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“Não sou capaz de recusar um doente que precise de mim"

“Não sou capaz de recusar um doente que precise de mim"

José Manuel Lourenço, 52 anos, médico e administrador da Clínica Lusoxyra, Vila Franca de Xira

É especialista em medicina interna no Hospital de Vila Franca de Xira. Alia esse trabalho com a gestão da clínica que possui na cidade. Leva os problemas do trabalho para casa e confessa que já chorou por causa de um doente. Considera-se um perfeccionista e diz que a medicina vai ser sempre a sua grande paixão.

O meu pai faleceu quando eu tinha 12 anos e acho que foi nessa altura que decidi ser médico. Foi quando comecei a ter muito interesse sobre os mecanismos da vida e sobre o funcionamento do corpo humano. Eu gostava muito de engenharia e era bom a matemática e física mas a área da saúde acabou por falar mais alto. Nunca fui um aluno excepcional mas quando decidi entrar para medicina apliquei-me a sério. Era um curso duro, muito competitivo, era cada um por si. Naquele tempo as coisas estavam a mudar e já havia muita gente na faculdade que não tinha os pais na área da medicina. Vim para Vila Franca de Xira fazer o internato e por cá fiquei. No meu primeiro dia fui conhecer o hospital e foi uma grande emoção. Eu estava muito motivado, queria aprender mais, ver doentes, salvar este mundo e o próximo (risos). Depois, como acontece sempre, o meu entusiasmo foi-se ajustando. Gosto das coisas bem feitas, se não faço bem o melhor é não fazer. Vivo no Porto Alto mas vou praticamente todos os dias a Vila Franca de Xira, ao hospital e à Lusoxyra, a minha clínica que faz sete anos em Outubro. Aqui sou tudo. Sou o patrão, a empregada, o médico, só não fabrico os medicamentos (risos). Não é fácil conciliar a vida de médico com a vida de empresário. Levo os problemas para casa e não consigo abstrair-me totalmente deles. Do que gosto mais é da prática médica mas tenho que resolver os outros problemas. Sou uma pessoa cautelosa e não gosto de pisar em ramo verde. Às vezes posso facilitar um bocado mas tento sempre ter os pés bem assentes no chão, porque as coisas estão muito complicadas para as empresas, sobretudo com os impostos como estão.Nem todos os médicos têm uma vida santa. Na medicina e na nossa vida hospitalar é quase sempre uma correria sob stress. Nos dias de banco, então, é terrível. Sair do hospital às duas da tarde, vir a correr para a clínica e sair daqui pelas oito ou dez da noite é desgastante. Mas as pessoas precisam e eu não sei dizer que não a quem precisa. Adoro chegar a casa, tomar um banho, deitar-me no sofá com a televisão ligada e ficar ali a dormitar. Outras vezes ponho uma musiquinha. Gosto de música clássica. Quando fazia bancos de noite chegava a casa pelas 11h00 ou 12h00, deitava-me com música clássica, dormia e ganhava uma boa energia para voltar à noite. Gosto de jogar futebol e ténis e de dar um mergulho na piscina. Apesar de não ser muito de viajar gosto ocasionalmente de sair, de preferência para um país europeu ou desenvolvido. Sou uma pessoa que gosta de ter uma vida recatada. À noite, por exemplo, prefiro ficar em casa a ver um filme do que ir para um bar. E quando vou para um bar com os amigos quando chega às duas da manhã já sinto os olhos a fechar.Já chorei por causa de um paciente. Há coisas que vivenciamos, tentamos afastar-nos mas não conseguimos. Há pessoas, por exemplo, com cancro do pulmão, que nunca fumaram, nunca fizeram nada para sofrerem dessa doença. Isso deixa-nos mal, não conseguimos evitar. Tentamos ver as coisas com distância mas quando damos por nós estamos a viver as coisas com a família e com o doente. Trocamos umas impressões sobre a vida e isso é complicado. Quando era mais novo gostava de fazer urgências e estava sempre desejoso de ir para aquilo a que chamávamos "a guerra". Hoje em dia tento fugir disso (risos). Mas vou ser sempre um apaixonado pela medicina. A saúde está a começar a melhorar em Portugal. Depois do 25 de Abril a saúde ficou de rastos mas está a melhorar. Os jovens médicos têm muita qualidade mas temos de criar condições para eles. O futuro vai ser risonho, mas isso é tudo muito caro e não sei se o país conseguirá suportar os custos.Filipe Matias
“Não sou capaz de recusar um doente que precise de mim"

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