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Numa zona do país envelhecida há quem se queixe de ter juventude a mais

Numa zona do país envelhecida há quem se queixe de ter juventude a mais

Filarmónica Maçaense gostava de ter mais adultos na sua Banda de Música

Quando se fala em terras do interior, fala-se em desertificação e populações envelhecidas e isso também acontece no concelho de Mação, no norte do distrito de Santarém. Mas há quem se queixe de ter demasiada juventude.

Criada em 1862, a Sociedade Filarmónica União Maçaense sobrevive com o apoio municipal mas encara o futuro com esperança. A mais recente direcção tomou posse a 23 de Junho. O maior problema é a falta de elementos mais velhos na banda.Os primeiros instrumentos para a formação de uma Banda Filarmónica foram comprados com donativos da população. Desde a sua fundação a banda participou sempre de forma activa nos arraiais, festas populares e procissões, assim como em encontros de bandas.Actualmente a banda tem cerca de 40 elementos, a maioria dos quais são alunos da Escola de Música. Se há uma década se falava no envelhecimento, agora o problema é exactamente o oposto. “Os nossos músicos têm sobretudo idades abaixo dos 23 anos, o que faz de nós uma banda bastante nova. Quando chegam ao 12º ano os jovens acabam por desistir da filarmónica porque vão estudar para fora e já não voltam” conta o presidente da direcção, Nuno Marques. Este ano vai ser lançado um novo projecto que consiste em proporcionar aos alunos da Escola EB1 de Mação aulas leccionadas por professores do Conservatório de Tomar. O “Música vai à escola” irá funcionar às quartas-feiras e os custos ficarão a cargo da sociedade filarmónica.A nova direcção tomou posse em Junho. “Nós assumimos estas funções porque os nossos filhos estão na escola de música e na banda e quisemos dar continuidade a este trabalho. Ao longo dos anos a banda tem sofrido muitos altos e baixos, umas vezes por falta de elementos ou pela inexistência de quem tivesse vontade de assumir esta responsabilidade, outras por dificuldades financeiras” explica Ana Valente, secretária da direcção.A filarmónica vive sobretudo dos subsídios da autarquia. “Vivemos da boa caridade das pessoas, temos apoio de alguma empresas e da junta de freguesia mas o nosso apoio vem sobretudo da Câmara Municipal de Mação” explica Nuno Marques. Com cerca de 150 sócios, a Sociedade Filarmónica União Maçaense tem a sua sede no antigo liceu D. Pedro V, local onde também decorrem os ensaios da Banda. Um jovem maestro com desejo de conciliar dois sonhosO maestro Adriano Salgueiro, de 22 anos, entrou para a banda aos 12. Na altura foi aprender clarinete. Viveu algum tempo em Lisboa mas regressou à terra ainda adolescente. Estava a frequentar o 10º ano. Retomou o ensino da música e aprendeu a tocar flauta transversal. Quando o anterior maestro saiu, assumiu o seu lugar com naturalidade. Adriano Salgueiro é aplicado e exigente. Para ele quem gosta de música tem que se dedicar e trabalhar muito para progredir. “A música requer tempo e tem muito a ver com atitude. Tem sido difícil conciliar o pensamento de todos os elementos no mesmo sentido porque a banda possui pessoas com objectivos diferentes”. Uma das ambições da banda é conseguir pessoas com mais maturidade. “O ano passado entraram três pessoas de meia-idade que ajudaram a estabilizar o grupo. São pessoas com maturidade, que têm a noção da obrigatoriedade de cumprir horários, por exemplo. E são pessoas que ajudam a impor respeito e disciplina”, refere. Para além da actividade na Banda da Sociedade Filarmónica União Maçaense, Adriano Salgueiro estuda piloto de linha aérea em Tires, Sintra. Quando terminar, no final de Novembro, vai tentar trabalhar como instrutor. Se tiver que emigrar para arranjar trabalho diz que está preparado. “Se eu tiver que sair, decerto será encontrada uma pessoa para me substituir”. A conclusão é lógica. Afinal a Banda tem mais de 150 anos e que se saiba nunca teve elementos insubstituíveis. Anaís e José Mário criticam absentismo e atrasos dos colegasAnaís Albuquerque, 13 anos, iniciou-se na banda há cinco anos. A sua ligação à música é de família porque em casa o pai tocava piano. Ela toca clarinete. A única coisa de que não gosta na banda é da falta de pontualidade e da fraca assiduidade de alguns elementos. “Somos todos bastante novos mas a idade não pode ser desculpa para faltar aos ensaios ou chegar sempre com atraso”, diz com convicção.José Mário Silva, 65 anos, está na banda desde 1980 e é o elemento mais velho do grupo. Toca bombo. Ao longo dos anos já viu a banda passar por muitas dificuldades. “Já tivemos falta de elementos, de instrumentos, de fardamento, mas neste momento o maior problema é a assiduidade. Eu é raro falhar um ensaio porque tenho um enorme gosto pela música e gosto de ir com a banda tocar a todo o lado para encontrar gente conhecida ou fazer novos amigos”. Elogia o maestro Adriano Salgueiro pelo facto de ele ser perfeccionista. “Ele, apesar de muito jovem, quer fazer sempre bem e sempre melhor.” Lembra os tempos antigos mas sem nostalgia. Diz que a actividade na banda o faz sentir mais novo. “Antes quando íamos a uma festa tínhamos de levar almoço, agora há um maior acompanhamento por parte da direcção. Eu sinto-me mais jovem por estar entre os miúdos, e se eles estão cá é porque também gostam de música”, conclui.
Numa zona do país envelhecida há quem se queixe de ter juventude a mais

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