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Mulheres estreiam-se no mundo da pesca desportiva por influência dos maridos

Mulheres estreiam-se no mundo da pesca desportiva por influência dos maridos

Portugal conquistou terceiro lugar no Campeonato do Mundo Feminino de Pesca Desportiva

A prova realizou-se no rio Sorraia, em Coruche. O MIRANTE foi falar com as pescadoras da selecção nacional que moram e vivem na região para saber como se apaixonaram pela modalidade. Todas começaram a pescar por influência dos maridos. Competir ao mais alto nível não fica barato como relatou uma delas que neste momento está desempregada.

O silêncio é quase total à beira do rio Sorraia. Na margem norte do rio que atravessa Coruche 65 mulheres de 13 países disputam entre si o Campeonato do Mundo Feminino de Pesca, que este ano se realizou no fim de semana de 23 e 24 de Agosto. Cada selecção levou seis pescadoras. Cinco efectivas e uma suplente. Os treinos realizaram-se entre segunda e sexta-feira. O objectivo foi a adaptação das concorrentes ao local e ao tipo de peixe existente. Portugal conseguiu o terceiro lugar. As selecções são divididas em boxes. No areal não faltam muitas canas de pesca de várias qualidades e feitios, já preparadas para o caso de ser necessário utilizá-las. Sentadas numa cadeira, as pescadoras estão concentradas no que está a acontecer no rio. Com uma fisga lançam o engodo para a água e esperam que o peixe morda o isco. Quando pescam o peixe este é colocado numa manga, que está dentro de água, e no final são atirados novamente ao rio. As pescadoras vão falando com os capitães de equipa que vão dando indicações úteis ao seu desempenho. Os braços das atletas estão muito bronzeados devido ao muito tempo que passam ao sol. A semana de treinos e os dois dias de competição foram de muito sol e temperaturas elevadas.O MIRANTE assistiu ao penúltimo treino, na quinta-feira, 21 de Agosto, e falou com três das pescadoras da selecção nacional que são de Tomar e de Benavente. Começaram todas a pescar da mesma maneira: por influência dos maridos. Acompanhavam-nos aos fins-de-semana nas pescarias e de tanto ouvir falar de técnicas de pesca decidiram experimentar. E ficaram com o bichinho. Virgínia Ferreira tem 55 anos e começou a pescar há 25 anos. Numa das vezes em que assistia à pesca do marido decidiu pegar na cana. Foi o suficiente para nunca mais parar. Natural de Tomar mas a viver em Benavente há dez anos, já participou em 18 campeonatos do mundo, tendo conquistado o título de campeã do mundo numa das vezes. O segredo, confessa, são muitas horas de treino. “Não podemos ter férias da pesca. Temos que saber que peixe existe no local onde estamos a pescar e saber o que cada peixe come. Temos que conhecer bem os peixes e os locais. Depois é praticar muito”, explica a O MIRANTE. Virgínia Ferreira está filiada no clube de pesca do Sport Lisboa e Benfica. Tanto o marido como o filho também já se sagraram campeões do mundo. Nunca leva o peixe que pesca para casa e diz que quando está em lazer, pescar ajuda a esquecer os problemas. O maior peixe que pescou foi na África do Sul, um siluro com 14 quilos.Apesar de acompanhar o marido nas pescarias há vários anos só o ano passado é que Virgínia Isidro decidiu começar a pescar. O companheiro ofereceu-lhe um kit de pesca para a esposa se divertir. Virgínia Isidro apanhou um peixe e ficou com o bichinho de querer continuar. Participou no campeonato nacional pela primeira vez e a coisa correu tão bem que ficou logo apurada para o campeonato do mundo deste ano. A funcionária pública, que comemorou 45 anos no dia da final do campeonato [domingo], afirma que a dedicação é muito importante. “Estou sempre deserta que chegue o fim-de-semana para irmos pescar. Não importa o local, o que quero mesmo é pescar. Ainda estou a aprender sobretudo sobre técnicas. Temos que saber como o peixe está a comer, para que lado se está a virar, que tipo de engodo está a gostar mais. Não é só colocar a cana na água e esperar que ele morda o isco”, conta. Os maiores peixes que já pescou foram uma carpa e um barbo, ambos com cerca de três quilos.Quando Vera Azeitona casou já o marido era pescador. Durante muitos anos acompanhou-o, juntamente com os filhos, nas viagens para pescar. Há seis anos decidiu experimentar e, depois de conhecer outras mulheres que se dedicam ao mesmo hobbie, decidiu começar a participar no campeonato regional. Durante três anos ficou sempre em primeiro lugar. Depois decidiu ‘saltar’ para o Nacional, tendo ficado o ano passado em terceiro lugar. Actualmente está filiada no Clube Amadores de Pesca de Tomar e os filhos também já são apaixonados por pesca. Apesar do marido ter sido emigrado para França, Vera Azeitona, que tem 34 anos e está desempregada, continua a levar os filhos para o passatempo preferido da sua família. Admite, no entanto, que esta é uma actividade dispendiosa, sobretudo para quem participa em campeonatos. Uma cana de pesca pode custar 360 euros. “Para o Mundial pediram-nos oito canas e são despesas que saem todas do nosso bolso. Temos que ter muito amor à pesca senão não vale a pena”, refere Vera, acrescentando que se não houver um estímulo para a prática desta actividade desportiva a tendência será “acabar” a modalidade a nível de competição. Coruche é considerada a Catedral de Pesca à InglesaEsta é a primeira vez que o Campeonato do Mundo de Pesca Feminino se realiza em Coruche. O presidente da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva, Jorge Almeirim, considera que a vila ribatejana foi escolhida pelas “excelentes condições” que o rio Sorraia oferece. “É um local único no mundo, para um tipo de pesca muito específica. Além disso as margens em areia que, normalmente, não se encontra em lado nenhum tornam o local indicado para este tipo de campeonato”, afirma. Jorge Almeirim diz ainda que as obras de requalificação do rio que a câmara municipal faz regularmente permitem que este seja um local de excelência. O presidente da FPPD conta a O MIRANTE que Coruche é conhecida, no mundo da pesca desportiva, como a Catedral de Pesca à Inglesa, por ter excelentes condições para desenvolver a actividade desportiva. Apesar deste ser um mundo ainda muito masculino existem em Portugal cerca de uma centena de pescadoras filiadas, entre água doce e mar. Várias já conquistaram títulos de campeãs do mundo, o que lhes dá garantias de bons resultados.
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