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“Já fui várias vezes ameaçada de morte durante processos de penhora”

“Já fui várias vezes ameaçada de morte durante processos de penhora”

Sandra Sousa é solicitadora e agente de execução com escritórios em Alcanede e Almeirim

A crise financeira fez aumentar o número de penhoras tendo o auge sido no ano de 2012. Agora estagnou um pouco, apesar de continuar a haver muito trabalho nessa área, diz a solicitadora.

O sonho de Sandra Sousa era ter seguido uma carreira ligada às Relações Internacionais mas na hora de escolher o curso pôs a razão à frente do coração e optou pela área de Solicitadoria que, em 2001, era ainda pouco conhecida e com poucos profissionais na área. Trabalha desde 2008 como solicitadora e agente de execução e garante que foi a melhor decisão que tomou. Natural de Liteiros, concelho de Torres Novas, tem o escritório principal em Alcanede e outro em Almeirim, onde só vai quando tem marcações.No entanto, esta não foi a primeira experiência profissional de Sandra Sousa. Com o objectivo de ter o seu próprio dinheiro para não ter que andar a pedir aos pais, foi arranjando empregos durante as férias escolares e aos fins-de-semana. Aos 18 anos embarcou na aventura de ir com a irmã, dois anos mais nova, para a Côte-de-Azur, no sul de França, trabalhar para casa de uma família muito abastada.“Ajudávamos a senhora a governar a casa e chegámos a servir à mesa as refeições. Tínhamos todas as tardes livres, o que era óptimo para irmos para a praia. Quando decidimos ir, a minha mãe torceu um bocadinho o nariz. O meu pai é que nos incentivou e disse que nos ia fazer bem e realmente teve razão. Foi uma experiência única e sinto que amadureci mais rápido. Não é fácil estar longe da nossa família e fora do nosso país. Somos obrigados a sermos responsáveis”, conta a solicitadora a O MIRANTE, confessando que gostava de lá voltar.Quando começou a frequentar o curso de Solicitadoria no Instituto Politécnico de Leiria, aproveitava os fins-de-semana e férias para amealhar mais uns trocos. Trabalhou cerca de três anos no McDonalds de Torres Novas como hospedeira, nome dado à pessoa que orienta e ajuda nas festas de aniversário que se realizam no espaço. Em 2005 termina o curso e faz o estágio curricular na Conservatória de Alcanena, onde conhece muitos profissionais da sua área. Entretanto, realiza o estágio prático no escritório de um colega com quem, diz, aprendeu imenso. Em 2011 decidiu arriscar trabalhar sozinha. Devido ao elevado volume de trabalho, sentiu necessidade de contratar uma funcionária forense para a auxiliar.O que lhe ocupa grande parte do tempo são as penhoras. Sandra Sousa considerou esta área uma mais-valia e tirou a especialidade de Execução. Concorreu e conseguiu uma das 300 vagas. A solicitadora admite que as penhoras não são um trabalho fácil. Já foi ameaçada de morte várias vezes. Em 90 por cento das situações vai acompanhada pela polícia. Confessa que quando um seu colega de execução foi morto a tiro durante um processo de penhora andou uns tempos com receio. “Não sou mulher de ter medos mas a verdade é que nós é que levamos com a fúria das pessoas quando estamos apenas a fazer o nosso trabalho”, afirma acrescentando que depois desse episódio mudou o seu comportamento e postura com alguns executados. Mas nem tudo é mau. Também há aquelas pessoas que, apesar de estarem a ser alvo de execução de penhoras, nos ajudam e colaboram e algumas até choram. “É preciso ter estômago para aguentar certas situações”, sublinha.A crise financeira fez aumentar o número de penhoras tendo o auge sido, explica, em 2012. Agora estagnou um pouco, apesar de continuar a haver muito trabalho nessa área. Sandra Sousa diz que um solicitador acaba “muitas vezes” por ser também um psicólogo. As pessoas falam dos seus problemas e necessitam de palavras de conforto e Sandra não lhes nega esse apoio. A solicitadora trabalha normalmente entre 10 a 12 horas por dia. Admite que é puxado e que tem colocado a sua profissão à frente da vida familiar. Casou há cerca de um ano e ainda não tem filhos. “Ainda não pensei em ter filhos porque tenho dado prioridade à minha carreira, mas um dia vou ter que abrandar e inverter as prioridades”, admite. Dedicação e gostar do que se faz são, na sua opinião, os ingredientes para se ter uma carreira de sucesso na área da solicitadoria e execução.
“Já fui várias vezes ameaçada de morte durante processos de penhora”

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