“Isto é melhor que ficar em casa agarrado à televisão”
Rivalidade futebolística entre União Vilafranquense e FC Alverca revivida no domingo
Dérbi no Cevadeiro terminou com a vitória da equipa da casa, que lidera o campeonato. Os vizinhos de Alverca andam longe dos seus tempos áureos. O MIRANTE relata o ambiente vivido nas bancadas e no bar, onde não houve mãos a medir. “Isto é melhor que ficar em casa feito estúpido agarrado à televisão”, sentenciava um adepto exultante com a vitória do União.
Vila Franca de Xira viveu no domingo a grande festa do futebol local. No campo do Cevadeiro defrontavam-se os tradicionais rivais do concelho, União Desportiva Vilafranquense e Futebol Clube de Alverca, em jogo a contar para o Campeonato Distrital do Pró-Nacional (1º escalão da Associação de Futebol de Lisboa). Ao União cabia a tarefa de manter a liderança na classificação e de proporcionar aos sócios uma vitória que correspondesse à expectativa dos adeptos. Por isso as bancadas do Cevadeiro estavam praticamente cheias à hora do início da partida e muito antes disso já a claque fazia a festa com os seus tambores e instrumentos musicais. Por ali se podia ver gente de todas as idades, homens, mulheres e crianças, muitos deles exibindo as cores do clube da casa em cachecóis e camisolas que se podiam adquirir num stand montado logo à entrada do campo e mesmo em frente ao local mais concorrido de todos: o bar, sempre cheio, antes, durante e depois do jogo. Na estrada era longa a fila de carros estacionados e nas bilheteiras vendiam-se os últimos ingressos para a partida, a um euro e meio para sócios reformados, 2,5 euros para sócios e 5 euros para os restantes.No camarote reservado à direcção destacava-se a presença de Rudolfo Frutuoso, o presidente da SAD do Vilafranquense. “Devem estar aqui umas 500 pessoas, mais ou menos”, estimou para a reportagem de O MIRANTE, admitindo estar a sentir algum nervosismo face à importância daquele encontro. “O Alverca é o nosso rival por tradição mas a nossa equipa está a atravessar um bom momento e acredito que vamos ganhar este jogo”, afirmou. O apito do árbitro deu início ao desafio e a animação nas bancadas dava lugar à observação atenta das performances de cada jogador, feita pelos olhos dos mais entendidos. “Aquele Valdinho é bom, pá!, quando está para aí virado ninguém o segura, mas tem outros dias em que é um atraso de vida”, diz António, sócio do União “desde sempre pá!” e um daqueles que segue o dia-a-dia do clube e conhece os jogadores de todas as camadas, em especial os mais jovens. “Temos para aí uns rapazes que vão ser grandes jogadores da bola pá, nós fazemos a formação e depois acabam nos outros clubes, ‘tá mal, pá”, lamenta, olhos postos na bola que agora chega perto da baliza do Alverca numa jogada interrompida pelo fiscal de linha que marca uma falta contra a equipa da casa, arrancando uma enorme assobiadela das bancadas e um grito de indignação de António, repleto de palavras irrepetíveis nesta reportagem. Duas filas atrás uma senhora coberta de tatuagens afina pelo mesmo diapasão e grita desalmadamente uma série de impropérios sobre a mãe do árbitro. No relvado o jogo seguia morno e sem grandes recortes de genialidade, apenas com um ou outro remate de longe à baliza do Alverca a pontuar o primeiro tempo que chegou ao intervalo sem golos. Os comentários eram pouco animadores por parte da claque do União, cujos membros declinaram falar para a reportagem de O MIRANTE, alegadamente para evitar a ideia de se tratarem de uma claque organizada. “Nós somos apenas um grupo de amigos que se junta para vir ao futebol apoiar a nossa equipa e beber uns copos, nada mais”, afirma um dos elementos mais destacados deste grupo que faz questão de sublinhar: “Nós recusamos essa ideia de violência que está normalmente associada às claques do futebol”. “Ninguém nasce em Alverca”Luís Carlos, outro sócio dos mais antigos do União, explica-nos esta rivalidade particular com o Alverca: “Essa rivalidade existe há muito tempo porque as pessoas aqui em Vila Franca tinham a ideia que o Alverca foi sempre um clube privilegiado, com mais apoios e com mais dinheiro por trás, enquanto o Vilafranquense era o clube dos pobres”, afirma. E recorda um pormenor importante na sua opinião: “Até o Luís Filipe Vieira foi presidente do Alverca, por isso já vê como eles eram privilegiados”, diz enquanto a claque vai cantando “ninguém nasce em Alverca”.Com a segunda parte a decorrer na mesma toada branda, os ânimos no bar iam aquecendo e não havia imperial nem sandes de courato que acalmassem a indignação dos presentes. “Estes gajos andam a dormir, é o que é! As noitadas é que dão este resultado”, alvitra um e logo outro contrapõe, mais derrotista: “Os gajos do Alverca é que estão a dormir senão já tínhamos levado com um golo ou dois”. E a discussão vai florindo regada a cerveja. Aos 65 minutos acontece finalmente o momento de viragem do jogo e as bancadas do Cevadeiro explodem de alegria com a marcação de um penalti a favor do União. Valdinho é chamado a cobrar, inaugurando o marcador e provocando uma onda de entusiasmo que se manteria até final do jogo quando, já em período de descontos, Brett faz o segundo golo do União e põe um ponto final nas aspirações do Alverca. Aos poucos as bancadas do Cevadeiro vão-se esvaziando e apenas o bar continua com casa cheia, cada vez mais. Sócios e simpatizantes fazem ali a última paragem antes de regressar a casa dando aparentemente por bem empregue o dinheiro do bilhete. “Isto é melhor que ficar em casa feito estúpido agarrado à televisão, pá”, desabafa António agora mais calmo e bem disposto com a vitória do seu clube: “E como o União ganhou, a esta hora a minha mulher já sabe: hoje temos festarola!”, faz questão de informar, para despedida.
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