trabalhar e o “bichinho” ficou.Esteve lá quanto tempo? Estive lá dois anos e meio como treinador. Foi já numa situação muito difícil, o clube não tinha uma estrutura forte, era um projecto do coração de três ex-jogadores da União de Santarém, o Rogério, o Conceição e o Galveias.Acabou por ser uma experiência muito forte para um jovem treinador? Foi mesmo muito forte. Eu diria até que foi muito forte e enriquecedora, ao ponto de não querer enveredar pelo treino de equipas seniores, apesar de ter vários convites para isso. Nesse aspecto foi bastante enriquecedor.Foi então que apareceu a Académica de Santarém? Foi, fui convidado e aceitei de imediato. Nessa altura a Académica já era um grande baluarte da formação no distrito de Santarém.Foi sempre treinador de equipas de iniciados? Sim. Durante vinte anos estive à frente das equipas de iniciados da Académica de Santarém. Na “Briosa” tenho tido a felicidade de ter sempre uma estrutura muito forte na retaguarda e isso foi determinante para ter estado todos estes anos à frente da equipa. Quer dizer que o que notou na sua passagem da União para a Académica foi uma questão de estruturas? Sim, sem dúvida. Na Académica vim encontrar um clube perfeitamente estruturado. Quando é necessário algum apoio, a correspondência é quase completa.A formação na Académica é das mais fortes do distrito de Santarém? Sem dúvida que sim. Tenho consciência disso. E posso dizer que isso passa pelo bom trabalho que é feito ao nível das direcções e de toda a estrutura, mesmo daquelas pessoas que nos acompanham no dia a dia das equipas. Já passaram várias direcções desde que estou no clube e as estruturas têm sido sempre reforçadas.Que análise faz da sua carreira como treinador? Chego à conclusão que fui um privilegiado. Todos os passos foram dados de uma forma muito segura e consistente. As coisas não foram feitas à toa. Passei por variadíssimas situações que foram fundamentais para a minha formação enquanto treinador. Aceito quando dizem que fui um treinador duro e exigente, isso é verdade, mas essa exigência começava logo comigo próprio. Depois impunha uma forte disciplina no grupo e isso levou a que tenham passado pelo meu comando muitos jovens que hoje são figuras de relevo na vida da cidade.Tudo tem, então, sido um mar de rosas? Não, nem tudo foi fácil. Passei por situações difíceis para conseguir unir o grupo da forma que eu queria. Quer dizer que falhou alguns objectivos? Não direi falhar. Mas um dos meus grandes objectivos era ter na Académica um grupo forte e coeso, com continuidade. Mas algumas vezes isso não foi bem conseguido principalmente aquando da passagem de escalão, havia sempre alguns jovens em quem eu depositava grande esperança que falhavam, principalmente na disciplina e isso deixava-me triste.Deixar tudo para trás ao fim de 20 anos, não deixa um grande vazio? Não. Sinto que dei ao futebol jovem da Académica de Santarém um contributo importante, aliás reconhecido por toda a gente. Gostei sempre do que fiz. Muitos dos jovens que treinei hoje são homens e reconhecem que fui importante na sua vida. Fiz grandes amigos durante todos estes anos. Deixo de ser treinador mas vou continuar ligado ao clube e à juventude noutras funções. Quer dizer que a decisão de deixar de ser treinador não foi tomada de ânimo leve? Não. Foi uma decisão tomada com o coração e a cabeça. Fui sempre um treinador muito interventivo, não só quando estou no banco, mas também nos treinos, gostava de ir para dentro do campo jogar com os jogadores, dar-lhes exemplos de como deviam fazer. Infelizmente para isso as minhas faculdades começaram a ser cada vez menores e surgiu um problema de coluna, que já não me dava hipóteses de me juntar aos jogadores e explicar-lhes na prática como deviam fazer. E decidi sair porque entendo que é a altura exacta para dar lugar aos mais jovens. Continua a haver pais que se interessam pela formação dos filhos? Sim, penso mesmo que cada vez há mais. Em relação a mim nunca tive problemas com pais nenhuns. Os pais acompanham. Tive sempre meia dúzia de pais a assistir aos treinos e nos jogos são ainda muito mais.Como é que vê o futebol no distrito de Santarém? Infelizmente não o vejo nada bem. Principalmente a nível sénior. Há cada vez mais clubes a desistirem. A nível financeiro nada está bem. É com tristeza que vejo que quando não haviam condições havia muita gente a jogar à bola e muitos clubes. Agora que as condições são quase excelentes, há campos relvados por todo o lado, mas não há condições financeiras para colocar as pessoas a jogar futebol. O que é que é preciso fazer para alterar essa situação? Dirigentes, treinadores e jogadores têm que se sentar e conversar de forma a encontrar uma solução para as dificuldades. O ir ganhar dinheiro para um clube tem que ser revisto. E a arbitragem? Aquilo que lhe posso dizer é que de há dois anos a esta parte tem havido uma grande evolução nos árbitros. Só falo naquilo que conheço. Hoje já podemos falar com os árbitros e anteriormente a posição dos árbitros era diferente. Eram mais intransigentes, não admitiam qualquer desabafo. Embora sempre tive grande respeito pelos homens que domingo a domingo arrostam com todas as dificuldades que conhecemos.“Todos os locais eram bons para jogar a bola”Falar de António Costa é falar de futebol. Hoje, com 57 anos, o treinador dos iniciados da Académica de Santarém apaixonou-se pelo desporto rei quando ainda era uma criança. Desses tempos recorda com um brilho nos olhos, os infindáveis jogos de futebol, feitos nos largos e ruas de Santarém. A “epopeia” começava logo de manhã e só terminava à noite. A única pausa era mesmo para almoçar. “Hoje vejo que se calhar foi aí que tudo começou. Jogava à bola na rua e em tudo o que era sítio. Sempre vi esta actividade com grande paixão e entrega. Tinha o sonho de ser jogador e estar sempre ligado ao desporto e ao futebol”, revela António Costa.O técnico é casado com a companheira da sua vida. Tem dois filhos. Um dos filhos ainda chegou a ser jogador de futebol. “Até tinha bastante jeito para a modalidade, mas um dia disse-me que ia desistir, não o contrariei e agora só joga futebol com os amigos para manter a forma”.Não é fácil conciliar o trabalho, o futebol e o acompanhamento da família. A esposa às vezes queixa-se. “Mas imponho a mim próprio que todos os tempos livres sejam para dedicar aos filhos e à família. Estamos sempre juntos nos dias em que não há treinos ou jogos”.Frontal e ambicioso mas ao mesmo tempo humilde, o técnico tem consciência das suas capacidades mas recusa embandeirar em arco. Realismo e pragmatismo são características que lhe assentam que nem uma luva. Adora desafios e garante que quando abraça um projecto, seja ele qual for, é de corpo e alma. Se as coisas correrem menos bem, prefere levantar a cabeça e seguir em frente em vez de deitar a toalha ao chão. “É por isso que entendi que chegou a altura de deixar o lugar de treinador para os mais jovens. A convite do presidente do clube vou ficar com outras funções e garanto que podem contar comigo e com a minha exigência“.

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