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Que força é essa que faz de Cem Soldos a capital da música

Que força é essa que faz de Cem Soldos a capital da música

Festival dos Bons Sons com mais de trinta e cinco mil espectadores. Sérgio Godinho caiu do palco mas mesmo ferido voltou a cantar

“Que força é essa amigo”, pergunta Sérgio Godinho numa das suas canções mais antigas. A pergunta não foi escrita para o Festival dos Bons Sons mas o cantor deve tê-la colocado a si próprio no Domingo à noite, quando após uma queda do palco, em que sofreu dois golpes na cabeça acabou o concerto cantando durante mais meia hora.

José Mourão, 92 anos, habitante de Cem Soldos, Tomar, está sentado numa cadeira, no Largo do Rossio, a observar quem passa. É quinta feira, 14 de Agosto, dia de arranque da 5.ª edição do Festival “Bons Sons”, um evento bianual de música portuguesa que se espelhou em 55 concertos, divididos por oito palcos. Um jovem pergunta-lhe se pode tirar uma foto a seu lado. Habituado a ser solicitado para posar, por ser o habitante mais idoso da aldeia, acede gentilmente. Durante quatro dias a sua aldeia foi “invadida” por jovens vindos de todo o lado. Muitos deles estrangeiros. “Quando começa isto tudo, é uma festa. É uma aldeia que parece uma cidade. O melhor que temos é este povo que vemos”, diz. Os que nunca tinham ido ao Festival dos Bons Sons, em Cem Soldos, ficam surpreendidos pelo facto do festival se desenrolar no interior da própria aldeia, com os habitantes a tentarem fazer a sua vida quotidiana com milhares de pessoas a “curtir” música à porta de suas casas. Se dúvidas existissem sobre a participação dos habitantes na organização basta dizer que as refeições dos artistas foram confeccionadas e servidas pelas senhoras da aldeia que, tal como os restantes habitantes, acarinharam o projecto do Sport Clube Operário de Cem Soldos (SCOSC) que conseguiu colocar a localidade de mil habitantes no mapa nacional dos festivais de Verão. Pelas ruas passeiam raparigas e rapazes com roupas e penteados extravagantes. Há grupos sentados em roda aqui e ali. Os estilos são tão variados como a música. Cabelos cor-de-rosa, piercings, tatuagens, t-shirts com mensagens estampadas. Através do altifalante ouve-se música. Há espaços culturais dispersos por vários locais. “Bandas-Sonoras” de Rita Carmo, fotógrafa da Blitz ou “Pinturas Fotográficas” de Catarina Pereira, uma artista das Caldas da Rainha, são duas das exposições visitáveis. A cada passo há improvisadas bancas de artesanato. Luís Ferreira, director do Festival, não encontra palavras para explicar a “força” que move uma aldeia inteira e acolheu, pelas suas contas, 35 mil visitantes. Um dos segredos passa, certamente, pelos 75 voluntários “incansáveis” no seu apoio e “exímios” nas suas tarefas, uma face visível do Festival graças às t-shirts que ostentam com o logótipo do festival. Com idades entre os 17 e os 69 anos, alguns vieram de fora da aldeia. “O Bons Sons é um Festival feito de pessoas. Além de todos quantos colaboraram para fazer crescer o festival, tanto habitantes como amigos, a organização presta um agradecimento especial a estes voluntários”, atesta. Os festivaleiros não poupam elogios e dão conselhos para que o mesmo cresça. “Foi mais um grande festival. Registo melhorias em relação à edição anterior mas precisam melhorar o espaço dos campistas porque foi pequeno demais para acolher tanta gente. Quanto às bandas foi bom. Até ao próximo festival”, atesta José Carlos, de Felgueiras. Muitos já entraram em contagem decrescente para o próximo Festival. “É incrível o ambiente deste festival. Só vivendo se entende”, convida Jéssica Vieira, voluntária. “Nunca mais é 2016! Não para sermos mais velhos... é que foi tão bom”, resume Luísa Ferreira. Sérgio Godinho caiu do palco mas mesmo ferido voltou a cantar O músico Sérgio Godinho caiu do palco durante a sua actuação no Festival. “Foi uma queda memorável”, disse o músico, com algum humor, após ter regressado para terminar a sua actuação. O incidente aconteceu na noite de domingo, 17 de Agosto, cerca das 0h20, segundo contou a O MIRANTE um espectador. Após ser assistido no local pelos bombeiros de Tomar, o artista ainda actuou durante mais meia hora. De acordo com os bombeiros, Sérgio Godinho sofreu dois cortes “bastante profundos” na cabeça. “Há artistas maiores que a vida”, elogiou a organização do Festival. No final, o músico foi transportado para o Hospital de Tomar para ser observado e foi suturado com alguns pontos.
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