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“Nada se pode sobrepor à cultura e qualquer caminho tem que ir dar à arte”

“Nada se pode sobrepor à cultura e qualquer caminho tem que ir dar à arte”

Simão Francisco, 25 anos, presidente da direcção da Canto Firme, Tomar

Nasceu em Tomar e, apesar de não ter ninguém na família ligado ao mundo artístico, cedo sentiu o apelo pelas artes e pela música. Tirou o curso de Instrumentista de Flauta Transversal no Porto mas o facto de ser bastante ligado à família fez com que regressasse à sua terra natal. Desde Janeiro de 2014 que é o presidente da direcção da Canto Firme - Associação Cultural. O seu lema de vida passa por errar muito para aprender a ser cada vez melhor.

Foi difícil comunicar à família a opção de ser músico. Na altura, e ainda hoje, não se percebe muito bem esta profissão. Nasci em Tomar, no mesmo dia em que nasceu o maestro Lopes Graça, 17 de Dezembro. Sou da aldeia da Sabacheira, onde fiz os meus primeiros estudos. No 5.º ano vim para a Escola Santa Iria de Tomar e acabei por ingressar na Escola Secundária Jácome Ratton, onde tirei um curso tecnológico de Serralharia Mecânica porque a minha mãe queria que fosse engenheiro mecânico. Tive que fazer algumas “jogadas” estratégicas para conseguir ser músico.Em pequeno dizia que queria ser cantor, bombeiro ou padre. Fui o primeiro artista da família. Tinha uma pessoa amiga da família, a D. Luísa, que é pianista e me convidou a ir para o Centro de Formação Artística da Gualdim Pais. Foi ali que, aos poucos, fui descobrindo a vocação. Detestei os meus dois primeiros anos mas, com o tempo, aprendi o que era Arte. Toquei durante 15 anos na banda da Gualdim Pais. Fiz, durante alguns anos, parte do Grupo de Teatro de Seiça e ainda hoje, sempre que posso, me meto nessa aventura de tentar ser actor. Comecei por aprender piano com um professor à moda antiga. Não gostei. Entretanto, passei para o clarinete e também não gostei. Antes de desistir fui convidado pela professora Sofia Cosme a experimentar a flauta transversal. Tinha 12, 13 anos. Conciliei as aulas com o percurso normal de Conservatório até que, no 12.º ano, resolvi ingressar na Escola Superior de Música e Artes e Espectáculo (ESMAE) no Porto. Tirei o curso de Flauta Transversal, um instrumento da família dos sopros, que é o mais agudo da orquestra. Gosto de ser músico porque, ao contrário do que acontece com muitas pessoas, retiro prazer da minha profissão. Hoje em dia, com a crise, é difícil trabalhar no que se gosta e nós músicos temos essa felicidade. Não sei explicar porque é que escolhi Flauta Transversal. Há uma expressão célebre que diz que os músicos são os ginastas dos músculos pequeninos. A respiração vai sendo trabalhada ao longo do percurso. O apego à família ditou o meu regresso a Tomar. Felizmente, em 2010, consegui arranjar trabalho a dar aulas na Canto Firme. É difícil em Portugal ser instrumentista numa Orquestra pelo que a via do ensino acaba por ser uma saída. Não deixamos de ser músicos por isso. Neste tempo conheci a área da direcção de orquestra onde quero apostar seriamente. Já dirigi a Banda de Penela, Mira D’Aire e agora estou na Sociedade Artística Musical dos Pousos (Leiria). A vida coloca-nos no local onde devemos estar. Sou presidente da direcção da Canto Firme desde Janeiro. Um dia, estávamos todos em convívio num café quando alguém disse que eu é que era bom para presidente da Canto Firme. O convite formal apareceu e cá estou eu nesta aventura que considero muito gratificante. Não vou ser presidente sempre porque sou contra cargos vitalícios.O maior desafio como presidente da Canto Firme foi perceber as contas da instituição. Sem perfil de gestor tive que aprender esta arte que é gerir o capital de uma associação. Temos 40 pessoas a depender deste casa e, por consequência, as suas famílias. Quando escolhi a minha equipa, tentei agarrar as pessoas certas para os lugares certos o que tem sido uma grande ajuda. Como já era professor na escola e já havia uma relação de proximidade foi mais fácil o entendimento com as pessoas.Nada se pode sobrepor à cultura e qualquer caminho tem que ir dar sempre à arte. É esta a filosofia que quero incutir na Canto Firme. Por muito más que as coisas estejam, ao nível financeiro, ou exista desconforto em termos de relações de trabalho isso nunca se pode sobrepor ao ensino da cultura nesta associação. Esta casa tem que transmitir o que melhor sabe fazer: cultura. Durante muitos anos a Canto Firme foi conotada com uma imagem elitista. Queremos erradicar essa ideia porque, na verdade, nunca assim foi. Gosto de errar e emendar. Sou sonhador demais. Gosto de ter novidades todos os dias. Gosto do desafio que os problemas representam. Só quando dou aulas é que tenho um horário mais estereotipado. Estou na Canto Firme quase sete dias por semana, sem hora de entrada e de saída. O presidente aqui também arruma e limpa o pó se for preciso. A minha mulher (sou casado há um ano) compreende esta minha entrega e, por vezes, também vem aqui dar uma ajuda. Para mim ir de férias só é bom nas primeiras duas horas. Não consigo desligar. Os meus hobbies são a fotografia e gostava muito de voltar a fazer teatro. Gosto de ir a concertos, de ir beber café com os amigos e de jantaradas. Adoro cozinhar e todos os meus pratos são especialidades “à lá Simão”. Quando tenho um dia disponível para a família tento sempre desfrutá-lo ao máximo. Sou uma pessoa positiva e calmo q.b.. Gosto de frontalidade. Se há algo que me tira do sério é quando falam por trás das minhas costas. O meu lema é viver o dia-a-dia e errar muito. Prefiro errar muito do que nunca errar pois só assim aprendo a ser uma pessoa cada vez melhor.Elsa Ribeiro Gonçalves
“Nada se pode sobrepor à cultura e qualquer caminho tem que ir dar à arte”

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