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Já foi feito muito para melhorar a cidade mais ainda há muito a fazer

Comerciantes da Póvoa de Santa Iria falam abertamente sobre o que pode ser feito

Quem trabalha diariamente na Póvoa de Santa Iria é que sabe o bom e o mau da cidade. Quem é comerciante ainda sabe mais porque, para além da sua apreciação própria, recebe a toda a hora informação transmitida pelos seus clientes. De um modo geral todos os entrevistados consideram que continuam a viver num dormitório de Lisboa mas a partir daí há opiniões que divergem consoante as experiências de cada um, seja sobre segurança, transportes, espaços verdes ou trânsito e estacionamento. Estas páginas de O MIRANTE deviam ser lidas por todos os que têm responsabilidade na gestão da cidade, principalmente os autarcas. As pessoas que ouvimos até podem não ir às reuniões do Orçamento Participativo porque ao fim de um dia de trabalho necessitam de um pouco de descanso mas as suas opiniões podem desde já ficar registadas.

Joaquim Ferreira, 61 anos, comerciante“Bom produto, bom preço, bom atendimento”O proprietário do Minimercado Celeiro da Póvoa continua fiel à “máxima” de que o cliente tem sempre razão. “Agora mais do que nunca com a invasão das grandes superfícies”, remata Joaquim Ferreira. Há 19 anos que tem ao serviço a mesma colaboradora e defende como critério de selecção um “período de adaptação” de dois a quatro meses, no mínimo, para “saber se uma pessoa é séria”, para trabalhar consigo. Acha que o poder local, câmara e junta de freguesia, nada têm feito para facilitar a vida a quem tem negócios. “Deviam facilitar o acesso em vez de colocarem pilaretes defronte das lojas antigas o que afasta clientes do comércio tradicional”, sugere. Faz questão de agradecer a todos os clientes que há 30 anos se abastecem na sua loja. “Prometo tudo fazer para continuar a merecer a confiança de todos, mantendo um bom produto, um bom preço e sempre um bom atendimento”, diz, estendendo o agradecimento em nome da sua colaboradora. Joaquim Ferreira considera que a Póvoa continua a ser um dormitório de Lisboa. “Só tem o nome de cidade, de resto não tem mais nada”, acrescenta. Gisela Robalo, 38 anos, cabeleireira“Estacionamento é o principal problema”A dona dos Cabeleireiros Gisela não considera que os clientes tenham sempre razão. “Hoje em dia, há quem aproveite esse princípio para conseguir descontos, procurando fazer valer os seus direitos e esquecendo os deveres”, sublinha. A seu ver escolher alguém para trabalhar consigo “é uma questão complicada, quase como o casamento”, pois “nunca sabemos de quem se trata e vai trabalhando conforme as circunstâncias”. Gisela Robalo também é da opinião de que o poder local não tem ajudado quem tem negócios na terra. “Deviam dinamizar algum evento em que os comerciantes pudessem participar, como já aconteceu, no passado, com um desfile de moda e um concurso de montras”, sugere. A seu ver, a Póvoa continua a ser um dormitório pois a maioria da população trabalha em Lisboa. “Acabam fazendo tudo fora da Póvoa, incluindo as compras, aproveitando a hora do intervalo para almoço e a saída do emprego”, recorda. Gisela Robalo diz que o estacionamento é o principal problema da cidade, mas acha que a curto prazo pouco, ou nada, poderá ser feito nesse capítulo. “Não sinto que haja falta de segurança”, refere a cabeleireira, destacando a presença assídua da polícia nas ruas. Luís Henriques, 40 anos, empresário“Os transportes públicos são uma miséria”O proprietário do Quiosque Rivoli considera que o cliente já não é o que era no passado. “Antes havia mais cordialidade e respeito. Hoje há clientes que adoptam uma postura tipo ‘quero, posso e mando’. É verdade que se dizia que o cliente tinha sempre razão mas agora as coisas mudaram. Estamos aqui para servir, mas não somos escravos das pessoas e às vezes algumas passam das marcas”, sublinha. A disponibilidade é um dos critérios de escolha de trabalhadores, porque o seu estabelecimento abre todos os dias às 06h00. A educação, simpatia e a seriedade com que se trabalha são outros factores importantes. “Quando se mexe com dinheiro, de manhã à noite, as pessoas têm que ser sérias senão é complicado”, diz Luís Henriques. Por outro lado, não consegue avaliar, nem quer, o trabalho da junta de freguesia e da câmara municipal para facilitarem a vida de quem tem negócios na terra. O empresário considera que a Póvoa, tal como todas as zonas envolventes de Lisboa, continua a ser um dormitório. “Tem vida própria mas falta muita coisa para ser uma cidade na verdadeira acepção da palavra, a começar pelos serviços públicos que não existem e obrigam a ir a Vila Franca de Xira ou Lisboa”, frisa. Refere que um dos principais problemas da cidade são os transportes públicos. “O serviço é uma miséria e cada vez se cortam mais autocarros e comboios, obrigando as pessoas a recorrerem a transporte próprio por não terem alternativas”. Luís Henriques aponta a falta de segurança como o principal problema da cidade, acrescentando que todos os dias são assaltadas pessoas em toda a parte. “O meu quiosque foi assaltado há dois anos mas os ladrões ainda não foram julgados”, conta. Pedro Vardasca, 55 anos, empresário da restauração“Faltam zonas de lazer e espaços verdes”O proprietário do Leve Catering considera que, tal como antigamente, o cliente continua a ter razão à partida. “Ele é que decide e é soberano nas suas escolhas”, justifica. A escolha de colaboradores é feita, normalmente, por entrevista. É condição preferencial que os candidatos tenham alguma prática e experiência no ramo. “A certeza de que é a pessoa certa vai-se tendo no dia-a-dia. É um processo evolutivo e não uma situação concreta”, diz o empresário. Na sua opinião o poder local não está a fazer tudo o que está ao seu alcance para facilitar a vida de quem tem negócios na terra. “Nunca estará tudo feito e na Póvoa de Santa Iria está muito por fazer, a começar pela divulgação e promoção do comércio local”, afirma Pedro Vardasca, que receia que as lojas tradicionais venham a ser absorvidas pelas grandes superfícies. O empresário defende que a junta de freguesia e a câmara municipal podiam lançar cadernos locais para promover o comércio local, a exemplo do suplemento de O MIRANTE sobre as festas da cidade. Embora Póvoa de Santa Iria seja cidade considera que é cada vez mais um dormitório de Lisboa. “A Póvoa velha, em si mesma, desapareceu por não ter sido reabilitada e cresceu na parte de cima da estrada nacional, tornando-se uma zona residencial com pouca actividade local”, refere. Outros problemas que menciona são o trânsito a mais e a falta de zonas de lazer e espaços verdes que a tornem a localidade mais acolhedora. “Não se pode criticar tudo o que foi feito, mas a verdade é que a envolvente e os acessos do Parque Urbano da Póvoa, na zona ribeirinha, são muito maus e até assustam quem lá vai devido ao estado avançado de degradação”, lamenta o empresário.Fernando Matias, 58 anos, agente de seguros“Continuamos a ser um dormitório de Lisboa”No escritório da J. Matias Seguros parte-se sempre do pressuposto que os clientes é que têm razão mas reconhece-se que tudo depende do cliente. “Nem sempre o cliente tem razão. Quando isso acontece tentamos esclarecê-lo da melhor maneira”, diz Fernando Matias, adiantando que há pessoas que reclamam a torto e a direito só porque a apólice de seguro não cobre situações que não figuram no contrato, escrito e assinado. Na selecção de potenciais colaboradores procura “perceber se existe honestidade”, sendo esta obediência às regras morais existentes um dos factores preferenciais, juntamente com a pontualidade. “Geralmente basta um mês à experiência para testar as capacidades de um candidato”, sublinha. Quanto a saber se o poder local está empenhado em facilitar a vida de quem tem negócios, acha que “tudo aquilo que está a ser feito é suficiente", pelo menos no seu caso, mas aponta uma falha. “Podiam sinalizar melhor as estradas e projectar rotundas mais seguras”, defende. A seu ver, a Póvoa continua a ser um dormitório de Lisboa. “Ainda não se sente que seja uma cidade”, sobretudo porque muitos organismos públicos não têm serviços de atendimento locais. Fernando Matias diz que um dos principais problemas da cidade é o “excesso de construção” e a falta de valorização e manutenção dos espaços verdes. Diz que o passeio ribeirinho, na margem do Tejo, foi uma coisa “muito bem feita”, mas que deveria ser melhorada “para evitar a poeirada quando se vai correr ou fazer caminhada”.

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