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Biblioteca do poeta Francisco Henriques está há 10 anos em caixotes

Biblioteca do poeta Francisco Henriques está há 10 anos em caixotes

Herdeiros do escritor natural de Almeirim querem vender os quase seis mil livros e afastam ideia de qulaque doação
O espólio bibliográfico do poeta de Almeirim, Francisco Henriques, já falecido, está há dez anos em caixotes guardados nas instalações de uma casa agrícola do concelho e muito provavelmente nunca vai poder ser visto pela população. Os filhos do poeta, que faleceu em 24 de Maio de 2002, aos 84 anos, colocam totalmente de parte doar a biblioteca ou qualquer livro à câmara ou entidades públicas. Vítor e José Henriques nem mesmo para um futuro museu ou espaço dedicado ao pai pretendem ceder qualquer obra literária que este foi adquirindo ao longo da vida. Vítor Henriques confirma que o espólio foi colocado em caixas dois anos após a morte do pai mas garante que os livros, alguns bastante valiosos, estão bem conservados e livres de humidades e parasitas. Ao todo são cerca de 5.900 livros da biblioteca pessoal do poeta que estão catalogados, existindo exemplares raros e alguns com mais de 200 anos. A intenção do descendente e do irmão é venderem a colecção na totalidade ou em lotes. Há também a possibilidade, refere José Henriques, de dividirem a colecção entre os dois. O espólio foi avaliado em cerca de 300 mil euros, segundo revela Vítor Henriques, que diz não compreender quem possa pensar na possibilidade de algumas obras ou a totalidade serem doadas. “Os herdeiros não são ricos para oferecerem obras neste valor. O meu pai deixou-nos as obras e foi a única coisa que herdámos. As suas grandes paixões eram os livros e a família e ao deixar-nos os livros foi com a intenção de deixar a família em melhores condições”, realça. O irmão José Henriques reforça que em vida o pai nunca manifestou a intenção de ter um museu ou de doar as obras. Segundo Vítor, o espólio bibliográfico demorou dois anos a catalogar. Refere ainda que as obras que mais diziam a ele e ao irmão já foram retiradas e estão na sua posse. O MIRANTE ouviu os filhos do poeta numa altura em que as únicas referências que existem na cidade de Francisco Henriques são um espaço na biblioteca com alguns prémios que este recebeu e um busto, que agora foi retirado para ser restaurado. A escultura foi vandalizada há algum tempo por desconhecidos. A Câmara de Almeirim decidiu agora investir no seu restauro que vai custar cerca de 1500 euros. Os jogos florais com o nome do poeta deixaram de se realizar e não há mais iniciativas que dêem a conhecer quem foi este homem com várias obras editadas. A memória de Francisco Henriques está presente no seu livro “Cântico à Minha Terra”, editado por O MIRANTE em 1999, e que já teve uma segunda edição. Fernando Veríssimo, amigo do poeta, reconhece que este tem estado esquecido nos últimos tempos e defende que devia ser criado um prémio literário com o seu nome junto das escolas, para que Francisco Henriques seja lembrado e conhecido pelas novas gerações. Francisco Henriques granjeou o respeito dos seus concidadãos e deixou também um rasto de admiração entre os seus homólogos. Alguns deles de países como o Brasil. Ao longo da sua vida, Francisco Henriques ganhou mais de duas centenas de jogos florais realizados pelo país. O poeta tinha um grande amor pela sua terra e explicava a vida em três palavras: “Amizade, solidão e saudade”. Disse várias vezes que os verdadeiros poetas não morrem. Francisco Henriques, que um dia confessou em entrevista a O MIRANTE que o seu Karma era o da pobreza, tinha também uma paixão pelo jogo das damas, tendo-se dedicado a estudar o jogo e as técnicas e a desenvolver esquemas de jogadas para outros resolverem.
Biblioteca do poeta Francisco Henriques está há 10 anos em caixotes

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