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“No Médio Tejo há um espírito de solidariedade muito acentuado”

“No Médio Tejo há um espírito de solidariedade muito acentuado”

Presidente da Câmara da Sertã diz que foi muito bem recebido na comunidade intermunicipal com sede em Tomar

A Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo acolheu no ano passado dois concelhos beirões, Sertã e Vila de Rei. O presidente da Câmara da Sertã não está arrependido da mudança, ditada sobretudo por razões de escala. Porque nos territórios onde há mais população, há mais fundos comunitários disponíveis para obras. Essa foi a lógica que imperou, mas José Farinha Nunes ressalva que a adesão não foi feita a martelo e que há muitos pontos em comum com os vizinhos ribatejanos.

O que o levou, enquanto presidente da Câmara da Sertã, a optar pela adesão à Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo em detrimento da ligação à maior parte dos municípios do seu distrito (Castelo Branco)? Foi sobretudo uma questão de escala. Sempre entendi que sem escala não era possível conseguirmos grandes candidaturas a fundos comunitários. A Europa não concede fundos se não houver um determinado número de população. Há comunidades intermunicipais que, neste momento, já estão a reflectir se hão-de agregar-se a outras precisamente por lhes faltar escala e, consequentemente, não terem direito a tantos fundos como teriam se estivessem envolvidos numa comunidade com maior dimensão.Foi então uma razão pragmática, relacionada com o acesso aos fundos europeus, que ditou essa mudança. Sim, porque sem fundos comunitários não há obras e sem obras não há desenvolvimento. Está tudo ligado. Tentei que a Comunidade do Pinhal Interior Norte e a Comunidade do Pinhal Interior Sul se juntassem, mas isso não foi possível.Porquê? Questões políticas? Sim. Entenderam que se deviam virar para outras zonas e isso fez com que chegássemos à conclusão que a melhor opção era a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT), onde estão concelhos vizinhos a que estamos ligados, como Ferreira do Zêzere, Mação, Tomar, Abrantes ou Sardoal.Não houve uma certa quebra de solidariedade com os seus vizinhos beirões? Não se trata disso. Tentámos ficar juntos, porque queremos manter esta união com os concelhos à volta. Mas quando não se consegue temos que optar. Não podemos ficar parados. Temos que decidir e foi isso que fizemos.O seu partido (PSD) a nível distrital não o pressionou? Há sempre comentários, mas temos que decidir em função do que achamos melhor para o nosso concelho e para a nossa região. E foi isso que fiz. Achámos que era melhor juntarmo-nos ao Médio Tejo e fomos muito bem recebidos. No Médio Tejo há um espírito de solidariedade, de justiça e de isenção muito acentuado.O facto de ter chegado à CIMT há alguns meses e ser logo nomeado vice-presidente é um sintoma disso? Por exemplo. Isso aliás vê-se na composição da mesa da CIMT. A presidente é do PS, eu sou do PSD e a outra vice-presidente é do PCP. Estão os três partidos representados. Até aí se vê que há uma certa noção de isenção e justiça.Aliás, a Sertã, tal como Vila de Rei, apesar de não pertencerem ao distrito de Santarém e de os respectivos municípios serem do PSD, têm alinhado com os outros municípios do Médio Tejo em posições bastante críticas relativamente a medidas do Governo, nomeadamente ao nível da justiça e da saúde. Temos de estar solidários, porque em primeiro lugar estão o nosso concelho e a nossa região. Podemos compreender as atitudes do Governo, seja ele qual for, mas temos de colocar em primeiro lugar o nosso concelho. Foi para isso que nos elegeram.O seu concelho continua a depender em termos de Educação ou de Saúde de Castelo Branco, a cujo distrito e círculo eleitoral pertence, mas em termos financeiros e até políticos está ligado à CIMT que integra municípios do distrito de Santarém. Não há aqui uma certa confusão? Nas fases de transição isso acontece sempre. Neste momento estamos a assistir a uma transição dos distritos para as comunidades intermunicipais. Estas arestas têm que ser limadas e só depois se consegue, em termos de organização territorial, proceder a um acerto.Não seria mais lógico que a Sertã, estando mais próxima de Abrantes ou de Tomar, passasse a depender do Centro Hospitalar do Médio Tejo na área da saúde? Neste momento não há muitas condições. Costuma até ser dito, a título de brincadeira, que se me dói uma perna vou para Abrantes, se me dói um braço vou para Tomar, se me dói a cabeça vou para Torres Novas. Se temos um determinado número de respostas em Castelo Branco e temos menos no hospital para onde vamos a seguir, não faz muito sentido mudar. Que afinidades existem, na sua opinião, entre o concelho da Sertã e os municípios do Médio Tejo? O país é pequeno. Podíamos dizer que Portugal é uma região. Não há assim tantas diferenças. Aqui a base da economia é a floresta, o turismo e as energias renováveis. Se formos para o Médio Tejo, mais a sul temos a agricultura, mais a norte a floresta. As energias renováveis estão em todos os municípios. Não há assim tantas diferenças.A floresta e o turismo, nomeadamente o associado à gastronomia, são mais valias que a Sertã pode acrescentar ao Médio Tejo? Exactamente. Devemos ser complementares. Cada município deve contribuir com as potencialidades que tem, para formar uma comunidade o mais completa possível. A Sertã, com a floresta, com o turismo, com a gastronomia, dá um bom contributo. O conjunto completa-se e forma uma excelente comunidade.Em que ponto está o processo de criação de um pólo do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) na Sertã? O pólo do IPT exerceu funções no ano lectivo anterior. Houve actividade na Escola Tecnológica, mas como os alunos eram poucos não fazia sentido manter um edifício em funcionamento só para isso. Foram ministrados dois cursos a funcionar através do IPT. Se houver alunos, e gostaria bastante que houvesse, continuamos interessados em manter essa ligação ao IPT.Hoje fará, enquanto autarca, mais viagens para Tomar, onde está a sede da CIMT, do que para Castelo Branco, a sua capital de distrito. A ligação à cidade templária é o grande constrangimento rodoviário que o seu concelho enfrenta? Sim e esse é um trabalho ao qual tenho dedicado muita atenção, que é a requalificação da EN 238 entre Cernache do Bonjardim e Ferreira do Zêzere. A própria CIMT está envolvida neste processo, que está adiantado e bem encaminhado. Estou convencido que brevemente teremos novidades.Como presidente da câmara, que argumentos utilizaria para convencer os ribatejanos a visitar a Sertã? É um concelho fresco, airoso, com excelentes paisagens e gentes que recebem bem. Há todas as condições para se gostar da Sertã e para cá vir. A gastronomia também chama muita gente.Por falar nisso. Vai realizar-se mais um Festival do Maranho. Essa política de realização de eventos tem sido uma aposta ganha? Sim. Desde o primeiro dia que temos investido em termos de divulgação das potencialidades que temos e uma delas é a gastronomia. O Festival de Gastronomia do Maranho é nos dias 11, 12 e 13 de Julho e temos investido na sua promoção porque temos sentido um retorno muito bom.O interior do país não está condenadoÉ daqueles que acha que o interior do país não está necessariamente condenado, apesar do encerramento de serviços públicos, da desertificação humana e do envelhecimento demográfico? Vamos continuar a lutar para diminuir essa tendência. Nesta fase, de facto, a população está a diminuir no país porque há menos nascimentos. Mas a grande questão é a economia do país. Temos que, a curto prazo, desenvolver a economia. Não somos um país pobre se conseguirmos aproveitar as potencialidades que temos. Não podemos é abandonar a agricultura, a pecuária, a floresta e as pescas. Se não abandonarmos as potencialidades que temos, somos um país médio em termos de economia. O centro de inovação e competências da floresta, recentemente criado na Sertã, é um exemplo desse tal aproveitamento das potencialidades. Formámos há pouco tempo essa associação precisamente para acrescentar valor à floresta. Estamos a começar a construir esse centro na zona industrial, que resulta de uma parceria entre a Câmara da Sertã, a Universidade de Coimbra e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Quais vão ser as áreas de actuação desse centro? Vai injectar conhecimento e permite que possamos certificar a nossa madeira. Não faz sentido que os postes telefónicos tenham de ser certificados em Paris ou que a madeira que exportamos das nossas serrações seja certificada na Alemanha. Temos conhecimento suficiente em Portugal para poder certificar e valorizar o nosso produto e esta é a primeira entidade do género em Portugal.Das finanças para a políticaJosé Farinha Nunes nasceu em 16 de Abril de 1950. É natural da freguesia e concelho da Sertã. Casado, tem dois filhos, dois netos e um terceiro a caminho. Em termos profissionais, foi funcionário da Direcção Geral dos Impostos até 2003, quando se aposentou. Está no segundo mandato como presidente da Câmara Municipal da Sertã, eleito pelo PSD.
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