Sara Fonseca emigrou com os pais para Paris (França) quando tinha oito anos e a sua vida foi-se orientando para ficar a viver em terras gaulesas. A decisão de fazer o terceiro ano do curso de Direito, ao abrigo do Programa Erasmus, em Lisboa, mudou-lhe a vida. Natural de Arneiro das Milhariças, concelho de Santarém, Sara Fonseca não conhecia quase nada do seu país natal. Gostou tanto do país que, aos 21 anos, decidiu regressar definitivamente a Portugal após concluir o curso. No entanto, a vida não foi fácil. Não conseguiu equivalência do curso de Direito que tirou em França e a solução teria que ser tirar novamente o curso, desta vez em Portugal. A jovem desmoralizou com toda a burocracia e desistiu do curso de Direito. Começou a trabalhar nos Correios e nos tempos livres era voluntária nos bombeiros em Santarém. Um sonho de criança que conseguiu concretizar. Uma experiência da qual guarda muito boas recordações, mantendo a esperança de conseguir arranjar tempo para voltar a essa actividade, apenas em tempo parcial. “Em miúda ficava fascinada ao ver os bombeiros a apagarem os fogos e ouvir as sirenes mexia comigo. Os bombeiros foram uma escola de vida, uma família, onde me senti útil por poder ajudar as pessoas. Por vezes queixamo-nos que temos um problema mas quando nos deparamos com determinadas realidades percebemos que o nosso problema é ridículo”, diz a O MIRANTE.Quando já trabalhava há algum tempo nos Correios percebeu que aquele era um trabalho que se tornaria incerto e que teria que tomar uma decisão na sua vida. Optou por tirar o curso de solicitadoria. Foi a melhor coisa que poderia ter feito. “Tirei Direito mas não gostava muito da parte dos tribunais por isso os problemas todos que tive foram bons porque tenho a certeza que não me iria sentir realizada naquela profissão. Isto é mesmo o que gosto de fazer”, sublinha. Ainda ponderou seguir a especialidade de agente de execução mas durante os meses que trabalhou com um colega dessa área percebeu que não iria gostar. Considera esse tipo de trabalho repetitivo, ingrato e com um volume de trabalho muito grande.Inicialmente, abriu escritório em Alpiarça mas como a maioria dos clientes são de Santarém e Lisboa, optou por mudar-se para Santarém, cidade onde também reside. Os seus dias nunca são iguais. Uns são passados no escritório, outros nas conservatórias ou na rua. Legalizações de terrenos, constituições de sociedades, alterações de sede e registos de marca são alguns dos serviços que mais lhe pedem. Além de solicitadora, Sara Fonseca por vezes também faz de psicóloga dos seus clientes. Algo que faz com todo o gosto porque, diz, muitas vezes só querem desabafar e ficam bem depois de falarem. Qualidade no serviço, celeridade e ser o mais profissional possível com os clientes são, para a solicitadora, os segredos do êxito para qualquer profissional.Apesar de ter gostado dos anos que viveu em França diz que em Portugal há mais qualidade de vida. “Normalmente, as pessoas quando emigram vão com a intenção de amealhar o máximo possível de dinheiro, para ter um melhor nível de vida que não tinham em Portugal, e a vida é de contenção. Foi isso que aconteceu comigo. Não tinha muita vida social por isso quando cheguei a Portugal, sozinha, foi um mundo totalmente novo. Em França o ritmo é muito mais acelerado e o stress é maior. Aqui, apesar da crise, temos qualidade de vida e tempo para a família e amigos”, confessa.Agora que os pais e a irmã também já regressaram definitivamente a Portugal vai a Paris pelo menos uma vez por ano, onde a família ainda tem casa, para passar uns dias de férias. Garante, no entanto, que a sua vida é em Portugal. Nos tempos livres aproveita para estar com os amigos, família e para aproveitar o bom tempo faz piqueniques com a avó e leva-a à praia, actividades que adoram fazer juntas.