
Monopólio no sector condiciona aumento dos preços na venda da cortiça
Produtores e intermediários são obrigados a sujeitarem-se aos preços que os grandes compradores oferecem
Junta de Freguesia de Santana do Mato, concelho de Coruche, promoveu a primeira Feira da Cortiça, Lenha e Carvão. O objectivo é mostrar o que mais se produz nessa freguesia ribatejana.
O negócio da cortiça já foi muito rentável mas agora já não é tanto porque as margens de lucro são mínimas. O facto do principal comprador ser a Corticeira Amorim, que domina quase por completo o sector da cortiça, faz com que os produtores e vendedores de cortiça se vejam “obrigados” a sujeitar aos preços que eles estipulam. José Manuel Cachola, 46 anos, é natural de Santana do Mato, concelho de Coruche, e trabalha há mais de duas décadas no ramo. Diz que os preços aumentam em tudo e os produtores não conseguem aumentar o preço de venda da matéria-prima. O seu único comprador é a Corticeira Amorim, o que o torna dependente dos preços que o empresário quer praticar. A única vantagem é que nunca tem que se preocupar com o escoamento do produto.O corticeiro defende a criação de uma Associação de Produtores de Cortiça para que todos pudessem ganhar mais dinheiro com o negócio. “O problema é que não existe união neste ramo. Todos tentam puxar ‘a brasa à sua sardinha’ e fazem preços mais baixos para conseguirem vender mais. Com uma associação não havia concorrência desleal, vendíamos mais e recebíamos mais também”, explica. O preço da cortiça depende da qualidade. A chamada cortiça amadia, de melhor qualidade, está a vender-se a 15 euros o quilo, enquanto que a cortiça falca vende-se a dois euros o quilo.Para dar a conhecer as potencialidades da freguesia de Santana do Mato, a junta de freguesia organizou no passado fim-de-semana a primeira edição da Feira da Cortiça, Lena e Carvão. O objectivo é mostrar o que se produz nesta freguesia ribatejana. “Esta é a freguesia com maior produção de cortiça, lenha e carvão e temos apenas dois ou três por cento de desemprego. Se Coruche é considerada a Capital Mundial da Cortiça faz todo o sentido Santana do Mato dar a conhecer os seus produtores. Esta é a principal indústria da freguesia”, explica o presidente da Junta de Freguesia de Santana do Mato, Valter Barroso.O autarca lamenta que os produtores e vendedores de cortiça, lenha e carvão não estejam muito sensibilizados para a importância da divulgação destes produtos. “Como têm os seus clientes fixos e conseguem escoar o produto não se preocupam com a importância de divulgar aquilo que temos de melhor e que pode ajudar a fazer crescer ainda mais a nossa freguesia”, alerta Valter Barroso. A intenção da autarquia é acabar com as tasquinhas que normalmente se realizam em Junho e integrá-las nesta feira já no próximo ano.Joaquim Gafaniz, 51 anos, trabalha por conta própria há 15 anos mas sempre ajudou o pai que também trabalhava neste ramo. Considera que este é um negócio em expansão mas hoje vende-se ligeiramente menos porque existem menos sobreiros. “As árvores estão a secar muito e as plantações novas demoram entre 20 a 30 anos até estarem prontas para dar cortiça”, explica. Oitenta por cento do seu negócio é vendido à Corticeira Amorim. Por um lado é bom, porque tem sempre comprador, mas por outro prejudica na hora de vender porque não pode “puxar” muito pelo preço. “Tenho que me sujeitar aos preços deles, embora eles façam descontos consoante a quantidade de cortiça que conseguimos arranjar”, diz.A mesma opinião tem António Neves, 57 anos, produtor há mais de 20 anos. O negócio corre bem, mas o facto de haver poucos compradores faz com que não possam aumentar o preço de venda. A notícia dos roubos de cortiça - que O MIRANTE denunciou há três semanas (ver edição 21.Agosto.2014) - não espanta os vendedores de cortiça. No concelho de Coruche é habitual ver restos de cortiça espalhados no meio da estrada, sinal de que os ladrões andaram a tirá-la. “O problema de se retirar cortiça antes do tempo é que esta ainda não está boa para ser utilizada. Não prejudica os sobreiros mas não está no ponto para ser vendida”, explica António Neves.

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