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Garrido Manuel Serra d’Aire

A peregrina licenciatura em Redes Sociais, criada pela Escola Superior de Gestão de Santarém, não conseguiu acolher a preferência de um candidato que fosse e a direcção do estabelecimento de ensino decidiu não abrir esse curso este ano lectivo. Confirmou-se aquilo que eu já tinha vaticinado: se há área onde os portugueses, nomeadamente os jovens em idade de frequentar o ensino superior, já estão mais do que doutorados é precisamente em redes sociais, chamem-se elas Facebook, Twitter ou outra qualquer. A dedicação ao estudo é tanta que passam os dias agarrados aos telemóveis, aos tablets e aos computadores em autênticas sessões contínuas de marranço, por vezes mesmo no horário de trabalho. Nunca se viu tal afinco em busca do conhecimento por estas bandas, pelo que não deixa de ser insólito que um grupo de iluminados tenha tido a pretensão de lhes querer ministrar ensinamentos nessa área. Seria a mesma coisa, passe a comparação, que eu ter a ambição de ensinar o Pai Nosso ao bispo de Santarém.Há realmente características nos portugueses muito difíceis de entender (quanto aos outros povos não sei, pois não sou tão viajado nem tão rico em conhecimentos como o Mário Soares ou o Miguel Relvas). Uma delas é a de sermos um povo que deita o lixo em qualquer lado, que adora levar o cachorrinho a revestir os passeios com a sua trampa e que depois se queixa como um desalmado que as ruas estão todas sujas, que a câmara ou a junta não fazem nada, que os varredores são uns calões e que este país é uma esterqueira. Cá, por exemplo, não há o risco de um deputado ser metido num contentor do lixo, como aconteceu recentemente na Ucrânia, pois jamais alguém sujaria as mãos para abrir o recipiente.Ainda há pouco, numa assembleia de freguesia em Alverca, um morador contava que uma vizinha punha o “lulu” a defecar num determinado jardim da cidade porque no espaço não havia qualquer aviso a proibir tal javardice. Se eu fosse esse tal cidadão que se queixou, iria um dia destes aliviar a bexiga à porta da casa da tal senhora, apresentando precisamente os mesmos argumentos. Podia ser que resultasse. Dois vereadores da Câmara de Vila Franca de Xira, o social-democrata Rui Rei e o comunista Paulo Rodrigues, desentenderam-se no final de uma reunião de câmara e por pouco não chegaram a vias de facto. Pouca gente presenciou a altercação e, para pena minha, nenhum catedrático das redes sociais fotografou ou filmou a cena. Devo dizer que não sou propriamente um apreciador de regimes musculados, mas pelo-me por ver aquelas cenas de pancadaria que por vezes acontecem nos parlamentos da Ucrânia ou da Tailândia, por exemplo. Acho que os nossos políticos deviam seguir essa linha de conduta para não continuarem a ser conhecidos apenas pela sua retórica e pelo seu discurso gongórico. Em Alpiarça, por exemplo, as assembleias municipais entram pela madrugada dentro e chegam a durar sete e oito horas. Gasta-se mais latim numa sessão da assembleia do que no Vaticano durante um dia. Antes resolviam-se as ofensas à bengalada e lavava-se a honra em duelo. Agora, despejam-se toneladas de palavras para cima dos adversários, tentando soterrá-los com verborreia. Passem lá das palavras aos actos, que a malta agradece.Um abraço encorajador do Serafim das Neves

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